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''A mensagem de Portinari nunca esteve tão atual'', diz filho do artista

O conjunto de Portinari é, nas palavras do herdeiro, uma ''grande carta ao povo brasileiro e a humanidade em geral: uma mensagem ética e humanista''

Ana Carolina Fonseca - Enviada especial
postado em 06/06/2019 08:14
João Cândido sendo entrevistado por Rafael Correa, chefe de comunicação do Google Brasil
São Paulo ; João Cândido Portinari pode não ter herdado do pai o dom para a pintura ; até admite não ser historiador ou crítico de arte ; mas leva a sério a responsabilidade de manter viva a obra do artista plástico que mostrou Brodowski (SP) ao mundo. Em entrevista ao Correio, durante evento na Pinacoteca de São Paulo, João disse ainda acreditar na força da mensagem do pai: "O partido que ele tomou em favor do pobre, do humilde, do desatendido, do desfavorecido, hoje é mais importante do que nunca. A luta dele permanente, que culmina nos painéis Guerra e Paz, é pela justiça social, pelo não preconceito, pelo respeito ao ser humano. Isso está em toda a obra dele", defende.

O conjunto de Portinari é, nas palavras do herdeiro, uma "grande carta ao povo brasileiro e a humanidade em geral: uma mensagem ética e humanista". Para ele, um empecilho à disseminação da mensagem é o fato de 95% da obra estar em acervos particulares. "É paradoxal, o povo não tem acesso ao pintor que pintou para o povo", argumenta João, mas espera corrigir essa dificuldade a partir de agora.

O fundador e diretor-geral do Projeto Portinari esteve na Pinacoteca, na noite de quarta-feira (5/6), para o lançamento da coleção virtual Portinari: o pintor do povo, que conta com acervo de mais de 5 mil obras, muitas inéditas, além de 15 mil cartas e documentos do arquivo pessoal do artista. As 20 exposições virtuais são gratuitas. Acesse. O conteúdo também pode ser acessado no aplicativo Google Arts & Cultura, disponível para iOS e Android.

Dentre as obras capturadas e digitalizadas, dez receberam a tecnologia da Art Camera, uma câmera de altíssima resolução. Cada pedaço dos quadros e painéis foi fotografado separadamente e unidos em um computador especializado. Assim, é possível aproximar a imagem dezenas se vezes e apreciar detalhes da arte, como as pinceladas de Portinari. "Esta é uma ferramenta poderosa para curadores de arte e estudiosos: é possível ver na tela detalhes não vistos a olho nu", explica a representante global do Arts & Culture, Luisella Mazza.

Outra parte do Projeto inclui um tour virtual 360;, por meio do Google Street View, da casa de Portinari em Brodowski. A navegação mostra os espaços e a rotina do pintor, incluindo o local onde ele começou as experimentações na pintura de murais.

A ideia de reunir toda a obra de Portinari começou há 40 anos, época em que, como lembra João Cândido, nem existia escaneador de imagens. O projeto deu início a uma extensa busca em todo mundo e catalogou pinturas do artista em todos os cantos do mundo: Israel, Canadá, Checolosváquia... Trabalho "de formiguinha", garante. O resultado foi a reunião de todos os trabalhos do pintor, publicado em 2004.

Obras icônicas

Mestiço (1934) é uma das pinturas mais conhecidas de Portinari e está entre as digitalizadas em alta resolução. Valéria Piccoli, curadora chefe da Pinacoteca, conta que a pintura - chamada por ela de "uma das jóias da coroa da coleção" - chegou ao centro cultural apenas um ano depois de concluída e que foi comprada por indicação de Mário de Andrade.

Guerra e Paz (1953-1956), é claro, não poderia ficar de fora. Atualmente, os painéis estão expostos na sede da ONU, em Nova York. O filho do pintor relata que muitos brasileiros têm dificuldade de apreciar a obra, devido à segurança do espaço. O projeto conseguiu autorização especial para fotografar os painéis em alta resolução. Além disso, João Cândido adianta que a organização Internacional cederá as obras para exposição no Museu Palazzo Reale, em Milão, na Itália.

Portinari

A novidade é uma parceria do Projeto Portinari, da Pinacoteca, do Google Arts & Culture, o Museu Nacional de Belas Artes, o MASP, Museus Castro Maya e a Fundação Ela Klabin.

*A repórter viajou a convite do Google.

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