Tão logo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou os números de irregularidades encontradas nos cruzeiros durante a temporada 2010/2011, os representantes do setor ficaram de orelha em pé. Segundo a autarquia, 30% das embarcações que chegaram ao Brasil entre outubro e abril apresentaram problemas relacionados ao controle da qualidade da água e ao armazenamento, ao preparo e à distribuição de alimentos.
[SAIBAMAIS]Do total de problemas encontrados, 44% dizem respeito à existência de materiais em desuso (caixas de papelão, produtos saneantes, vassouras e outros) na área de recebimento de alimentos. Em 26% dos casos, os alimentos não foram mantidos em condições de tempo e temperatura ideais enquanto estiveram expostos para consumo.
A Anvisa informou que o índice tem a ver com o aumento da fiscalização dos navios e com um regulamento rigoroso imposto por ela às empresas. Essas normas, inclusive, acabam de dar origem a um manual para o mercado brasileiro e a um site (www.anvisa.gov.br/hotsite/cruzeiros/index.html) com orientações tanto para os viajantes quanto para o mercado. Ambos foram apresentados durante o Encontro Anual de Avaliação da Temporada de Navios de Cruzeiro 2010/2011, realizado ontem (15/9) e anteontem (14/9) no Rio de Janeiro.
Ainda assim, preocupada com a repercussão dos dados entre os passageiros ; afinal, a temporada 2011/2012 começa em outubro ;, a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar) publicou imediatamente uma nota, um pedido implícito para que ninguém deixe de viajar. No documento, a entidade ressalta que a quantidade de passageiros doentes registrados na última temporada (792, número 82% menor do que na temporada anterior) corresponde a 0,09% do total de pessoas que embarcaram no Brasil. ;Isso é menor do que o registrado em qualquer lugar com grande circulação de pessoas;, defende a instituição.
Finalmente, a Abremar assegura que está trabalhando com a Anvisa para que cada navio fique em conformidade com os padrões estabelecidos pela instituição. Em entrevista ao Correio, o vice-presidente executivo da entidade, André Pousada, preferiu não comentar os números relativos a cada uma das irregularidades, mas insistiu: ;Esses são casos isolados. A indústria e a Anvisa conversam, são parceiras e trabalham em caminhos comuns;.
ENTREVISTA // ANDRÉ POUSADA
Os números da Anvisa repercutiram mal no setor?
Essa pesquisa que a Anvisa faz em relação às inspeções realizadas nos navios é bastante ampla, com diversos critérios e questões que formam um conjunto. Em alguns momentos, houve publicações de fatos isolados, que não dão o sentido que a pesquisa quis dar. A própria Anvisa fala que os números foram positivos, pois 70% das inspeções nos navios deram resultados de excelência. Só que isso não tinha sido dito ainda, né? Esses navios receberam o conceito A, a melhor nota. Os outros 30% estão passando do B para o A. Mas tudo é uma questão de abordagem. Quando você mostra o fato isolado, dá a impressão de que houve uma tragédia, o que não é verdade. E, em relação ao número deles de incidências entre os passageiros, isso representa 0,09% do total de passageiros na temporada, que foram mais de 800 mil. O que a gente quis foi trazer a informação completa, até porque nós estávamos por dois dias reunidos com a Anvisa e trabalhamos com eles em parceria justamente no desenvolvimento de um manual sanitário para navios de cruzeiros marítimos.
O que falta para os 30% restantes ficarem adequados?
Esses são os navios que estão caminhando para a excelência. Existe um processo de comunicação da indústria, que é muito importante, assim como é essencial entender a operação dos navios. Aliás, a proposta da Anvisa nesse encontro foi a seguinte: também compreender melhor o setor e saber como funcionam as coisas internacionalmente. Existem organismos internacionais, como a International Maritime Organization (IMO) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) ; que é nos Estados Unidos ; que estabelecem regras e as empresas são obrigadas a cumpri-las. Não dá para mudá-las porque elas exigem treinamento, capacitação das pessoas. Outro aspecto importante de ressaltar é que, muitas vezes, durante as viagens, os passageiros acabam levando as bactérias para dentro dos navios e várias doenças acabam se disseminando. Então, as pessoas não ficaram doentes por conta de problemas nos navios. Só que, como as inspeções são feitas dentro das embarcações, essas ocorrências acabam sendo contabilizadas também.
Em quanto tempo dá para conseguir os 100% de excelência?
É uma questão imediata. O novo manual sanitário da Anvisa, que gerou essa reunião de dois dias, foi para justamente estabelecer os padrões que devem ser obedecidos, e as empresas vão seguir. Os 100% de excelência são o que nós esperamos no fim da próxima temporada, e a Anvisa também.