Turismo

Uma viagem no tempo na zona rural de Itatiba (SP): hospede-se nas montanhas

Num cenário histórico, próximo a São Paulo, com quase 145 anos de idade, uma antiga fazenda de café foi transformada em um aconchegante hotel fazenda, perfeito para casais que apreciam o clima rural

Especial para o Correio
postado em 09/06/2015 17:19

Vista dos jardins dedicados a Dona Carolina: perca-se na natureza
Um jardim em zigue-zague ornado por flores onde, ao centro, uma fonte é cercada por bancos para espiar os pássaros. Foi esse o presente que o cafeicultor José Alves Cardoso ofereceu à esposa, Carolina. Muito mais jovem que ele, nesse jardim, ela não iria caminhar para tão longe nas tardes em que ele trabalhava dentro da fazenda. Por isso, da janela, o fazendeiro podia acompanhar ; marido ciumento que era ; o esticar das pernas da amada, bem ao alcance de seus olhos.

Sem saber, José Alves criou uma das paisagens mais bonitas da então Fazenda Jaboticabal. Erguida em 1872, a propriedade foi uma das mais importantes produtoras de café do estado de São Paulo, na época em que o grão valia ouro. Hoje, o jardim ainda é bem cuidado na fazenda que se transformou, há pouco mais de 20 anos, em um hotel na cidade de Itatiba, a 90 quilômetros da capital paulista.

É no jardim-labirinto de Dona Carolina que são feitos casamentos e pedidos de noivado. O cenário bucólico só disputa atenção com a arquitetura colonial portuguesa de dois séculos. Quem se hospeda na Fazenda Dona Carolina se dá, de fato, ao luxo de desfrutar da estrutura do hotel histórico que oferece 90 quartos e diárias que podem variar de R$ 955 a R$ 2.315, incluindo todas as refeições e bebidas (exceto as alcoólicas), além da maior parte dos serviços.

São quatro restaurantes que, a cada almoço e jantar, abrem para atender diferentes cardápios e gostos. No café da manhã, frutas, pães artesanais, queijos e frios, além de outros pratos quentes, são servidos em um salão exclusivo iluminado por painéis de vidro que deixam o verde e a luz entrarem para acordar os visitantes.

A jacuzzi é o espaço ideal para relaxar e apreciar o verde da Fazenda Dona Carolina: opção para os namorados
Descansar e degustar


Para relaxar, há opções como a piscina aquecida ou um espaço zen para massagens, sauna e uma jacuzzi, que pode ser reservada para o casal. Aqueles que preferem atividades ao ar livre podem escolher uma entre as nove trilhas que percorrem a reserva de Mata Atlântica totalmente preservada. Bem sinalizados, os percursos variam de 1,6km até pouco mais de 7km. Ainda é possível fazer os passeios de bicicleta ou a cavalo.

Há, inclusive, passeios noturnos para cavalgar em grupo. Mas, se ouvir alguma história de fantasma, não leve a sério. Tampouco os ruídos noturnos. Os causos se remetem à época em que a fazenda foi construída, quando ainda se vivia sob o regime da monarquia escravista. No entanto, Dona Carolina saiu à frente e, antecipando-se à Lei Áurea, já havia libertado os escravos. Além da alforria, lhes concedeu um terreno de 100 alqueires ; mesmo tamanho da propriedade onde viveu até 1919. Tudo isso para garantir condições dignas de trabalho e moradia.

Refeitos de qualquer susto, os hóspedes quedam-se divertidos quando descobrem que, na verdade, aquele barulho na mata era de algum sagui ou capivara que habitam a região. À noite, também é possível tomar um vinho ou conhaque enquanto assiste a uma seresta na casa principal. Um bom programa é sentar-se ao sofá ou em uma das mesas do bar para apreciar uma apresentação no piano de cauda.

O café servido para encerrar a noite é cultivado na fazenda. Reconhecido por importantes produtores nacionais pela qualidade, quem gosta da bebida pode aprender como é a produção em uma visita guiada. À tarde, o tour começa na plantação de café com um guia que hoje também trabalha como consultor para outras fazendas de São Paulo e Minas Gerais. Seu Jair das Chagas é, sem dúvida, um dos funcionários mais antigos da propriedade.

As cachaças são vendidas apenas no hotel fazenda
Neto do seu Oscar, que já foi administrador e conviveu com muitos herdeiros de Dona Carolina, Jair é um bom contador de histórias. Ao longo do passeio, se aprendem os segredos de quem sabe ; do pé à moagem ; como produzir um bom café. Um deles é a paixão pelo ciclo que envolve plantação, colheita, poda, lavagem e moagem até se obter um produto final de alta qualidade. Atentos, presta-se muita atenção a seu Jair, que dá para cada um provar um grão de café no estágio ;cereja;. Docinho, direto do pé, como deve ser colhido para que o resultado na xícara não seja de amargor.

Fruto do cruzamento do grão catuai com o caturra, o tupi é produzido na fazenda há cinco anos, após um largo período de pausa, uma vez que a fazenda era só de plantação de café no século 19. Seu Jair é responsável pela bem-aventurança dos 4 mil pés que dão frutos na fazenda e que rendem grãos e pó vendidos aos hóspedes em embalagens de R$ 25. Uma gostosa recordação.

Feito com amor


De Brasília, o casal Jones Madruga, 29 anos, gerente de relacionamento, e Rafaella Freitas, 29, gerente de projetos, aproveitou esse e outros passeios na fazenda. Depois de se mudarem para São Paulo, há pouco menos de seis meses, eles decidiram dar um tempo da cidade para curtir o primeiro aniversário de casamento na casa de Dona Carolina. ;Amigos nos indicaram esse lugar para comemorarmos e estamos achando tudo maravilhoso;, disse Rafaella. Para Jones, passar um fim de semana tão perto da natureza é um ;respiro; para quem ainda não se acostumou com a poluição de São Paulo. ;Tudo isso com direito a seresta, passeios e, claro, uma boa cachaça;, brinca Jones, ao se referir à bebida produzida no alambique que o hotel construiu há menos de 10 anos.

O guia Jair das Chagas explica o processo de torrefação do café
Por isso, o casal de brasilienses também foi conferir, no último dia da segunda lua de mel, um tour com o mestre cachaceiro Carlos Alexandre Cimino. O simpático mineiro de Barbacena não perde a chance de fazer rir quem lhe lança perguntas sobre a ;bendita; da cana. Em 40 minutos de visita guiada, é possível conhecer desde o alambique, o processo químico de fermentação até o local onde a cachaça é armazenada em barris de carvalho trazidos da Escócia, a fim de renderem diferentes combinações, sabores e qualidades.

De quebra, Carlos Alexandre serve aos visitantes as três variações que a Fazenda Dona Carolina produz: garrafas de três, cinco e de oito anos de cachaça. A mais nova pode ser consumida tanto ;sozinha como bem acompanhada por uma fruta em uma caipirinha;, dá a dica. Por último, a garrafa de 8 anos é, sem dúvida, a mais saborosa. Feitas as honras, o mestre cachaceiro diz sempre responder à pergunta: ;Qual é a melhor temperatura para se armazenar a cachaça;. A qual logo devolve: ;Se estiver gelada, é perigoso. Você acaba bebendo mais;, brinca.

Para degustar as amostras, entre uma bicada e outra, o mestre cachaceiro aconselha comer uma pimenta-biquinho. ;Mas se não tiver em casa, vale um pedacinho de queijo;, simplifica. O preço, da mais jovem à mais velha, varia de R$ 80 a R$ 270.
Prazeres que aos olhos e ao paladar se repetem aos fins de semana. Dias em que casais, como Jones e Rafaella, decidem vir passear pelo jardim de Dona Carolina. O local que no passado serviu a declarações de amor, não perdeu a vocação.

Aventura em um 4X4
O hotel é o único lugar na América Latina onde é possível fazer a Land Rover Experience. Na sede da marca, há a possibilidade de fazer um curso que une prática e teoria. Serviço opcional, o hóspede pode dirigir uma Land Rover, ou ficar de copiloto, e percorrer uma trilha feita especificamente para essa experiência.

O favorito das crianças
Aprender a ordenhar uma vaca, conhecer os animais da fazenda, fazer trilhas, andar a cavalo, construir arco e flecha e slackline, além de brincar no campo, são algumas das atividades oferecidas pelo hotel para que o casal fique à vontade e deixem os filhos com recreadores credenciados.

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