Desembarcar em Berlim é como mergulhar em um livro de história. Cada avenida, monumento, estação ou ruína remete a acontecimentos que tiveram repercussão na vida de milhares de pessoas em todo o mundo. Repisar endereços onde decisões de guerra e paz foram tomadas, sentir a energia que ronda os memoriais e ouvir a versão das gerações que sobreviveram ao holocausto são subsídios para confrontar a versão dos vitoriosos à dos abatidos e corrigir lapsos de conhecimento.
Em Berlim, é muito comum encontrar o que os historiadores chamam de museus autênticos, construções que sediaram fatos históricos e hoje %u2014 abertos ao público %u2014 reúnem documentos, objetos, fotos e depoimentos. Tudo disponível para pesquisa. São lugares, muitas vezes, não tão turísticos, pois nem sempre ficam na parte mais central da cidade.
Um desses endereços é a Casa da Conferência de Wannsee, que fica no sudoeste de Berlim, praticamente na divisa da capital alemã com o distrito de Potsdam (leia no quadro como chegar lá).
Incrustada em um quieto bairro de classe média alta, a Casa da Conferência de Wannsee passará despercebida aos turistas que não forem advertidos sobre a existência do lugar. Aparentemente, é uma mansão como outra qualquer, mas quem atravessar os portões da residência terá acesso a referências inéditas sobre o período mais marcante da história alemã: o holocausto.
Na entrada da residência, um bucólico jardim recepciona os visitantes. Arbustos floridos são a morada de pássaros canoros. Ao fundo, há um lago de águas calmas. A atmosfera de sossego perde-se no interior da residência, à medida que a história da morte de 6 milhões de judeus é repassada em detalhes por meio de vídeos, arquivos de áudio, fotos e documentos originais.
Ceia fatídica
O primeiro ambiente da Casa de Wannsee é uma sala de jantar. Naquele cômodo, em 20 de janeiro de 1942, um grupo de 15 altos integrantes da SS (uma organização paramilitar ligada ao Partido Nazista) combinou, durante um jantar em que se serviu vinho e uísque, como se daria a deportação e o assassinato de milhares de judeus residentes na Alemanha.
Um mapa, posto em frente ao local onde cearam os nazistas, registra a aritmética posta a serviço do genocídio. São gráficos que informam a quantidade de judeus e o percentual deles em relação à população de países fronteiriços à Alemanha. Era o público-alvo da missão chefiada por Hitler. Em um dos quartos, fotos emudecem o ambiente, mesmo quando lotado. São retratos de judeus que cavaram a própria cova. Um pouco adiante, mais fotografias imortalizam o infortúnio de um grupo de mulheres pouco antes de serem mortas numa câmara de gás. O último aposento da casa onde os nazistas combinaram detalhes do genocídio reporta o testemunho de sobreviventes do massacre. É impossível não se emocionar.
A jornalista viajou a convite da Embaixada da Alemanha, pelo programa Seminário para Jovens Jornalistas Lusófonos
COMO IR
Casa da Conferência de Wannsee
Am Grossem Wannsee 56-58; ( 49) 308-050-010
www.ghwk.de/port/portugues.htm
Diariamente, das 10h às 18h. Fecha nos feriados. Entrada franca.
O jeito mais fácil de ir é usando o trem urbano, chamado de S-Bahn. Dependendo do local de partida, será preciso pegar uma das linhas de metrô para ter acesso a uma estação central (por exemplo, Friederichstrasse, Alexanderplatz ou Hauptbahnhof) por onde passam as linhas S75 e S1 de S-Bahn, que, na direção de Potsdam (S75) e de Wannsee (S1), vão levar à Casa de Wannsee. Ao descer do trem, ainda será necessário pegar um ônibus (linha 116) que para praticamente em frente ao lugar. Ao entrar no coletivo, pergunte ao motorista em qual parada deverá desembarcar. Em geral, eles são solícitos e falam inglês.
O que levar de recordação: há um livro que reproduz todo o acervo do museu. Custa 26 euros.