Turismo

Chocolates brasileiros adoçam mercado frequentado por turistas em Sydney

postado em 11/04/2012 10:44
; Mariana Ceratti
Especial para o Correio


Se for fim de semana em Sydney, um programa incrível é conhecer as feiras conhecidas como The Rocks Markets, perto da Opera House e da Harbour Bridge. ;A produção de todo o país se encontra nesse mercado;, resume Alli Abdurahman, gerente de vendas do hotel Park Hyatt Sydney. Sábado e domingo, as ruas Playfair e George recebem cerca de 200 barraquinhas com roupas e acessórios criados por novos designers, obras de arte e artigos para casa. Antes disso, na sexta-feira, as ruas Argyle e George ficam ocupadas por barracas que vendem os mais variados quitutes: cupcakes, os sanduichinhos turcos conhecidos como g;zleme, pães, castanhas e chocolates ; esses, com sabores tão brasileiros quanto caipirinha, brigadeiro e maracujá.

Quem está por trás das delícias de cacau é o mineiro (de Patrocínio) Daniel de Almeida, que fabrica os bombons desde a época do curso de publicidade e hoje comanda a Emporium of Chocolate. Daniel tem sete anos de Austrália, e o biótipo ; de cabelos claros e pele bronzeada ;, somado ao leve sotaque ao falar português, dá a impressão de que, na verdade, trata-se de um típico australiano. Vale a pena, se a barraca estiver tranquila, ter um dedinho de prosa com o moço e ver como ele recria, tão longe, cheiros e gostos que dão saudade do Brasil. Veja entrevista com ele a seguir.

Como você foi morar na Austrália?
Vim para a Austrália em 2005, depois que terminei a faculdade de publicidade (na Anhembi Morumbi, em São Paulo), para estudar inglês. Tinha tentado o visto para Boston, mas negaram por causa dos atentados terroristas. Então, me falaram da Austrália, que era um pais muito lindo e tinha cultura bem diversificada. Um amigo que me passou o contato de uma agencia especializada em intercâmbios, que me ajudou com o visto e com escolha de escola e de lugar para ficar. Falaram também que eu poderia trabalhar legalmente durante o período que eu estivesse estudando. Pedi o visto de estudante e três semanas depois já estava embarcando.

Não conhecia ninguém e não falava nada de inglês, nem o básico. O primeiro mês fiquei em uma homestay (casa de famílias que recebem estudantes). A família me ajudou nos primeiros dias, me ensinando como pegar ônibus, como era a cultura, a comida, os lugares. Todos foram superatenciosos e me ensinaram bastante o inglês. Não tinha intenção alguma de ficar, mas comecei a estudar e me apaixonei pelo país, pela cultura, pela hospitalidade dos australianos e pelas oportunidades de aprender inglês e poder trabalhar ao mesmo tempo. Com o visto de estudante, você pode trabalhar 20 horas por semana, era ótimo. Eu estudava inglês de manhã e, no período da tarde, trabalhava em um restaurante. Meu visto venceu e decidi renová-lo e ficar por mais dois anos. Foi quando comecei a fazer os chocolates aqui e vender para amigos e conhecidos, na escola onde estudava, em festas de noivado e casamentos. Foi dando certo.

Como você fabrica esses chocolates? A pasta de cacau é brasileira mesmo ou tem outra origem? E os ingredientes dos recheios, são fáceis de encontrar aí?
Fabrico os chocolates em casa. Mesmo com a alta demanda, ainda consigo manter a produção caseira, que é o segredo dos chocolates. Sempre os faço um dia antes das feiras para manter o sabor e a qualidade do produto. Utilizo todos os ingredientes frescos. Maracujá, às vezes, chego a cortar 30 ; aqui, eles custam dois dólares cada um, mas são fundamentais no sabor dos recheios. Todos os produtos que utilizo na fabricação são naturais e sem conservantes, com isso consigo manter o sabor natural e a boa qualidade do produto.

Faço chocolates desde que eu tinha 15 anos. Comecei fazendo ovos de páscoa, mas, depois, eu ainda queria ganhar dinheiro. Então, comecei a fazer os bombons. Produzia os de morango cobertos com leite condensado, os de brigadeiro, beijinho, maracujá...

O chocolate que utilizo é fabricado na Austrália. Meu segredo são os recheios. Os australianos não conhecem o brigadeiro nem o beijinho. Então, o que fiz foi adaptar o nosso cardápio brasileiro ao deles. Quebrei um pouco do doce misturando o chocolate amargo e o ao leite, apresentando a eles a variedade e a qualidade da sobremesa brasileira. Hoje, trabalho com 10 sabores, e os que eles mais gostam são também os nossos sabores prediletos: doce de leite, brigadeiro e coco. No de café, uso o do Brasil e também utilizo a pinga importada do Brasil.

No começo, foi difícil, porque eu estava acostumado com os materiais do Brasil. Fiz vários experimentos com produtos diferentes até chegar onde estou agora, mas mesmo assim ainda preciso de vários produtos que vêm do Brasil, como embalagens, papéis e caixas. Por exemplo, o Nescau, que uso no brigadeiro, tem de vir do Brasil. O chocolate em pó da Austrália não tem o mesmo sabor que o nosso pelo fato de o clima ser mais quente.

Tento trabalhar com produtos produzidos aqui e, quando não encontro, ligo pra minha mãe no Brasil e ela corre atrás das coisas e me manda pelo correio. Agora já tenho empresa aberta na Austrália e vários produtos compro diretamente com os revendedores brasileiros. Além disso, sempre que os amigos vêm, encomendo coisas e eles trazem. A ajuda deles é fundamental no processo de começar um negócio, especialmente do outro lado do mundo e longe da família.

Você vende os chocolates somente no Rocks Market? Ou há outros pontos de venda em Sydney? Quais?
Comecei vendendo para amigos e conhecidos. Um deles, o arquiteto Ian Moore ; famoso por aqui -- e sua noiva, Tess, que sempre estão encomendando meus chocolates para as festas que realizam e para presentear amigos. Em 2010, comecei a vender no Kirribilli Markets,que fica embaixo da Harbour Bridge. As feirinhas são realizadas duas vezes por mês: no primeiro domingo e no último sábado do mês.

[SAIBAMAIS]Após um ano de muito trabalho, me candidatei também ao The Rocks Markets, que é uma feira mais popular em uma área nobre e bastante frequentada por turistas que vêm visitar a ponte e a Opera House. O Rocks Markets acontece todas as sextas-feiras, das 9h às 16h.
Hoje, participo de duas feiras, tenho a pagina Emporium of Chocolate no Facebook e também estou trabalhando na produção do website (www.emporiumofchocolate.com), que estará no ar esta semana.

As pessoas vão ter a opção de comprar online e receber os chocolates em casa, na Austrália, em dois dias. É muito trabalho, mas estou feliz com o sucesso da empresa e a ajuda que tenho recebido de amigos nesse processo de realização de um sonho que sempre tive. Jamais imaginei que fosse realizá-lo do outro lado do mundo.

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