Wadi Rum está associado a três nomes na história do sonho árabe de fundar um estado unificado desde Alepo, na Síria, estendendo-se a Áden, no Iêmen: o Xerife de Meca Hussein, da dinastia Hachemita; Auda Abu Tayi, líder beduíno, chefe dos Howeitas; e o galês Thomas Edward Lawrence, do Bureau Árabe do Império Britânico. Iniciada em 1916, a Revolta Árabe selou o fim do domínio do Império Turco-Otomano na região, abrindo caminho para o domínio dos britânicos e franceses.
[SAIBAMAIS]
Foi na dinâmica do conflito árabe-turco que Lawrence da Arábia introduziu na região táticas dos chamados ;ataques terroristas;: miravam os trens da única ferrovia que cortava a região, a Hejaz Railway. Construída a partir de 1900, com o apoio e a consultoria dos alemães, aliados do Império Otomano na 1; Guerra Mundial.
As ações terroristas de Lawrence, as promessas dos ingleses de entronizar Hussein, rei do Hejaz, num projeto da nação árabe unida, e o dinheiro inglês, que atraiu os beduínos, selou a aliança entre as antigas tribos árabes rivais. Os três líderes ousaram atacar a importante cidade portuária de Aqaba pelo deserto, algo considerado militarmente impossível, pela adversidade do terreno que teriam de cruzar. Pegos de surpresa, os turcos perderam Aqaba e, com ela, o único porto que tinham na região. À queda de Aqaba, em 1917, seguiu-se a conquista de Damasco: os árabes penetraram e tomaram a cidade antes das tropas inglesas do general Allenby.
Os ingleses entraram na 1; Guerra Mundial achando que na frente oriental seria um passeio. Mas sofreram duro revés dos turcos em 15 de agosto de 1915, na batalha entre navios britânicos e franceses contra a artilharia turca, no estreito de Dardanelos. Os ingleses e seus aliados tentaram melhor sorte em Gallipolli, numa planejada operação do então lorde do Almirantado Churchill. Não só foram derrotados, mas humilhados durante quase nove meses. Os ocidentais recuaram à noite, às escondidas, depois de perder 43 mil homens. As baixas ocidentais alcançaram 220 mil homens, numa campanha que projetou a maior liderança político-militar turca no pós-guerra, o general Mustafa Kemal, ;Atatürk;. Ingleses e franceses tentaram derrotar os turcos uma terceira vez, em setembro de 1915. Dessa vez, o alvo era Bagdá. Foram cercados em Kut, e depois de tentar até subornar o comandante turco, tiveram de se render para não morrer de fome.
Fama
A campanha árabe foi a única ;vitória inglesa; no conflito contra os otomanos e foi a única campanha em que as tropas regulares acabaram tendo papel secundário. Por isso, tão logo Damasco foi tomada, Allenby e o rei Faisal, filho de Hussein, se livraram de Lawrence, devolvendo-o à Inglaterra. Lawrence, entretanto, ganhou notoriedade com a obra Os setes pilares da sabedoria, em que narra a campanha da Revolta Árabe.
Não demorou muito para Hussein descobrir que as promessas inglesas valiam tanto quanto os seus exércitos: o Oriente Médio foi retalhado entre franceses e ingleses pelo acordo Sykes-Picot. Hussein tentou governar o Hejaz, mas foi destronado por seus inimigos sauditas. Aos seus dois filhos couberam os prêmios de consolação: Abdullah ficou com a Jordânia, que não tinha petróleo algum, nem água, sem a Palestina, entregue pelos ingleses aos judeus. A Síria foi ;dada; a Faisal, mas, quando quis, de fato, governar, foi expulso pelos verdadeiros donos, os franceses. Os ingleses o acomodaram no recém-criado Iraque. Faisal, como se sabe, não durou muito, pois, ao contrário da Jordânia, o Iraque tinha petróleo e água. Terminou expulso de lá por militares árabes precursores de um movimento pelo qual ascendeu Sadam Hussein. Os árabes perderam o seu destino pelas mãos dos que os ajudaram a traçar.
De volta ao Império Britânico, o herói Lawrence submergiu por cargos menores no Exército e na Aeronáutica, evitando expor-se como celebridade que já era, até encontrar seu destino num acidente errático de moto. Afinal, como diria Friedrich Nietzsche, ;nada acontece na vida de um homem que não se pareça com ele;.
Espinha dorsal
O principal propósito da Hejaz Railway foi estabelecer, com os seus quase 1.400 quilômetros de extensão, a conexão de Constantinopla (Istambul), capital do Império Turco-Otomano, à cidade sagrada de Meca. Mas em decorrência dos conflitos na região, não foi além de Medina, a 400 quilômetros de Meca. A ferrovia corta a região do Hejaz (a Oeste da Península Arábica), com um braço que se estende até Haifa, no Mar Mediterrâneo, e promoveria a integração econômica e política do Império Turco com as províncias árabes, também facilitando o transporte de forças militares e de suprimentos. Turcos tinham-na como fonte vital de abastecimento aos seus 10 mil homens em Medina. Por isso, a ferrovia tornou-se a espinha dorsal da campanha militar.