postado em 27/07/2011 14:01
Um daiquiri no Floridita, um mojito na Bodeguita del Medio e uma tarde na Finca Vigia: o ritual obrigatório está bem definido para aqueles que vão a Cuba lembrar os 50 anos da morte do escritor americano Ernest Hemingway. Mas há mais do que os dois bares preferidos e a residência do Prêmio Nobel de Literatura de 1954: na cidade antiga de Havana, o hotel Ambos Mundos oferece sempre ao visitante o quarto onde Hemingway, morto em 2 de julho de 1961, passou os primeiros meses de sua permanência de 21 anos em Cuba, onde chegou em 1939.No centro do pequeno quarto de número 511, está a máquina de escrever e uma folha em branco. Sobre a mesa, os óculos do escritor e um lápis. No armário, uma roupa de pescador e uma jaqueta de toureiro. Em cima da cama, livros e revistas da época. ;Os americanos o conhecem pelos livros, mas em Cuba há uma tradição oral sobre sua vida. Ele está vivo na paisagem cubana. Para entender isso, é preciso vir a Havana;, explica Jenny Phillips, neta do editor do escritor.
;Eu sou da localidade onde ele nasceu (Oak Park, próximo de Chicago) e é muito emocionante ir a esses lugares (em Cuba) onde Hemingway passou anos tão importantes de sua vida;, explicou Nancy Sindecar, especialista na vida do escritor, após um inevitável mojito na Bodeguita del Medio.
No bar próximo à catedral de Havana, Reinaldo Lima, ou Rey, com seus 26 anos de experiência, prepara o coquetel típico do país: limão, hortelã, açúcar, água com gás e rum. ;Os melhores de Cuba;, assegura.
;Hemingway passava dias inteiros bebendo seu mojito. É um símbolo da amizade entre nossos dois povos;, acrescenta o barman. Já o Floridita honra o escritor com uma estátua, inclinando-se no balcão onde um daiquiri especial foi dedicado a ele: sem açúcar, mas com dose dupla de rum. ;Meu daiquiri no Floridita, meu mojito na Bodeguita;, escreveu Hemingway, que morou a 30km de lá, em sua Finca Vigia, uma casa colonial a oeste de Havana. A Finca abriga hoje um pequeno museu sobre ele, com móveis, livros, troféus de caça, roupas etc. E, ainda, El Pilar, barco a bordo do qual pescava.
Amizade política
Não muito distante da Finca, a Marina Barlovento servia de ponto de partida para as navegações do romancista. Lá, em maio de 1960, ele conheceu o jovem Fidel Castro, que viria a tomar o poder em Cuba. Rebatizado Marina Hemingway, o porto serve hoje de centro para competições de pesca esportiva.
O romancista, fã de marlins, também está presente do outro lado de Havana: em Cojimar, pequeno porto de pesca onde vivia Gregorio Fuentes, inspirador do herói de O velho e o mar, que valeu a ele seu Prêmio Nobel.
Doente e sob pressão das autoridades americanas ; que viam com maus olhos a sua permanência em Cuba ;, Hemingway deixou a ilha em 25 de julho de 1960. ;Ele não morreu;, enfatiza Ada Rosa Alfonso, diretora da Finca. ;Em Cuba, ele está sempre vivo. Hemingway é imortal;, ela sorri.