Agência France-Presse
postado em 08/05/2019 17:10
Um frisson tomou conta do setor espacial desde que o homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, deixou escapar qual é seu mais novo projeto. Chamado Kuiper, trata-se de uma constelação de 3.236 satélites, instalados a 600 km de altitude, para levar internet de alta velocidade até os locais mais remotos da Terra.
Oferecer uma rede das redes a velocidade extremamente rápida até mesmo em desertos digitais também é o objetivo da empresa OneWeb, que começará a fabricar dois satélites por dia no verão na Flórida com a meta de ter uma constelação de 600 que estaria operacional em 2021.
A SpaceX, do magnata americano Elon Musk, também desenvolve um projeto similar: a constelação Starlink. A sociedade foi autorizada a colocar 12.000 satélites em diferentes altitudes.
Mas haveria espaço para três, quatro ou cinco operadores de Internet espacial?
Nas sessões públicas e nos corredores do grande salão internacional Satellite 2019, celebrado em Washington esta semana, profissionais do setor dizem temer que uma disputa cara demais. Sobretudo se Jeff Bezos, criador da Amazon, decidir liquidar a concorrência oferecendo preços muito baixos.
"Jeff Bezos é suficientemente rico" para fazer desaparecer seus concorrentes, disse à AFP Matt Desch, diretor-geral da Iridium Communications.
A Iridium já sentiu na pele o que é uma falência. Nos anos 1990, a empresa lançou um telefone via satélite, um "tijolo" que custava 3.000 dólares e 3 dólares o minuto de comunicações. Quase ninguém o comprou pouco antes do aparecimento dos celulares.
Depois de sua declaração de falência, a empresa foi relançada e este ano acabou de renovar o conjunto de sua constelação: 66 satélites que oferecen conectividade em todo o planeta para clientes institucionais como barcos, exércitos e empresas. Mas não em alta velocidade.
"O problema é que os satélites precisam de bilhões de dólares em investimentos. Se a gente não investe, gera um tipo de inverno nuclear para todo o setor durante dez anos. Foi o que aconteceu", explica Matt Desch.
"Desejo sucesso aos novatos", continua o empresário. "Espero que não levem trinta anos para consegui-lo, como aconteceu conosco".
;Streaming; a bordo
Dispor de Internet do espaço é útil sobretudo em áreas isoladas, pois nas cidades os usuários já contam com fibra óptica ou a cabo.
Em uma constelação, de qualquer parte do planeta, se pode apreciar um ou vários satélites no céu: uma única antena seria suficiente para receber diretamente o sinal da Internet em velocidade muito alta.
"É como uma antena de celular muito alta", simplifica Al Tadros, da Maxar, construtora de satélites.
Outra vantagem das constelações anunciadas é que vão voar a uma altitude relativamente baixa, o que reduzirá o tempo de resposta, tão crucial para a fluidez de conversas e jogos de videogame, por exemplo.
O problema das áreas isoladas é que não há tantos clientes rentáveis. Este foi o motivo pelo qual o OneWeb reduziu suas ambições iniciais e se concentrará no primeiro momento a oferecer Internet em aviões (será possível ver filmes em streaming em um voo transatlântico, por exemplo) e em embarcações, onde a demanda é enorme.
"Para sobreviver nos primeiros anos é preciso apontar para que dá dinheiro, isto é, os setores marítimo e aéreo", diz o analista Shagun Sachdeva, da consultoria Northern Sky Research.
Quantos projetos de constelações vão morrer na praia? "Muitos", antecipa. "Quantos vão sobreviver? "Talvez dois", prevê.
Segundo Sachdeva, a Internet no espaço não será algo generalizado até pelo menos cinco ou dez anos.
A Amazon está apenas dando os primeiros passos. Um dos obstáculos que tem pela frente tem a ver com os direitos do acesso ao espectro de frequências.
Michael Schwartz, da operadora Telesat, que prepara sua própria constelação para empresas, diz que "as pessoas não dão muita atenção à necessidade de obter direitos sobre o espectro".
Mas as vantagens comparativas da Amazon são evidentes. O grupo dispõe de uma formidável infraestrutura informática em terra, que poderá apoiar sua rede de satélites.
Bezos financia, por sua vez, sua própria empresa de foguetes, a Blue Origin, que poderá assumir, a um preço competitivo, as dezenas de lançamentos necessários para a constelação.
O diretor financeiro da OneWeb, Thomas Whayne, admitiu na segunda-feira em um painel as vantagens de seu concorrente: "se forem sérios, farão, e vão fazê-lo bem".