Shirley Pacelli
postado em 14/09/2011 10:47
Com cerca de 60% do patrimônio histórico nacional, as cidades mineiras abusam do cenário barroco para exercitar a vocação do turismo religioso. Agora, o estado ganhará mais um atrativo para quem quer conhecer a riqueza de suas manifestações sagradas. Trata-se do roteiro chamado Caminho Religioso da Estrada Real: de Padroeira a Padroeira. A via, com cerca de 600 quilômetros, ligará o templo da protetora de Minas ; Nossa Senhora da Piedade, na Serra da Piedade, em Caeté ; ao da santa mais querida do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP).O projeto é inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, que conecta a França à Espanha e atrai milhares de visitantes anualmente (em 2009, 145,8 mil peregrinos chegaram ao ponto final, na Galícia). ;O percurso do Caminho Religioso mostrará toda a beleza que Minas tem, não só o ouro das mineradoras, mas a riqueza da arte, da cultura e da fé do estado;, compara o padre Nédio Lacerda, reitor do Santuário Nossa Senhora da Piedade.
A primeira fase de estruturação do projeto já começou, com visitas de técnicos para verificar a infraestrutura das cidades (serão 86 municípios envolvidos, contra seis em São Paulo). Segundo Agostinho Patrus Filho, secretário de estado de Turismo, a previsão é de que em 2013 o caminho esteja totalmente implementado. ;Vamos utilizar grande parte dos trechos da Estrada Real, mas cerca de 3% deles são rodovias. Nosso trabalho será fazer uma rota alternativa para que as pessoas não andem de bicicleta e a cavalo nessas vias, por segurança;, explica o secretário.
O trajeto será demarcado para que o peregrino seja capaz de se orientar por meio da sinalização distribuída ao longo do percurso e usando guias ilustrados com mapas. A ideia é que ele receba um passaporte ; a ser carimbado em pontos preestabelecidos ; e, no fim da trajetória, ganhe um certificado de conclusão.
Segundo a Embratur, por ano, o Santuário de Aparecida recebe cerca de 10,3 milhões de pessoas. Já o Santuário da Serra da Piedade acolhe em ocasiões festivas aproximadamente 10 mil visitantes por dia. ;É importante mostrar uma nova opção para os turistas religiosos. Nada melhor do que uma caminhada em Minas, com suas belezas naturais, história, cultura e arte;, complementa Patrus.
Introspecção
O roteiro vai abranger diversas arquidioceses mineiras. Entre elas, a da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a de Mariana, a de São João del-Rei e a diocese de Campanha. Nessa última, existe uma estrada conhecida dos peregrinos da região: o Caminho de Nhá Chica, criado em homenagem a uma beata que viveu na localidade. O trajeto, com 33 quilômetros, surgiu há 12 anos e liga, no sul de Minas, as cidades de São Lourenço e Baependi, onde a religiosa faleceu. A cada 1; de maio ; data de nascimento de Nhá Chica ;, é realizada uma grande peregrinação, com cerca de 2,5 mil pessoas.
Um dos responsáveis pela idealização do caminho é o empresário João Vítor Gorgulho, de 56 anos, que pretendia incrementar o turismo religioso da cidade. ;A cultura religiosa é muito forte. Muitas pessoas fazem a peregrinação para pagar promessas, mas eu faço pelo prazer espiritual, pelo desafio. Andar deixa a gente mais introspectivo. Há ainda quem faça por preocupação com a saúde e para ter contato com a natureza;, conta.
Outra rota que passa por terras mineiras e paulistas é o Caminho da Fé. Com aproximadamente 497 quilômetros, liga Águas da Prata a Aparecida, ambas em São Paulo, passando pelas mineiras Ouro Fino, Inconfidentes e Andradas. Evaldo Negreiros de Paiva, da Trilhas D;Água, especializada em passeios ecológicos, faz o roteiro pelo menos quatro vezes por ano. Os grupos têm em média 15 pessoas e, dependendo do ritmo, são gastos até 20 dias. ;A maioria dos interessados são amantes da natureza, gostam de caminhadas e também querem fazer uma espécie de autoconhecimento;, descreve.
Evaldo aconselha a levar somente o essencial nas costas. ;O peso total da mochila nunca deve ser superior a 10% de seu peso;, indica. Entre os itens que devem fazer parte do kit do peregrino, estão objetos de higiene pessoal, boné e protetor solar, capa de chuva, mudas de roupas leves e casaco para o frio. Uma bota apropriada para trilhas também é importante.
Eu fui
;Fiz o Caminho da Fé em maio, mais por esporte. É um trajeto muito gostoso, numa região bonita. O que me leva a caminhar é estar em contato com a natureza. A prática é um desafio. Recomendo a trilha para qualquer pessoa que esteja em boas condições físicas. Na foto, estamos eu e meu amigo Francisco Bombassaro (D).;
Miguel Arcanjo de Oliveira, 71 anos, aposentado
SIGA POR AQUI!
Caminho da Luz (MG)
200km, de Tombos até Alto Caparaó
www.caminhodaluz.org.br
Nhá Chicá (MG)
33km, de São Lourenço a Baependi
www.nhachica.org.br
Caminho da Fé (SP)
497km, de Águas da Prata a Aparecida
www.caminhodafe.com.br
Passos de Anchieta (ES)
100km, de Anchieta a Vitória
www.abapa.org.br
Caminho das Missões (RS)
325 km, de São Borja a Santo Ângelo
www.caminhodasmissoes.com.br