Vilhena Soares
postado em 06/04/2020 06:00

As soluções foram criadas por engenheiros da Universidade Binghamton. A primeira teve como foco uma das necessidades mais urgentes no tratamento de pacientes com Covid-19: os respiradores artificiais. A proposta é, por meio de um adaptador, conectar vários pacientes a um ventilador. Essas peças são impressas em 3D. Os cientistas explicam que não é um cenário ideal, mas pode funcionar temporariamente caso haja um grande fluxo de pessoas necessitando de cuidados críticos.
;Quando verificamos os vídeos do YouTube sobre esses adaptadores, percebemos que outros cientistas tiveram a ideia, mas não chegaram ao design;, conta Jia Deng, professora-assistente no Departamento de Ciência de Sistemas e Engenharia Industrial da universidade americana e uma das criadoras da tecnologia. ;Tivemos que gastar muito tempo para projetar e refinar o design, o modificando e testando;, detalha.
Os adaptadores são feitos de polidimetilsiloxano (PDMS), um polímero orgânico amplamente utilizado, não tóxico e não inflamável. Os pesquisadores testaram vários combinações, fazendo com que de duas a seis pessoas usassem o mesmo ventilador. O resultado mais promissor envolveu quatro pacientes. A Universidade de Binghamton vai imprimir dezenas de adaptadores para os hospitais da região, e o projeto ficará disponível on-line para que possa ser usado por profissionais de outros lugares. ;Se esses projetos forem bem durante todo este período e responderem às necessidades dos profissionais de saúde, será um benefício estadual, nacional ou mesmo mundial que carregaremos para o futuro;, diz Jia Deng.
Deng e sua equipe também decidiram melhorar o design das máscaras faciais reutilizáveis no estilo N95, usadas pelos profissionais de saúde. As peças tradicionais têm dois tipos de plástico: um mais macio, para criar uma vedação firme ao redor do nariz e da boca, e outro mais rígido, para reter filtros de ar particulado de alta eficiência. O principal desafio desse projeto foi unir os dois materiais em uma unidade coesa. ;Precisamos gerar um bom selo, que precisa se ajustar corretamente à face. Também temos que pensar no filtro para garantir que a função seja semelhante às máscaras do N95. Então, será possível trocar o filtro e reutilizar a máscara;, detalha a pesquisadora.
Esterilização
Outra tecnologia proposta é a luz ultravioleta (UV), que poderá ser usada para esterilizar máscaras N95, roupas, protetores faciais e equipamentos contaminados pelo vírus da Covid-19. Os pesquisadores usaram dados de um estudo anterior que indicava que a capacidade da UV para matar vírus. Por meio de um modelo computacional, eles construíram, com base nos dados do novo coronavírus, uma formatação ideal para o uso da luz. Os testes iniciais tiveram o resultado esperado.
;Analisamos os dados sobre o vírus da Sars e outros coronavírus muito semelhantes e os colocamos no modelo computacional para estabelecer a dosagem necessária para matar o vírus em uma superfície e na camada do filtro, que é um componente importante das máscaras N95;, conta Kaiming Ye, também professor da universidade americana e um dos criadores do projeto, que também foi disponibilizado para uso coletivo.
[SAIBAMAIS]Murilo Izidoro, químico e pesquisador em biomateriais na Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo, destaca que os projetos têm sido uma tendência de pesquisa na área devido às necessidades que surgiram com a pandemia. ;Especialistas que trabalham com impressão 3D têm se dedicado a desenvolver esses recursos. Aqui no Brasil, também já vemos muitos pesquisadores lutando para gerar essa produção de forma rápida e eficiente, a tempo de ajudar os hospitais;, afirma.
Para o especialista brasileiro, a impressão 3D é uma das melhores alternativas a serem usadas no desenvolvimento de materiais médicos necessários na crise atual. ;Essa é uma técnica que é mais usada nas indústrias, mas já foi explorada na área médica. Eu trabalho com a produção de implantes, por exemplo. Agora, vemos o quanto ela realmente pode ajudar os hospitais, pois produz, de forma personalizada e rápida, pontos extremamente necessários neste momento em que vivemos.;