Jornal Correio Braziliense

Turismo

Com os dois pés na África: fuja do tradicional em Recife

Longe do Marco Zero, a cidade do Recife tem veia africana, como todo bom nordestino. Na Bomba do Hemetério, é possível manter contato com várias manifestações culturais, além da rica gastronomia. Uma alternativa às tradicionais atrações do centro histórico


Distante da orla da Praia de Boa Viagem e dos equipamentos culturais do entorno do Marco Zero, a Bomba do Hemetério, bairro da Zona Norte do Recife, recebe visitantes em busca de um turismo de contato. É possível caminhar pelas ruas, experimentar frutas na feira, participar de manifestações ou assistir a apresentações culturais ligadas à cultura africana. Há até quem se especializou nesse tipo de programação. Em Recife, a Agência Loa Turismo de Experiências ((81) 9667-3393) leva o visitante para conhecer o objeto da sua curiosidade. Quer experimentar a comida? Tem roteiro gastronômico. Se o interesse for dança ou música, é só organizar o passeio. Um pacote para grupos de até 50 pessoas custa R$ 65.

A nova área de turismo da cidade ganhou força a partir de um projeto de revitalização do bairro e resgate das origens. A Universidart, um centro de cultura e artes, com sede na Rua do Rio, iniciou um trabalho com os moradores e já conseguiu formar uma equipe preparada para apresentar uma nova cara do Recife.

Para quem está em busca das origens, o ponto de partida é o número 1466 da Estrada Velha de Água Fria. De lá, vamos em direção à sede do Maracatu Nação Raízes de Pai Adão. Inicialmente, a agremiação funcionava junto de um terreiro. Cresceu tanto que tomou emprestada a casa do antigo Instituto Vida para ter um endereço próprio. Fundado em 1998, o grupo reúne cerca de 110 pessoas. ;Desse total, 90% são crianças e adolescentes;, conta Jorge Carneiro, condutor e um dos diretores do Raízes de Pai Adão.


Com agendamento prévio, o turista pode visitar o espaço, experimentar os acessórios usados pelos músicos e dançarinos e ter uma palhinha de como funciona o cortejo. Guilherme Venâncio, 12 anos, é um dos integrantes. ;Vi meus amigos tocando e quis participar.; Luanda, malê e martelo são os três batuques característicos do Maracatu Nação, o garoto ensina. ;É fácil, quer ver?; Com sorte, um lanche ainda é servido como um agrado ao visitante.

E por falar em comida, a Bomba do Hemetério recebe, no mês de setembro, o festival Delícias da Comunidade, que também alcança os bairros de Brasília Teimosa e Santo Amaro. Os quitutes com sabor afro são degustados em cada esquina. Seguindo até o Largo da Bomba, como é chamada a Praça Castro Alves, encontramos o Bar Tuca Versátil ((81) 3444-5863) e o Espetinho da Ceça ((81) 3449-0700). Os pratos servidos no festival do ano passado foram tão apreciados que a clientela passou a frequentar durante todo o ano.

Caldinho


Na Rua Bomba do Hemetério, 425, o carro-chefe de Tuca é o caldinho de cebola (R$ 3,50). Disponível de quarta-feira a sábado, das 17h às 23h, e domingo, das 12h às 23h. Sextas e sábados têm até música ao vivo. Já na Rua Chã de Alegria, 235, são 12 espetinhos diferentes no cardápio de Ceça. Tem de carne, frango, codorna e coração de galinha ; a partir de R$ 4. Aberto de terça-feira a domingo, das 17h às 2h da madrugada. Esse contato com a cozinha local ajuda a consolidar a Bomba do Hemetério como um destino turístico-cultural de base comunitária.


E como não é possível falar de cultura africana sem o ritmo das músicas e a ginga das danças, na Rua Raul Pompéia, 462, funciona o Ponto de Cultura Bacnaré ((81) 3444-3710), o balé de cultura negra do Recife. No currículo, mais de 160 prêmios, ao longo de 26 anos de gingado. Também com agendamento, é possível assistir a um trecho de um de seus três espetáculos: Memória, Sangue africano ou Nações africanas.

Em julho, o grupo viaja mais uma vez à França. Vai participar de um evento internacional em homenagem a Mestre Ubiracy Ferreira, marido de Antônia e fundador do balé, formado por cerca de 50 bailarinos, entre homens e mulheres.

;Meu marido foi o primeiro bailarino negro a pisar no palco do Teatro de Santa Isabel. Depois que ele faleceu, eu me senti na obrigação de continuar esse trabalho de divulgação da cultura afro;, explica Antônia Batista, diretora do Bacnaré.

160 prêmios
Foram conquistados pelo grupo de balé Bacnaré, ao longo de 26 anos de apresentações