Clara Favilla
Especial para o Correio
Oslo é o pote de ouro que o viajante encontra depois de navegar em alto-mar e percorrer o Oslofjord, que tem 100km de comprimento e em torno de 200 metros de profundidade. Vivem na região do fiorde 1,8 milhão de pessoas, 700 mil das quais na capital. No verão, barcos e navios de todos os tamanhos passam por ali. Nos vários braços do golfo é possível andar de caiaque, praticar canoagem, pescar e velejar. Há um grande número de atividades para adultos e crianças. Vai-se de uma ilha a outra por um sistema eficiente de balsas.
Chegar a Oslo de avião ou de navio dá ao visitante a ideia de uma cidade pronta. Mas, em certas áreas, a capital está em reconstrução e restauração permanentes. Com o suporte dos recursos advindos da exploração de petróleo e gás, parte dos noruegueses quer mais sofisticação.
Por isso, defendem obras transformadoras, marcantes, que atraiam um número crescente de visitantes do mundo inteiro. Construções que sejam verdadeiros pontos de confraternização mundial, para que a cidade faça ainda mais jus a sediar a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz (os demais são concedidos em Estocolmo, na Suécia).
Uma dessas obras monumentais já está pronta: a Operahus, na orla da capital. Lembra um barco por dentro e por fora, linhas de presença incondicional no imaginário norueguês. O projeto levou anos de discussão porque os noruegueses ; que ficaram por décadas desacostumados a ter tantas reservas em caixa ; temem pelo futuro. ;E se o petróleo acabar?;, perguntam-se. Trata-se de um povo preocupado com as novas gerações. Nada é feito sem muito debate.
Resistências
O assunto do momento em Oslo é o embargo das obras do novo Museu Munch, bem perto da Operahus. Projeto aprovado, trabalhos iniciados, a população começou a perceber que o peixe não era exatamente o que lhe fora vendido. Apesar de belo e da incrível segurança que dará ao grande acervo do artista, o edifício é alto demais para os padrões da cidade.
A grande reclamação é que o museu, em vez de se integrar à paisagem, valorizando-a, simplesmente a esconderá. Conclusão: por decisão governamental, as obras ; que estavam a todo o vapor para serem entregues nas comemorações, em 2013, do 150; aniversário de nascimento de Munch ; estão paralisadas até que se encontre a melhor solução.
Também já foi dado o pontapé inicial para a construção de dois novos museus: um para abrigar os barcos vikings, considerados verdadeiros tesouros pelos noruegueses, e outro para abrigar o acervo da Galeria Nacional, sem isso significar a demolição dos atuais edifícios, que teriam novas funções.
Desses dois, o projeto que encontra maior resistência é a do novo Museu Viking, por mais esplendoroso que possa parecer o projeto. Os especialistas ressaltam que as embarcações, verdadeiras urnas funerárias encontradas com os tesouros de seus proprietários, foram montadas pedaço a pedaço num processo demorado, difícil e oneroso. A restauração não acabou com a fragilidade dos materiais resgatados sob terreno úmido depois de centenas de anos. Assim, a remoção poderia trazer-lhes danos irreversíveis.
Renas
Uma das grandes obras em andamento na Noruega ainda causa comoção: a da Hardangerbrua, ponte suspensa de 1.300 metros sobre Hardangerfjord, o segundo maior da Noruega, com 179km de extensão. O fiorde fica no condado de Hordaland.
Os moradores, inconformados com a possibilidade de maior trânsito na região, não colocaram o próprio sossego ; mas sim o das renas ; no centro das discussões. Certamente, os rebanhos ficarão mais nervosos e ariscos, alegam. A razão econômica acabou prevalecendo e a ponte estará pronta em 2013. A Noruega se prepara, de fato, para fazer do turismo uma fonte inesgotável de renda.
Poucos lugares fazem lembrar tanto que a Terra é, de fato, um planeta de água. O mar, os fiordes e as geleiras fazem da Noruega um país rico e de especial beleza. Primeiro, pela enorme variedade de peixes e frutos do mar que são consumidos e exportados para todo o mundo. E, agora, pelo petróleo.
O combustível aumentou a parceria entre o Brasil, especialista na extração em águas profundas, e Noruega, dona de eficiente tecnologia de construção de plataformas. O Brasil também é o maior importador do bacalhau norueguês. O peixe é pouco consumido lá e, mesmo quando está presente nos pratos, está na versão fresca. Ou seja, com textura e sabor desconhecidos dos brasileiros, que compram a iguaria seca e salgada em ocasiões como a semana santa.