Estratégias
O representante da consultoria Gartner Claudio Chauke sugeriu que uma estratégia nacional começa com o mapeamento do que se quer com essa tecnologia. ;Precisamos definir os objetivos primeiro. Vamos identificar o que faz a diferença pra gente. E depois disso ver também casos em outros países;.
O diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS), Carlos Affonso Souza, deu exemplos de outras nações. A China decidiu investir pesadamente em pesquisa até 2020 com o objetivo de ser líder do mercado de IA até 2030. Os Estados Unidos destacam na sua estratégia a importância do investimento em pesquisa e a observância da diversidade, estimulando a presença de distintos gêneros e raças na pesquisa e desenvolvimento dessas soluções.
No Japão, a política nacional defende que a população deve se reduzir as resistências para o convívio com inovações, como com robôs que passam a realizar atividades na produção em situações diversas. Na França, a estratégia coloca claramente que não deseja criar um ;Google nacional;, mas ;entender em quais aplicações o país pode aproveitar a pesquisa acadêmica para se tornar referência;, explicou Souza.
Estratégia digital
O Brasil tem uma Estratégia Digital (E-digital), lançada em 2017, com diretrizes mais gerais para a transformação digital do país. No entanto, o Executivo ainda não formulou uma política específica para a pesquisa, desenvolvimento e uso de aplicações de inteligência artificial.
A representante do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) Miriam Wimmer pontuou que a Estratégia Digital do governo trata do tema de alguma forma, e coloca como ação necessária o estímulo à pesquisa, desenvolvimento e inovação, bem como a capacitação de profissionais de tecnologia em IA.
A diretriz também elenca como ação estratégica avaliar os potenciais impactos sociais e econômicos de tecnologias como a IA, propondo políticas que mitiguem seus efeitos negativos. Essa preocupação com os efeitos foi pontuada por todos os participantes.
;O desenvolvimento de sistemas autônomos enseja questionamentos sobre ética e direitos individuais relativos a revisões de decisões automatizadas [como a remoção de uma publicação no Facebook]. Entre os temas que aparecem com frequência estão transparência, determinação humana, ética, direitos do consumidor, privacidade, equidade, segurança;, citou Wimmer.
Importância das universidades
Para além do cuidado com os efeitos, os participantes reforçaram a importância de fortalecer a pesquisa e o desenvolvimento sobre o tema com apoio aos laboratórios e centros criados no âmbito das universidades. No Brasil como em outros países, a inteligência artificial é um campo de ponta de produção de conhecimento.
Luís Lamb destacou que muitas das principais empresas de tecnologia do mundo nasceram de acadêmicos (como o Google de dois estudantes da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos). No Brasil, acrescentou o secretário de inovação do RS, os maiores produtores de patentes são as instituições de ensino, e não as empresas.
O diretor da empresa de soluções em inteligência artificial Kunumi, Juliano Viana, é um exemplo da contribuição das instituições de ensino para o desenvolvimento tecnológico. Sua companhia saiu de um laboratório da UFMG. Para ele, o estímulo a um ecossistema de IA no Brasil passa por formar profissionais, fomentar o empreendedorismo e promover a interação entre a academia e as firmas. ;É essencial fortalecer ecossistema de colaboração entre universidade e mercado;, defendeu.