Turismo

Não se pode conhecer o país sem beber a cerveja Presidente ou a mamajuana

postado em 05/01/2011 08:00
Acima, loja com diversas marcas de rum e mamajuanaLeonel Fernández cumpre seu terceiro mandato como presidente da República Dominicana. Embora bom de voto, não tem o mesmo apelo popular de uma velha amiga dos dominicanos: a cerveja Presidente, orgulho de um país que tem fama de produzir boas bebidas, como o rum, e de ter grandes degustadores. Com tantas praias e tamanho sol e calor, nada mais natural.

Entretanto, a unanimidade da Presidente começa a ser ameaçada pela primeira vez desde que a fábrica foi inaugurada, em maio de 1935. A Ambev entrou pesado no país, com cervejas e refrigerantes, e balançou a convicção nacionalista dos dominicanos, com preços baixos, promoções e ótima distribuição. A Presidente em lata custa perto de US$ 3,50 nos restaurantes e menos de US$ 1 nos bares, valores que a multinacional procura superar com a recém-lançada Brahma.

A tarefa da concorrente, porém, não será fácil. A cerveja nacional, uma pilsen com cinco graus de teor alcoólico, de sabor marcante, tem tradição, história e até lenda. Lançada em plena ditadura de Rafael Leonidas Trujillo, que governou o país com mão de ferro de 1930 a 1961, ela por muito pouco não foi batizada com o nome do tirano.

Reza a lenda que o dono da cervejaria foi pedir autorização ao presidente para abrir a fábrica. Trujillo concordou, desde que a cerveja levasse seu nome. Para quem mudou Santo Domingo para Ciudad Trujillo, um pedido absolutamente normal. E o ;Calígula do Caribe; ; um dos muitos apelidos que recebeu de seus críticos ; não estava acostumado a ser desobedecido.

Sem querer desagradar o ditador, mas horrorizado com a possibilidade de sua cerveja se chamar Trujillo, o empresário encontrou uma saída perfeita. Convenceu o governante de que Presidente seria um nome mais adequado e elegante, para sempre ligado à figura do político.

O site oficial da cervejaria (www.cervejapresidente.do), no entanto, ignora essa versão. Diz simplesmente que o então presidente Trujillo deu permissão para que se desse esse nome à cerveja, escolhido ;em honra ao ditador;.

Doçura
Se a cerveja é sucesso nacional, o rum não fica atrás. Barbados e Jamaica são fortes concorrentes, com produtos de alta qualidade, mas o dominicano não fica nada a dever. Envelhecido em barris de carvalho americano, ganha em doçura e sabor, qualidades que o diferenciam dos rivais.

Três marcas dominam o mercado local: Barceló, Brugal e Bermudez. O primeiro é mais caro e sofisticado; o segundo, popular, com uma produção de 1,5 milhão de litros em Puerto Plata; o último é o precursor dos demais, fabricado desde 1852, na capital.

A produção anual na ilha chega a 4 milhões de caixas, a maioria do rum branco, próprio para drinques, como piña colada, daiquiri, mojito e até a caipiríssima, em que a nossa cachaça é substituída pelo rum. O añejo, ou envelhecido, de cor amarela escura, produzido em menor escala, é bebido como aperitivo. Uma garrafa de Brugal branco, de 700ml, sai por volta dos US$ 5, enquanto o añejo da Barceló, de 350ml, fica na faixa dos US$ 8.

Os dominicanos também adoram alardear as qualidades de sua bebida nacional. Se rum tem em todo o Caribe, mamajuana só existe por lá. A bebida é, na verdade, uma infusão de raízes, ervas, folhas e especiarias, curadas em rum, vinho e mel. No início, foi utilizada para fins medicinais, mas o sabor agradável e suas supostas propriedades afrodisíacas ; garantem os locais que é o Viagra dominicano ;transformaram-na em aperitivo e num chamariz para os turistas que gostam de novidades exóticas. (GS)

El chivo
Outra alcunha famosa para o ex-presidente dominicano foi chivo (em português, o macho da cabra), usado pelo recém-vencedor do Nobel de literatura, Mario Vargas Llosa, no título do romance A festa do bode.

Aficionados por charutos
Maior produtora mundial de tabaco, a República Dominicana faz charutos mais suaves que os cubanos e reconhecidos internacionalmente. A fertilidade do solo e os cuidados no cultivo foram importantes para a aquisição desse prestígio, mas fundamental foi mesmo a chegada da grande maioria dos fabricantes cubanos à ilha, na década de 1990.

A produção e a exportação de charutos e cigarros quintuplicaram, gerando o que ficou conhecido como el boom, movimento que levou o país à condição de número um do setor no mundo. O melhor exemplo é a famosa Casa Davidoff, que, em 1990, fechou suas instalações em Cuba e levou sua produção para Santiago ; a segunda maior cidade do país, na região centro-norte da ilha ;, onde também fica a maioria das plantações de tabaco.

Outros grandes fabricantes que se mudaram para o país foram Don Diego, Macanudo, Partagás, H. Upmann, Montecristo e Te-Amo, consolidando a fama de excelente produtora da ilha. Para ter uma ideia da qualidade do charuto dominicano, o Gran Toro, da Casa Magna, foi eleito em 2008 o melhor do mundo pela revista americana Cigar Aficionado.

Para experimentar marcas como León Jiménez, Cojimar, Montecristo, Romeo y Julieta, Caobas e Cohibas, as mais famosas, nada como uma visita a uma das muitas fábricas da capital. No Parque Colón, em frente à Catedral Primada e parte obrigatória do roteiro pela cidade colonial, fica a mais conhecida delas, a Boutique del Fumador, onde se pode adquirir produtos artesanais, que variam de US$ 1 a US$ 100, e se apreciar in loco o trabalho do tabaqueiro, que chega a confeccionar 200 unidades por dia.

A produção de charutos movimenta cerca de US$ 400 milhões ao ano e garante emprego a quase 100 mil trabalhadores, 80% deles haitianos. No último ano, os dominicanos chegaram a exportar 250 milhões dos chamados puros. (GS)

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