Jornal Correio Braziliense

Turismo

Planeje um roteiro para explorar o que cada vinícola chilena tem de melhor

Visitar as casas de vinho requer disposição. Não deixe de experimentar aventuras como um passeio nas alturas

A 25 minutos de carro de Santa Cruz, seguindo a oeste, rumo ao mar, encontra-se a Viña Santa Cruz, de longe uma das vinícolas com mais atrações além do vinho. Fica no Vale Lolol ; uma sub-região do Colchágua. Logo na entrada é possível visitar o Museu do Carro, uma coleção de automóveis e motocicletas clássicas, pertencentes a Carlos Cardoen, que contam a história da evolução automobilística.

[SAIBAMAIS]

No prédio central, começa o tour do vinho. Lá é possível conhecer a origem da bebida, a galeria do terroir (as propriedades do solo influenciam no produto final), o pátio que recebe a colheita, o maquinário de vinificação e, por fim, o salão de degustação, com os rótulos da casa. É possível conhecer toda a propriedade a pé, de bicicleta ou a bordo de carroças. Uma atração à parte é a oficina de vinhos, onde o visitante pode criar a própria bebida fazendo uma mescla com as diversas opções à mão. E sair de lá com a criação engarrafada e com rótulo personalizado.

No alto

A linha de vinhos da casa (entre reserva, gran reserva e edições especiais) aposta no carmén;re, cabernet sauvignon, syrah, sauvignon blanc, merlot e malbec. Quando já se conheceu toda a vinícola, vem o melhor: você embarca em um teleférico que proporciona uma vista incrível de todo o vale e conduz ao Cerro Chamán, a 256 metros de altura. No alto do morro, a oportunidade de conhecer mais sobre as três principais etnias chilenas (Mapuche, Rapa Nui e Ayamara), com diversas moradias que representam a cultura original daquele país, lhamas vivas, um portal do sol Tihuanaco e uma estátua moai, como aquelas da Ilha de Páscoa. Praticamente um museu a céu aberto. Vale a pena investir um tempo no lugar para tirar fotos incríveis. Não bastasse tudo isso, ainda há um observatório astronômico e um planetário.

Voltando no tempo

Enquanto algumas vinícolas se inspiram em projetos e atrações mais modernos, outras cravam o pé no tradicional, o que garante mais uma experiência encantadora. É o caso da Viu Manent, a apenas 10 minutos de Santa Cruz, seguindo para o leste. Logo ao entrar na propriedade, tem-se a impressão de viajar no tempo, ingressando em uma fazenda clássica do vinho. Não é para menos: o empreendimento familiar começou em 1935 e, desde então, os proprietários fazem questão de manter tudo da forma original. As praças são aconchegantes e as áreas internas dão a sensação de estar em outra década, com todo o charme histórico.

O tour pela vinícola começa com um passeio de charrete até os locais de armazenamento do vinho. Entre todos os guias, esse é o que mais detalha os processos da bebida e suas características. É complicado compreender o tal terroir? Eles explicam. Quer saber a diferença dos vinhos guardados em barris de inox, concreto ou madeira? Eles mostram na prática. Antes da degustação em uma sala, os visitantes provam a bebida direto do armazenamento, como o surpreendente Malbec Rosé. O vinho feito com essa uva é tinto, mas os chilenos desenvolveram uma técnica pela qual apenas o suco é utilizado, mudando a cor e o sabor do produto.

O restaurante da casa é uma atração à parte, pois tem vista panorâmica para vários hectares de parreiras. O único ;defeito; é o preço: uma taça de vinho custa o mesmo que uma garrafa inteira, vendida ali mesmo, pertinho, na loja da vinícola.

Onde os vinhos são mágicos

Um lugar para se surpreender é a Viña Montes, a 13 minutos de carro saindo de Santa Cruz. Todo o lugar foi construído com base no feng shui, uma corrente oriental que preza a harmonia na natureza, utilizando-se dos elementos para canalizar as boas energias. E acredite, o lugar transmite, realmente, uma paz de espírito diferente das demais casas. O empreendimento é recente. A parceria se iniciou há 28 anos, mas as instalações modernas foram inauguradas em 2004. O arquiteto Samuel Claro foi responsável pelo projeto e a designer Paula Gutierrez criou a decoração acolhedora. O lugar, cercado por uma paisagem deslumbrante, é lindo.

Logo na entrada é possível notar os princípios do feng shui, baseados nos elementos básicos água, metal e madeira. O acesso se dá por uma ponte de madeira sobre uma pequena lagoa, cuja água flui em direção ao prédio. No centro da vinícola há uma fonte ;mágica;. A guia Romy Rojas faz questão de lembrar que a água que brota do centro da peça de pedra atrai riquezas, então, não se furte em tocá-la. Mas a cereja do bolo está na luxuosa sala de degustação, com a vista mais incrível entre todas as vinícolas do vale. Enquanto prova os vinhos da casa, você se inspira em todas as influências positivas do lugar olhando para as cordilheiras que cercam a região.

Sustentável

A Montes faz um trabalho sustentável, de olho no meio ambiente. E isso se reflete no vinho. As parreiras não são irrigadas (poupando mais de 840 milhões de litros de água por ano) e aproveitam apenas a umidade da noite. Isso faz com que as raízes das plantas cresçam mais para o fundo, o que resulta em mais minerais e maior qualidade. A uva não é esmagada na vinificação, como ocorre na maioria das vinícolas. ;Aqui usamos apenas a gravidade. As uvas são jogadas do alto nos barris e apenas se rompem. Assim, as sementes não se quebram, o que deixa o vinho mais aveludado, sem tanta adstringência;, explica Romy.

O resultado do processo se vê no produto final. São muitas as pessoas que não se acostumam ao vinho de qualidade por o considerarem ;seco;. Isso acontece quando o tanino da bebida não é tão suave. Os elementos ásperos surgem justamente quando se esmagam demais as sementes e a pele da uva. E sem essa adstringência, dá para provar os vinhos da casa e se preocupar apenas com as outras nuances, como as notas de frutas vermelhas do Montes Outer Limits Pinot Noir ou o amadeirado do Montes Alpha Syrah.

A visita não poderia ficar completa sem uma passada pela adega da Montes. E se até ali você não conseguiu sentir a áurea mística da vinícola, se prepare para um bombardeio nos sentidos. O lugar é um anfiteatro fechado e climatizado que acomoda os barris de carvalho francês, local onde a bebida descansa por meses. O diferencial está no ar: o cheiro enebriante de vinho vem acompanhado de um canto gregoriano que toca 24 horas por dia com o objetivo de harmonizar a maturação. Dá vontade de sentar ali nos degraus e se esquecer do mundo lá fora.

A melhor época para visitar essa e outras vinícolas é o período de colheita, entre março e abril, pois as parreiras estão abarrotadas de racimos (cachos). De maio a junho as plantas descansam e depois sofrem uma poda severa ; quanto mais as parreiras ;sofrem; com esse processo, mais produzem em termo de qualidade. As novas uvas vão se desenvolver de agosto a março.