Correio Braziliense
postado em 30/03/2020 06:00
Robôs ajudam idosos a não se esquecerem dos remédios, interagem com crianças que têm transtorno do espectro autista e desempenham tarefas domésticas, como aspirar pó. Na luta contra o Sars-CoV-2, há a possibilidade de eles terem um papel crucial, evitando a exposição humana ao vírus causador da Covid-19. De acordo com um grupo de cientistas da robótica, as máquinas podem prestar um papel valioso no atendimento clínico, como telemedicina e descontaminação; na logística, para entrega e manuseio de resíduos contaminados; e no monitoramento das quarentenas.Em um editorial publicado na revista Science Robotics, o grupo alega que robôs desempenham muitas dessas tarefas. “Já vimos robôs sendo implantados para desinfecção, fornecendo medicamentos e alimentos, medindo sinais vitais e auxiliando no controle de fronteiras”, escrevem os pesquisadores. Porém, os investimentos na área são insuficientes, sustentam. “As experiências com o surto de ebola (2015) identificaram um amplo espectro de casos de uso (de robôs), mas o financiamento para pesquisas multidisciplinares, em parceria com agências e indústria, para atender a esses casos permanece caro, raro e direcionado a outras aplicações. Sem uma abordagem sustentável da pesquisa, a história se repetirá e os robôs não estarão prontos para o próximo incidente.”
Em uma teleconferência de imprensa, os pesquisadores lembraram que alguns robôs estão sendo usados na pandemia de Covid-19. Hospitais tailandeses usam as máquinas para medir a temperatura e proteger a saúde dos funcionários da saúde. Eles foram concebidos originalmente para cuidar de paciente que sofreram acidente vascular cerebral (AVC), mas foi preciso fazer desvios de função. As máquinas são capazes de detectar temperatura, supervisionar a evolução dos sintomas e fazer contato do médico com o paciente por videoconferência. Já na Dinamarca os robôs usam a luz ultravioleta para desinfetar superfícies frequentemente tocadas.
“Por que estamos deixando que os funcionários da saúde, que trabalham na linha de frente, se exponham ao vírus?”, questiona o editor da Science Robotics, Guang-Zhong Yang, professor do Instituto de Robótica Médica na Universidade Shanghai Jiao Tong. “Os robôs existem para livrar as pessoas de alguns desses riscos”, diz. De acordo com ele, embora seja preciso investir muito mais na área para que as máquinas sejam capazes de operações mais complexas, muita da tecnologia necessária para substituir ao máximo o contato humano em pandemias está “relativamente madura”. “São tecnologias que têm sido usadas em logística e em muitas outras aplicações. Eu trabalho com robôs cirúrgicos. Então, já sabemos como operar um remotamente.”
Inteligência artificial
Howie Choset, pesquisador da Universidade Carnegie Mellon e coautor do editorial, afirma que a ideia do grupo de especialistas, ao escrever o texto, não foi apenas descrever as tarefas que os robôs poderiam executar em um cenário de pandemia. “Em vez disso, esperamos inspirar outras pessoas a conceber soluções para o que é um problema muito complicado”, explica. Choset enfatiza que, como os robôs, a inteligência artificial (IA) pode ajudar a responder a epidemias e pandemias. Pesquisadores da Carnegie Mellon, por exemplo, estão realizando pesquisas para ajuda humanitária e resposta a desastres. Para essa tarefa, eles desenvolveram uma combinação de tecnologias de IA e robótica, como drones.
Saiba Mais
Por meio do Kaggle, uma comunidade de aprendizado autômato e dados científicos de propriedade do Google, essas ferramentas estarão disponíveis para pesquisadores em todo o mundo. “É difícil para as pessoas revisarem manualmente mais de 20 mil artigos e resumirem suas descobertas”, disse Anthony Goldbloom, CEO da Kaggle, à agência France-Presse (AFP). “Os recentes avanços tecnológicos podem ajudar nisso. Estamos disponibilizando versões legíveis por máquina desses artigos à nossa comunidade de mais de 4 milhões de cientistas de dados. Esperamos que a inteligência artificial possa ser usada para ajudar a encontrar respostas para perguntas-chave sobre a Covid-19”, assegurou.
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