Cambará do Sul (RS) ; A região serrana do Rio Grande do Sul atrai, há décadas, milhares de turistas que querem curtir o inverno e o romantismo de Gramado, Canela e Bento Gonçalves. Três destinos encantadores, mas há muito o que experimentar na Serra Gaúcha. A 79km dali, a pequena Cambará do Sul reserva surpresas de, literalmente, tirar o fôlego, especialmente para quem gosta de contato com a natureza. A cidade tem pouco mais de 7 mil habitantes e foi fundada em 1963; é mais nova, inclusive, que Brasília.
[SAIBAMAIS]Mas a região, que pertencia à vizinha São Francisco de Paula, era habitada muito antes de virar, oficialmente, um município. Pelo menos desde 1864, quando 20 hectares de terra foram doados à Igreja Católica. A palavra ;cambará; tem origem tupi-guarani e significa ;folha de casca rugosa;. É o nome de uma árvore típica da região, cujas folhas verde-claro são conhecidas pela característica medicinal, no combate a gripe. Com 1.031m de altitude, é uma das cidades que registram as mais baixas temperaturas do Brasil durante o inverno. Também é conhecida como ;capital do mel; e ;terra dos cânions;.
Ecoturismo
Fendas profundas e sinuosas que fazem qualquer pessoa se sentir minúscula são os principais atrativos de Cambará do Sul, região de cânions que fica na divisa com o estado de Santa Catarina e bastante próxima do litoral gaúcho. Formados a partir da erosão causada pelo rio, há cerca de 135 milhões de anos, eles atraem turistas em busca de um contato intenso com o meio ambiente e uma vista esplendorosa.
o Itaimbezinho, com 5,8km é o segundo maior cânion da América do Sul em extensão. A largura alcança 200m e a altura máxima, 720m. O nome vem do tupi-guarani e significa pedra afiada. Está localizado no Parque Nacional Aparados da Serra, um dos mais antigos do país, aberto em 1959, e administrado pelo Ibama. Lá, é possível conhecer a trilha do vértice, a mais comum, por exigir menos de uma hora de caminhada e ter fácil acesso. Por ela, o turista anda pela borda até as proximidades da bela Cachoeira das Andorinhas, que brota na parte de cima do cânion. Ao fundo se vê a cascata Véu de Noiva. Já a trilha do cotovelo tem 6,3km e vai até o mirante, que proporciona uma visão panorâmica do cânion.
Cenário de produções televisivas conhecidas, como a minissérie A Casa das Sete Mulheres, o cânion Fortaleza impressiona ainda mais pela grandeza e o formato dos paredões, que lembram muralhas. São 7,5km de extensão, com uma altitude que chega a 1.240 metros acima do nível do mar. Em dias ensolarados, dá para ver o litoral gaúcho, além da planície catarinense, de cima das montanhas, e ouvir o barulho das ondas mais à frente.
Ele faz parte do Parque Nacional da Serra Geral, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Há trilhas curtas para conhecer a borda e o mirante, assim como no Itaimbezinho. A mais longa vai até a Cachoeira do Tigre Preto (com três quedas) e à Pedra do Segredo, um bloco de rocha de 30 toneladas equilibrado em uma base de apenas 50 centímetros.
Para conhecer os dois parques, o casal pode ir de carro ou contratar uma agência de viagens especializada. Na Coiote Adventures, por exemplo, os passeios são feitos em Land Rovers 4x4 (que também fazem serviço de transfer desde os aeroportos próximos) e contam com guias. Para quem preferir visitar Cambará durante o verão, as opções de lazer com aventura aumentam nas agências. Um dos passeios mais procurados é a trilha do Rio do Boi, ideal para quem tem disposição e bom condicionamento físico. É feito pelo interior dos cânions e envolve, claro, a travessia do rio ; mais de uma vez.
Para quem quer uma caminhada com alto grau de dificuldade, outra opção é visitar o Cânion Malacara, que tem uma trilha de aproximadamente 13km. No Itaimbezinho, dá para fazer um passeio diferente, de bicicleta. E fora dos parques, mas ainda nas matas de araucárias, os viajantes podem fazer rapel e rafting ; dentro deles não é permitida a prática de esportes radicais.
Dica importante: nunca vá aos cânions sem antes ligar para os parques e se informar sobre a visibilidade. Apesar do tempo limpo na cidade, no alto ele varia muito rápido. É bastante comum chegar ao cânion e não ver nenhuma nuvem no céu e, em poucos minutos, surgir uma névoa que ficará cada vez mais densa até a vista ficar completamente branca e opaca. Isso acontece pela mistura das massas de ar do continente com as do litoral, somadas à altitude.
Espetáculo das águas
Embora os cânions sejam a maior atração de Cambará, o ecoturismo na região vai além disso. Inclua no roteiro um passeio pela Cachoeira dos Venâncios, a 23km do centro da cidade. Formada pelo Rio Camisas, ela faz divisa com o município de Jaquirana e está localizada em uma propriedade particular.
O caminho pelas quatro quedas é bem visível e não há necessidade de guia. Para chegar à última parada, você passa entre muitos pinheiros, onde dá para ver animais exóticos, como o pica-pau-da-cabeça-vermelha. Pelo chão úmido, brotam várias espécies de cogumelos dos mais distintos formatos e tamanhos.
No inverno, a água é muito fria, e o banho na cachoeira não é a melhor pedida. Mas pela extensão e beleza, especialmente quando se chega à última queda, onde dá para ver quase todas, vale a pena ir, mesmo que seja só para contemplar a vista. O local também disponibiliza área de camping.
A doce Querência
Além do mel silvestre, famoso na região dos cânions, uma iguaria passou a fazer sucesso em Cambará do Sul nos últimos anos: a geleia. No sítio Querência Macanuda (que significa lugar querido, amado), o casal Claudia e Vico começou a produzir geleias artesanais, em 2009. São usados apenas produtos orgânicos na composição, que não leva conservantes.
Vários tipos de amoras, framboesas e mirtilos são plantadas na fazenda. Em geral, uma geleia leva a mistura de alguns tipos diferentes da mesma fruta, para chegar ao sabor e à consistência desejados. Além dessas, há geleias mais exóticas, como a de açaí com banana, a de chocolate com banana e a campeã no favoritismo, physalis (aquela fruta amarela muito usada na decoração de bolos). Nenhuma delas erra a mão no açúcar, o que as torna menos enjoativas.
Entre as que combinam com salgados, alecrim, manjericão, gengibre e pimenta. Por último, os antepastos de berinjela e abobrinha. Para quem visita o local, dá para fazer uma degustação de todas elas antes de decidir qual comprar.
Os potes grandes custam R$ 15 e os pequenos, para quem quer levar uma de cada sem pesar muito na mala, R$ 5. No site do Sabores da Querência, você encontra receitas para fazer com as geleias e pode, ainda, fazer encomendas, que são entregues pelos Correios.
Acampamento estrelado
Por ser uma cidade bem pequena e não ter uma variedade de opções de programas para se fazer à noite, a dica para quem vai a Cambará é se hospedar na região rural e aproveitar o ambiente bucólico e romântico. Um dos mais tradicionais é o hotel Parador Casa da Montanha, uma ecovillage a 900 metros de altitude localizada em uma fazenda nos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul. O projeto é do charmoso hotel Casa da Montanha de Gramado.
A ideia é aliar luxo e requinte ao contato com a natureza. Lá, os turistas se hospedam em barracas térmicas, inspiradas em rústicos lodges africanos. Todas elas têm vista panorâmica para o vale, com a mata de araucárias, e para o Rio Camarinhas, que conta com uma cachoeira. O som da água ao longo do dia já é uma experiência relaxante. Mas o melhor é o entardecer. O Sol se põe nos morros atrás do rio e pode ser visto da varanda de cada barraca. Na parte externa, há uma lareira, para quem quer ficar ao ar livre sem passar frio, e uma banheira de hidromassagem. Nada melhor que um banho quente a dois, enquanto você toma uma taça de vinho e assiste ao belíssimo pôr do sol.
Na área comum, há uma lareira dentro da casa principal e outra no deck. Para se divertir, uma mesa de bilhar e um bar em que são servidos diversos drinks e uma extensa carta de vinhos, que tem rótulos do Rio Grande do Sul e, também, de outros países. Estão inclusos na diária o café da manhã colonial e o chá da tarde, em que são servidos waffles com as geleais Sabores da Querência e o famoso pinhão. No inverno, os gaúchos esquentam a semente com a casca na chapa ou cozinham. É uma delícia. Não se esqueça, claro, de tomar o clássico chimarrão, disponível ao longo de todo o dia para os hóspedes.
O restaurante do Parador mistura ingredientes típicos da região com a culinária contemporânea, a exemplo da tradicional polenta servida com cogumelos selvagens laminados. Para conhecer o terreno da antiga fazenda onde fica o hotel, faça um passeio a cavalo ou de quadriciclo. Outra boa ideia é andar pelos morros e encontrar a sombra de uma árvore para fazer um piquenique.
A jornalista viajou a convite do hotel Parador Casa da Montanha
Programe-se
Como chegar
Vá de avião até Porto Alegre (a 185km) ou até Caxias do Sul (133km). De lá, alugue um carro ou faça o traslado com uma agência de viagem ou com os hotéis que oferecem o serviço.
Onde ficar
Parador Casa da Montanha
www.paradorcasadamontanha.com.br
(54) 3295-7575
Estrada do Faxinal, RS 429 - Morro Agudo. Coordenadas: -29.047844, -50.147
Preço: para os meses de junho e julho, as diárias custam entre R$ 403 (barraca luxo) e R$ 1.558 (barraca suíte superior) por casal, incluindo café da manhã
Quem leva
Coiote Adventure
www.coioteadventure.com.br
contato@coioteadventure.com.br
(54) 3504-5302 e (54) 9611-0426
A base de atendimento fica no próprio Parador Casa da Montanha
Preço: a partir de R$ 90, dependendo do passeio
O que visitar
Cânion Itaimbezinho
Aberto de terça a domingo, das 8h às 17h
Ingresso: R$ 6 por pessoa. Criança até 7 anos não paga. Estacionamento: R$ 5
Telefones do parque: (54) 3251-1277 / 3504-5289 / 3251-1262
Cânion Fortaleza
Rodovia CS-012 ; Km 22
Telefone: (54) 3251-1320
Entrada gratuita
Cachoeira dos Venâncios
Estrada da Jaquirana, Km 22
Preço: R$ 5 por pessoa
Sabores da Querência
www.saboresdaquerencia.com.br
(54) 9976-3313
RS 427, Km 3 - Zona Rural. Visitações mediante reserva por telefone