postado em 14/09/2011 10:43
Quando elevavam o pensamento a Deus, os nobres viam no teto da nave central, pintado por escravos sob a orientação dos franciscanos, santos com rostos de papas, cardeais e bispos. Eram os idos de 1589, menos de 100 anos transcorridos do Descobrimento do Brasil. Salto no tempo. Na sacristia da Ordem Primeira, os religiosos arrastavam as sandálias e um perfume tomava conta do ambiente. O atrito dos calçados com o chão liberava a essência de mirra contida no piso de cerâmica, tijolo e pedra calcária. Quando olhavam para cima, os padres viam também os santos, só que com feições africanas. A pintura é de 1740, e nessa época os escravos já eram mais livres para criar e imprimir suas marcas nas pinturas.
Essas e outras histórias o visitante aprende ao percorrer a Igreja de São Francisco, uma das maiores expressões do barroco brasileiro do século 18 e que demorou quase 200 anos para ser concluída (1589 a 1779). ;A maioria das pessoas chega a João Pessoa procurando praia e sol. Mas aqui há um rico roteiro histórico, cultural e religioso a ser desvendado;, diz o guia Raphael Fellipe Diniz Pimentel, de 20 anos, estudante de turismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Ele aponta os detalhes durante a visita guiada. Por exemplo, a da venda para a Marinha ; no início do século 20 ; de um altar inteirinho que havia sido atacado por cupins. Entre recuperá-lo e vendê-lo, o bispo dom Adauto ficou com a segunda opção. O dinheiro foi empregado nas despesas da enfermaria, que tinha sido aberta na clausura para atender os doentes da cólera.
A igreja fica no Centro Cultural São Francisco, que abriga ainda a rica Capela da Ordem Terceira e, na parte superior da construção, dois museus, de arte popular e sacra. A sala, com 36 imagens de santos em tamanho natural, impressiona.
Na terceira cidade mais antiga do Brasil, fundada em 1585, a Praça São Francisco é um dos principais pontos de tours a pé , que podem ser feitos pelo Centro Histórico, tombado como Patrimônio Cultural e Artístico pelo Iphan.
Ali, do barroco ao art déco, convivem exemplos de três séculos de estilo. Um exemplo dessa mistura, na Ladeira de São Francisco, é o Hotel O Globo, construído em 1928. Com linhas neoclássicas, art nouveau e art déco, foi o primeiro de alto padrão na cidade. Dos jardins, onde funciona um posto de informações turísticas, tem-se um belo pôr do sol, com vista para o Porto do Capim, à beira do Rio Sanhuá, onde nasceu João Pessoa. (MT)
No rumo
Para se localizar entre os prédios históricos e as igrejas, o visitante tem como apoio 72 placas direcionais e 90 interpretativas, que ajudam a entender detalhes como as datas da construção dos monumentos, os estilos arquitetônicos e o que se passava à época. Não deixe de visitar a Casa da Pólvora, o Casarão de Azulejos e a Fábrica de Vinho Tito Silva. Em uma tarde, dá para conhecer muita coisa e ainda dar uma volta no Parque Sólon de Lucena, uma belíssima área verde.