postado em 24/10/2012 15:00
Em Isla Negra, a cerca de duas horas e meia de Santiago, a amizade entre Jorge Amado e Pablo Neruda está estampada na coleção de garrafas tendo embarcações em seu interior, presenteadas pelo escritor brasileiro ao poeta chileno. Na casa, construída em forma de navio em frente ao oceano, Neruda olhava os barquinhos e se imaginava dentro deles, balançando sobre as ondas do Pacífico. O poeta que fez Ode ao Mar se dizia um capitão em terra firme. Tinha medo das águas revoltas, por isso instalou na frente da casa um prosaico barco bem fincado no chão, onde ficava conversando com os amigos e brindando, provavelmente um bom vinho branco, preferido dele e da última e mais amada esposa, Matilde Urrutia (veja em Memória).
[SAIBAMAIS]A casa de Isla Negra está inserida na paisagem costeira, onde o mar, com o movimento de suas ondas, praias e rochedos, fazia reviver a impressão do poeta, que quando pequeno, o enfrentou pela primeira vez, em Puerto Saavedra. Não só as garrafas dadas por Jorge Amado, mas as coleções mais importantes conservadas na casa estão ligadas à costa, como os belíssimos mascarões de proa de navios, réplicas de veleiros, caracóis marinhos, dentes de cachalote.
No escritório onde costumava escrever, o tampo da mesa foi feito com uma tábua deixada pelas ondas na areia, como um presente. Parece que assim, colecionando pedaços do mar, ele conseguia se aproximar mais do velho e temido amigo. E escreveu Neruda: ;O Oceano Pacífico saía do mapa. Não havia onde colocá-lo. Era tão grande, desordenado e azul que não cabia em nenhuma parte. Por isso, o deixaram em frente a minha janela;.