Marcus Celestino
postado em 11/02/2015 15:37
O processo de ;desglamourização; de Buenos Aires vem ocorrendo gradativamente devido ao grande número de brasileiros que invadem as terras portenhas ano após ano. No tradicional logradouro da Calle Florida, notório point das comprinhas, é possível ouvir toda a sorte de sotaques advindos de várias partes do Brasil ; sem contar o maravilhoso ;portunhol; praticado por nove entre 10 tupiniquins. No entanto, a capital argentina ainda é um destino fascinante e mesmo quem já a conhece pode aproveitar para fazer uma visita durante o período de carnaval. ;Um momento. Como é? O repórter sugere que eu deixe de curtir aquela festança à beira-mar ou até mesmo nas cidades vizinhas? Quer que eu visite um país ;inimigo; em detrimento da esbórnia por aqui?.; Sim, essa é a sugestão do repórter. Garanto-lhe que não irá se arrepender e tampouco enviará a este escriba um correio eletrônico pedindo reembolso da viagem.
[SAIBAMAIS]As malas
O verão em Buenos Aires fustiga e o clima nem sequer fica próximo do friozinho gostoso do resto do ano. As temperaturas na capital, nesta época, são altas e até mesmo você que já visitou a cidade pode ser pego de ;calças curtas; com uma mala sem roupas leves. Portanto, abdique de levar casacões ou cachecóis típicos do inverno portenho e preze por uma bagagem mais light, com camisetas e bermudas para poder enfrentar as longas (e deliciosas) caminhadas por ;barrios; tradicionais como Recoleta, Palermo e San Telmo, além dos vários passeios no Centro e na região de La Boca ; onde se encontra o Caminito e o Estádio Alberto José Armando, conhecido pela alcunha de La Bombonera, do Boca Juniors.
Mesmo assim, há um consolo. Em fevereiro, o termômetro fica na casa dos 30 graus, dada a proximidade do equinócio de outono. Em contrapartida, nos meses de dezembro e janeiro temos uma ;Buenos Aires 40 graus;. Sorte de quem irá conhecer a cidade sob um clima mais aprazível.
Charme
Buenos Aires é uma cidade que tem aquele charme intrínseco aos locais mais reluzentes do universo. A alma da cidade é uma mistura de aspectos interessantes das culturas europeia e latina com os minuciosos traços de personalidade que só um portenho tem. Passear pelo verão na capital argentina é ter o prazer indelével de sentir o frescor de um sorvete de dulce de leche da Freddo (famosa rede argentina de sorveterias) ou o sublime mandarina da Persicco (dona do melhor ;helado; das redondezas) no Palermo Soho, o bairro descolado da cidade, rodeado por artistas e figuras ímpares. É caminhar por Puerto Madero, a lindíssima e revitalizada zona portuária, e sentir uma leve brisa percorrendo o ar.
No entanto, nada, nem poder saborear um delicioso sorvete e até mesmo um refrescante detox do The Factory é tão fantástico quanto captar a essência politizada dos cidadãos portenhos, sempre engajados numa causa.
Comida
O principal combustível do portenho é a comida, principalmente o assado. O churrasco argentino, preparado na tradicional parrilla, não é dos pratos mais recomendáveis para um calor escaldante. No entanto, caso queira arriscar uma carne daquelas, vá ao El Desnivel, em San Telmo, depois de dar uma conferida na estátua da Mafalda (famosa personagem de Quino) entre as ruas Chile e Defensa e na feirinha que rola todos os domingos. As porções são fartas e o preço é superjusto.
Todavia, caso opte por uma comidinha mais leve, seria interessante dar uma chance ao Sashimiya. O restaurante japonês é uma pedida excelente, tem pratos deliciosos e ambiente extremamente agradável.
Tango?
Apesar de notória por sua vida noturna agitada, muitos podem achar que o carnaval de Buenos Aires é modorrento. Ledo engano. A capital federal conta com espetáculo interessante e digno de atenção do visitante. Os desfiles das murgas contagiam mais pelas cores dos pierrôs e colombinas do que pela dança desengonçada praticada pelos foliões. A música também atrai. Tudo bem que é até injusto compararmos a seção rítmica basicamente formada por poucos instrumentos de percussão da murga com uma bateria de escola de samba brasileira, mas o esforço é louvável e os resultados são dignos de loas. Vale frisar que a manifestação cultural como conhecemos na América do Sul hispânica surgiu primeiramente no Uruguai e, dada a proximidade entre os países, trespassou a fronteira.
Consideradas patrimônio cultural da Cidade de Buenos Aires desde 1997, as murgas estão espalhadas pelos quatro cantos da capital. Mais de uma centena irá às ruas e, entre os dias 13 e 17 (nossos vizinhos têm feriados na segunda e terça de carnaval), quando a coisa promete esquentar. Um alerta: bebidas alcoólicas não são permitidas. Sim, é isso mesmo que você leu. Uma pena para quem gosta de bebericar uma boa e velha cerveja.
Clima praiano
Bem, se ainda não se conveneceu, que tal ir à praia? Em Buenos Aires, você também pode. Pelo sétimo ano consecutivo, a prefeitura da cidade deixa à disposição da ;farofada; dois pontos, um na região norte e outro na sul, para a curtição. São várias atividades culturais num clima praiano. E então, o que o segura aqui no Brasil? Caia na gandaia ;con nosotros;.