postado em 22/12/2010 08:00
Conhecida como a cidade das 100 cúpulas, Praga é um dos principais centros históricos da Europa. Os tchecos gostam de enfatizar que são geograficamente incrustados no centro do continente, não no leste, como se pensa. Desse lugar privilegiado no território europeu, o país antecipou a reforma protestante, adiantou a remodelação do comunismo e tornou-se o centro industrial responsável por abastecer boa parte da cortina de ferro.Hoje, democratizado e governado por uma coalizão de liberais e sociais-democratas, tem na capital abrigo para 1,2 milhão de habitantes. Ao mesmo tempo, a cidade recebe 7 milhões de turistas por ano. Ou seja, sozinha, é anfitriã para um público maior do que o recebido pelo Brasil inteiro (foram 4,8 milhões de turistas entre janeiro e dezembro, segundo o governo).
Vê-se pelas ruas, portanto, um ir e vir frenético e constante de alemães, austríacos, russos, polacos, ingleses, japoneses, sul-coreanos. O sítio histórico é baldeado pelo Rio Vltava, o que transforma o lugar numa Babel de etnias e idiomas, como nos arredores da Torre Eiffel, em Paris.
As vias do centro histórico, asfaltadas com paralelepípedos, abrigam casarões de arquitetura renascentista de um lado a outro, e são permeadas de lojinhas de souvenirs, cafés e restaurantes.
À margem esquerda do Vltava, impera sobre os demais bairros o Castelo de Carlos, conjunto de construções que se espalha por uma área de 70 mil metros quadrados no ponto mais alto da cidade. De lá, é claro, reinou Carlos IV, considerado o grande monarca tcheco (ele fundou a Universidade de Praga, a primeira da Europa central, construiu castelos pelo país e urbanizou a capital). E o turista pode observar o porquê das 100 cúpulas no apelido ; a vista da cidade se espalhando morro abaixo remete o observador aos contos de fadas. Além dos palácios e de um jardim espetacular, o lugar contém a gótica catedral de São Vito.
No pátio de entrada do castelo, os turistas costumam parar e assistir à troca da guarda. Uma pequena banda também se apresentava ao ar livre, do lado de fora, quando a reportagem do Correio esteve no local. O repertório variou de Mozart aos Beatles. Afora a gorjeta dos músicos, não se cobrou um centavo pela visita às instalações do castelo ou ao templo.
No caminho do aeroporto até os hotéis, que se aglomeram perto ou dentro da zona turística, é possível ver quarteirões enfileirados de pequenos prédios parecidos com caixotes. É onde moram as famílias tchecas. O cenário em tudo se parece às quadras 400 em Brasília ; não por coincidência, ambas projetadas por comunistas. Mas, em Praga, quase tudo o que há para ver ; inclusive as muitas baladas procuradas por estudantes da Europa inteira ; está nos cinco bairros do centro histórico. (UB)
País da cerveja
Embora não seja famosa pela gastronomia, a República Tcheca tem excelente reputação no que diz respeito à cerveja. A palavra pilsen, que no Brasil designa um segmento mais fino do ramo, é originalmente uma cidade tcheca, Plzen, sede da cervejaria que produz a Pilsner Urquell, marca nacional, uma espécie de Brahma. Há mais de 150 marcas no país. A maioria está disponível nos mercados regionais. Em geral, a bebida é encorpada e tem assento mais amargo do que a fabricada no Brasil. Também tem preços menores do que os cobrados aqui. Em alguns bares de Praga, copos de um litro eram vendidos a 30 coroas (R$ 3).
Derrocada socialista
Sob a liderança do presidente Alexander Dubcek, o governo inicia em 5 de janeiro de 1968 um movimento para conceder liberdade de expressão aos indivíduos ; inclusive mediante o fim do monopartidarismo ; e maior abertura econômica ao país, então unido à hoje vizinha Eslováquia, no que se chamou de dar ;uma face humana ao socialismo;. A União Soviética ordenou, então, a contraofensiva com tropas do Pacto de Varsóvia. Praga amanheceu sob marcha de tanques russos e poloneses no dia 21 de agosto. Dubcek acabou preso. O governo foi deposto. Dezessete anos depois, em 1985, Mikhail Gorbachev iniciou na Rússia a perestroika, o movimento reformista que desfez a União Soviética, a cortina de ferro e o próprio comunismo.
Choque de poderes
Por volta de 1400, sob influência do educador Jan Hus, professor da Universidade de Carlos (ou Universidade de Praga, fundada em 1348, primeira universidade da Europa central), toma corpo um movimento para reformar as práticas da Igreja Católica. O grupo entra em choque contra o Sacro Império Romano Germânico, que governava a Boêmia (hoje a província central da República Tcheca), e inicia as Guerras Hussitas, entre 1420 e 1434. Mais de 100 anos depois, o protestantismo explodiu na França e na Alemanha pelas mãos de João Calvino e Martinho Lutero.