Turismo

Em entrevista, engenheiro naval da USP diz que não há motivo para pânico

postado em 18/01/2012 14:59
O professor do departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (PNV-USP) Rui Carlos Botter afirma, em entrevista ao Correio, que as pessoas podem viajar tranquilamente em navios e que, a curto prazo, poderá haver algumas mudanças nas normas de segurança. Ainda assim, elas serão pontuais. Mais investimentos em tecnologia também são apontados por Botter como necessários para que tragédias como a do Costa Concordia não ocorram novamente.

Qual a probabilidade de ocorrer um acidente com um navio hoje?
As chances são muito pequenas. O último foi no Mar Báltico, há muito tempo. Mas, quando acontece um acidente desses, o número de mortos e feridos é grande. Assim, surgem pessoas dizendo que, quando esses desastres ocorrem, matam mais gente que tragédias de carro ou avião, por exemplo. O transporte marítimo de passageiros, ainda mais em embarcações modernas como as dos cruzeiros, é muito mais seguro que o de automóvel. Essas probabilidades também levam em conta o fator humano. No transporte marítimo, os acidentes mais comuns são causados pelo homem e por fatores externos, como tempestades. A conjugação desses dois é o que ocasiona as grandes tragédias.

[SAIBAMAIS]As medidas de segurança adotadas após o acidente com o Titanic e atualizadas com o decorrer do tempo são suficientes para garantir o bem-estar dos tripulantes e passageiros?
São mais do que suficientes. Analisando esse caso do Concordia, o resultado da evacuação foi perfeito. Não há informações de que as mortes do navio tenham ocorrido durante o processo de retirada das pessoas. Todos também estavam com coletes. As normas de segurança, os recursos dele e até o projeto da embarcação foram suficientes.

Por conta da popularização dos cruzeiros, as normas de segurança estão sendo deixadas de lado?
O que pode estar acontecendo é não praticarem as regras. Não é possível um navio de 290m virar de um lado para outro de uma vez, como os carros fazem, por exemplo. Por isso, há diretrizes que aconselham a embarcação a navegar a 5 ou 6 milhas da costa.

O senhor acredita que as regras de segurança dos navios deverão ser alteradas?

Não. O que pode vir a existir é um sistema de rastreabilidade dos navios pela companhia, como se fosse um acompanhamento da trajetória. Por exemplo, o transporte aéreo, em tese, está coberto por satélites em todo o Brasil. Assim, o comandante da torre pode perguntar por que ele saiu da rota. Uma vez que tenha GPS a bordo, controle por satélite, a companhia poderá reportar algum problema às autoridades em terra. A mudança seria na tecnologia, com uma atuação em tempo real. Hoje, as companhias têm esses controles, mas voltados para saber temperatura e horário de chegada.

E com relação à segurança dos tripulantes e dos passageiros, as normas vão passar por modificações?
Depois de um acidente como esse, a tendência é que se intensifique esse tipo de capacitação. Ninguém está preparado para um acidente de carro, de avião ou de navio, tudo é uma questão de treinamento. Quando as pessoas falam que se trata apenas de um treinamento de teste ; ou mesmo no avião, quando a comissária mostra os procedimentos de segurança ;, não se presta muita atenção no que é dito. Mas, quando o pior acontece, os passageiros e a tripulação se desesperam. A curto prazo, os procedimentos de segurança internos devem ser reforçados. Aproveita-se também muito do ponto de vista mercadológico. Pode ser que venha alguma determinação para criar certificações de treinamento da tripulação, só para se ter mais um motivo para obrigar a rever a segurança. O comandante deve sempre evitar o abandono do navio, principalmente porque isso é muito ruim para o psicológico do passageiro. No caso do Costa Concordia, parece que o capitão demorou uma hora para começar a evacuação. O anúncio de que era apenas um problema elétrico pode ter sido feito apenas para não gerar pânico.

O mercado de cruzeiros deve sofrer o impacto dessa notícia?

Um impacto pequeno deve existir, mas isso ainda deve ser analisado. No entanto, os cruzeiros são um tipo de turismo que tem crescido muito no Brasil. O setor não deve sofrer muito.

Os passageiros, então, podem embarcar tranquilos em navios?
Seu eu tivesse que embarcar hoje, faria com a maior tranquilidade. Não há motivo para pânico. Acredito que todas as embarcações já tenham reuniões para falar sobre isso. Tudo está muito mais seguro. Pode viajar tranquilo.

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