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A intimidade de Hampton Court, na Inglaterra, que remonta à era Tudor

O Brasil mal tinha sido descoberto, em 1540, e o palácio britânico já era um dos mais sofisticados do país. Vale a pena conhecer a imponência, o luxo e os mistérios guardados durante séculos

Paloma Oliveto
postado em 22/05/2015 19:30

;Tivesse eu servido ao meu Deus com tanta diligência quanto servi ao meu rei, Ele não me teria abandonado na minha velhice;
Cardeal Wolsey

Próximo a Londres, o museu guarda a memória dos tempos em que lá viveu o rei Henrique XVIII
Já se vai meio século desde que o poderoso cardeal Thomas Wolsey começou a reformar a antiga granja da Ordem de Malta que, convenientemente, ficava entre duas casas reais. O sofisticado religioso não poupou economias e construiu no local um palácio suntuoso, pronto para abrigar seus convidados VIPs, dentre os quais estava o rei Henrique VIII. Sob a supervisão de Wosley, transformou-se no Hampton Court Palace, uma joia arquitetônica da era Tudor, que enchia os olhos da corte e, principalmente, do monarca.

Em 1528, Henrique VIII rompeu com o velho camarada. O motivo principal da cisão foram as ambições matrimoniais do rei que, casado com Catarina de Aragão, queria desposar Ana Bolena. Diante da negativa do cardeal, Henrique VIII criou sua própria igreja e colocou o clero católico para correr. De quebra, se apoderou do palácio.

Ao morrer, o monarca tinha mais de 60 casas. Hampton Court Palace era sua predileta. Lá viveram suas seis mulheres ; a cada matrimônio, o apartamento real era remodelado. Quando assumiu o palácio, Henrique VIII começou a expansão da propriedade. Em 1540 já era um dos mais modernos e sofisticados palácios da Inglaterra.

O luxo e a riqueza enchiam os olhos da corte

O prédio era apenas parte da magnificência de Hampton Court. Ali, havia quadras de tênis, alamedas para prática de boliche, jardins recreativos, um parque de caça com 4.000m;, cozinhas imensas, uma capela luxuosa (até hoje há celebrações religiosas nela); Para Henrique VIII, aquele era o cartão-postal de seu reinado. Ele gostava de impressionar delegações estrangeiras e sempre era bem-sucedido.

Depois da morte de Henrique VIII, em 1547, o palácio ficou na mão dos herdeiros, que não acrescentaram muita coisa. Na era Stuart, porém, Hampton Court Palace voltou a ser um centro de badalação. Às vezes, o salão de jantar comunitário, o Great Hall, era transformado em teatro para a encenação das peças de Shakespeare, ele mesmo um frequentador habitual.

Nas gerações seguintes, o palácio passou por reformas e, por pouco, escapou de ser colocado abaixo em fins do século 17 pelos reis William III e Mary II. O ano de 1737 foi o último em que Hampton Court abrigou uma família real. Na era vitoriana, foi aberto a visitação pública. Sorte da plebe que, até hoje, pode mergulhar na história da Inglaterra enquanto passeia pelos inúmeros e majestosos corredores.

As cozinhas foram projetadas para alimentar pelo menos 600 pessoas, duas vezes por dia
Fantasmas
Como toda construção antiga que se preze, Hampton Court Palace tem seus fantasmas. E não são poucos. A começar por Catherine Howard, ex-mulher de Henrique VIII, decapitada a mando do marido. Acredita-se que ela seja frequentadora de uma ala do palácio conhecida como Galeria Assombrada. Dizem que seu espectro, vestido de branco, é visto flutuando pelos corredores onde, em vida, foi capturada pelos soldados reais e arrastada de volta para seus aposentos. Antes de ser enviada para a Torre de Londres, Catherine foi aprisonada em um quarto do palácio. Um dia, escapou e tentou correr até Henrique VIII, para pedir perdão. Mas foi capturada.

A preferida do rei, Jane Seymour, também já foi vista rondando os jardins, perto da Praça do Relógio, carregando uma vela. Outra mulher-fantasma que vagueia pelas dependências do palácio é Sibell Penn, babá do príncipe Eduardo, único filho homem de Henrique VIII. Entre os espectros, o mais temido é o de um homem, flagrado pelas câmeras de segurança em outubro de 2003. Diversas vezes os guardas ouviam o alarme de uma porta de incêndio aberta. Depois de fechá-la, voltavam para o escritório, apenas para vê-la novamente aberta. Até que visualizaram, na câmera, uma figura espectral, fechando a porta. Isso aconteceu três vezes seguidas.

Cozinhas
Construídas para a corte de Henrique VIII, as cozinhas do palácio foram projetadas para servir a pelo menos 600 pessoas, duas vezes ao dia. As provisões de carne anuais para a corte dos Tudor consistiam em nada menos que 1.240 bois, 8,2 mil ovelhas, 2.330 veados, 760 bezerros, 1.870 pombos e 53 javalis. Sem contar com os 600 mil galões de cerveja. Quase todas as refeições eram compostas por carne grelhada, uma expressão de riqueza na época.

O corredor por onde entram os visitantes é forrado de tapeçarias: todos ficam deslumbrados
A coroa

A original foi utilizada por Herique VIII em Hampton Court nos festejos da Epifania, em 6 de janeiro, quando o rei e chefe da igreja anglicana dirigia-se à Capela Real para oferecer ouro, incenso e mirra, celebrando a visita dos três magos ao menino Jesus. A mesma joia coroou seus filhos.

Símbolo da autoridade religiosa e do poder, a coroa foi derretida na Torre de Londres em 1649 por ordem de Oliver Cormwell, logo após a rápida abolição da monarquia. Entre 2007 e 2012, o ourives da coroa Harry Collins e sua equipe utilizaram as mesas técnicas da era Tudor para recriar a joia exibida no Hampton Court Palace, com o mesmo tamanho, a posição de cada uma das 344 pedras preciosas ; rubis, safiras, esmeraldas, diamentes e pérolas ;, além das cinco esculturas que a decoravam.

Grande corredor

Esse magnífico aposento é decorado com tapeçarias que tomam paredes inteiras, bordadas com fios de ouro, que contam a história do patriarca Abraão. Por lá que entravam os visitantes. O rei queria que todos ficassem de boca aberta ao ver seu palácio.

Ali, eram montadas mesas para comensais, mas o salão também foi usado pela companhia de teatro de William Shakespeare no Natal e no ano novo de 1603, que se apresentou para o rei Jaime I. ;;O grande corredor é o cômodo mais magnífico;, anotou, em seus diários, o escritor John Evelyn, em 1662.

Planeje seu tempo

O que ver em;

1 hora
a) A experiência Tudor

  • Veja os apartamentos de Henrique VIII e sua coroa (20 minutos)
  • Dê uma volta pelas cozinhas dos Tudor (20 minutos)
  • Descubra a história do jovem Henrique VIII (20 minutos)
b) A experiência barroca
  • Passeie pelos apartamentos de William III (35 minutos)
  • Assista ao documentário sobre o barroco (15 minutos)
  • Dê uma volta pela cozinha de chocolate georgiana (10 minutos)
2 horas
  • Faça um passeio mais longo pelos apartamentos de Henrique VIII e sua coroa (30 minutos)
  • Visite as cozinhas Tudor (20 minutos)
  • Visite a capela real (10 minutos)
  • Descubra a história do jovem Henrique VIII (20 minutos)
  • Passeie pelos apartamentos de William III (15 minutos)
  • Explore a história georgiana (25 minutos)

3 horas
  • Faça um passeio mais longo pelos apartamentos de Henrique VIII e sua coroa (35 minutos)
  • Passeie pelas cozinhas Tudor (20 minutos)
  • Visite a capela real (10 minutos)
  • Descubra a história do jovem Henrique VIII (25 minutos)
  • Assista ao documentário sobre o barroco (15 minutos)
  • Explore a história georgiana (30 minutos)
Visite

  • Funcionamento: o palácio abre todos os dias, a partir das 10h e fecha às 18h (no inverno, de 25/10 a 26/3, fecha às 16h30)
  • Preços em libras: 19,30 (adultos) e 9,70 (crianças com menos de 16 anos)
  • Como chegar: de trem, são 35 minutos a partir da estação de Waterloo. Antes de Hampton Court, há nove paradas. Há trens a cada meia hora. Hampton Court está na zona 6, então você pode usar seu cartão Oyster, o mesmo que adquire para usar o metrô.
  • De ônibus: as linhas são 111, 216, 411, 461 e 513. Elas saem do bairro de Kingston. O Oyster card também é aceito. Se estiver no Aeroporto de Heathrow, pegue o ônibus 111
  • De carro: o palácio está localizado na rodovia A308 e é bem sinalizado. Basta seguir as placas de informação turística marrons

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