postado em 30/12/2019 06:00
No Brasil, o transporte é o maior emissor de CO2 do setor energético, responsável por 48% do lançamento de gases poluentes na atmosfera. A situação na Europa não é diferente: 30% do total de emissões vêm dos veículos, sendo que 72% desse percentual são provenientes das rodovias. Embora o uso de carros elétricos para translado pessoal possa ajudar a diminuir esse número, reduzir as emissões do transporte comercial ; como caminhões ou ônibus ; é um desafio muito maior.
Agora, os pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, encontraram uma solução inovadora: capturar CO2 diretamente no sistema de escape dos caminhões e liquefazê-lo em uma caixa no teto do veículo. O CO2 líquido é, então, levado a uma estação de serviço, onde é transformado em combustível convencional, usando energia renovável. O projeto é coordenado pelo grupo de Engenharia de Processos Industriais e Sistemas de Energia, liderado por François Maréchal, na Escola de Engenharia da EPFL. O conceito, patenteado, foi tema de um artigo publicado na revista Frontiers in Energy Research.
Os cientistas propõem combinar várias tecnologias desenvolvidas na EPFL para capturar CO2 e convertê-lo de gás a líquido, em um processo que recupera a maior parte da energia disponível a bordo, como o calor do motor. No estudo, eles usaram o exemplo de um caminhão de entrega.
Primeiro, os gases de combustão do veículo no tubo de escape são resfriados e a água é separada dos gases. O CO2 é isolado dos outros gases (nitrogênio e oxigênio) com um sistema de adsorção por oscilação de temperatura. Adsorção é a adesão de moléculas de um fluido a uma superfície sólida. Para isso, foram usados adsorventes de estruturas orgânicas metálicas (MOFs), especialmente projetadas para absorver o CO2. Esses materiais estão sendo desenvolvidos pela equipe da Energypolis na EPFL Valais Wallis, liderada por Wendy Queen.
Depois que o material é saturado com CO2, é aquecido para que o CO2 puro possa ser extraído dele. Os turbocompressores de alta velocidade desenvolvidos pelo laboratório de Jürg Schiffmann no campus de Neuchâtel usam o calor do motor do veículo para comprimir o CO2 extraído e transformá-lo em líquido. Esse líquido, então, é armazenado em um tanque e pode ser convertido novamente em combustível convencional nas estações de serviço usando eletricidade renovável. ;O caminhão simplesmente deposita o líquido ao encher combustível;, diz Maréchal.
Biomassa
O processo ocorre dentro de uma cápsula de 2m x 0,9m x 1,2m, colocada acima da cabine do motorista. ;O peso da cápsula e do tanque é de apenas 7% da carga útil do veículo;, acrescenta Maréchal. ;O processo em si usa pouca energia, porque todas as suas etapas foram otimizadas.;Os cálculos dos pesquisadores mostram que um caminhão que usa 1kg de combustível convencional pode produzir 3kg de CO2 líquido, e que a conversão não envolve gasto de energia. Apenas 10% das emissões de CO2 não podem ser recicladas, e os pesquisadores propõem compensar isso usando biomassa.
O sistema poderia, teoricamente, funcionar com todos os caminhões, ônibus e até barcos, e com qualquer tipo de combustível. A vantagem desse sistema é que, diferentemente dos elétricos ou baseados em hidrogênio, ele pode ser adaptado aos veículos existentes para neutralizar seu impacto em termos de emissões de carbono.