O passeio por parte da história de Gabriel García Márquez começa no Parque Bolívar. Na realidade, uma praça a poucos metros da Catedral Basílica Metropolitana de Santa Catarina de Alexandria. Contemple a torre em cores vibrantes e luzes, a partir do entardecer, que valorizam os tons em amarelo e vermelho. Embora seja difícil alguém se perder dentro da cidade fortificada ou amuralhada, é bom gravar visualmente a torre como forma de orientação.
O Parque Bolívar, um ponto bem central, tem no entorno os museus da Inquisição (Palacio de la Inquisición) e do Ouro (Museo del Oro), este numa versão bem reduzida do existente em Bogotá. Nico conta que Gabo teria dormido num banco do parque, em 1948, quando a capital colombiana, onde estudava direito, fervilhava em protestos, turbulência política e atos de violência. Despertado pela polícia, teve que se explicar às autoridades.
[SAIBAMAIS]Certamente, o visitante voltara várias vezes ao Parque Bolívar, onde fica o monumento em homenagem ao general venezuelano Simón Bolívar (1783-1830), hoje mais falado do que nunca por causa do ;bolivarianismo;. Bolívar é denominado o ;libertador;, pois liderou a luta pela independência de seu país, Venezuela, da Colômbia, da Bolívia e do Peru, do Equador e do Panamá do domínio espanhol. No início da noite, o espaço público fervilha com apresentações de um grupo de dançarinos, bailando freneticamente o ritmo la cumbia.
Impressionante ver a performance dos jovens bailarinos. Eles movimentam o corpo inteiro, eletricamente, em solos, pares ou grupo. As roupas das meninas são coloridas, as saias rodadas, em um tecido que lembra a nossa chita. Já os rapazes se apresentam sem camisa e não perdem o pique durante mais de duas horas. Ao fim de cada performance, passam o chapéu para garantir a gorjeta dos turistas.
Outro livro que tem Cartagena como cenário é Relato de um náufrago, narrando a história de um marinheiro sobrevivente, em 1955, no mar do Caribe. A história foi publicada originalmente num jornal. Nesse contexto está o Museu Naval de Cartagena, antigo hospital naval, e o antigo quartel e delegacia de polícia, hoje o imponente Hotel Santa Tereza. O amor nos tempos do cólera, que ganhou as telas do cinema, imortalizou nas páginas o romance entre Fermina Daza e Florentino Ariza, no século 19. ;Só muito tempo depois é que fiquei sabendo que aquela senhora que visitava minha loja era a maior atriz brasileira;, contou um lojista sobre a atriz Fernanda Montenegro, que filmou em Cartagena e interpretou, na fita, a mãe de Florentino Ariza.
No roteiro, o turista vai se deparar com a Figura Reclinada, doada pelo artista colombiano Botero, em 14 de abril de 2006. Trata-se de escultura que ficou conhecida por La gorda de Botero. Na Praça de São Domingos, Valentina, a vendedora de frutas, abre o sorriso, mas cobra por uma foto. Já ;celebridade local;, faz pose e exibe na saia e na bacia sobre a cabeça a variedade de cores do Caribe.
Há muitos outros atrativos na cidade e personagens típicos. E vale descobrir, passo a passo. O povo da terra conta que foi no universo ;cartagenero; que Gabriel García Márquez ouviu relatos fabulosos e reuniu elementos fantásticos para criar Macondo, a cidade mágica de Cem anos de solidão. Mas isso aí já é outra história... (GW)
Caminhada pelas páginas
Quente, muito quente, com temperatura que pode chegar a mais de 40 graus no alto verão e sensação térmica nas alturas. E úmida, muito úmida, no nível de ensopar a roupa ; de algodão, pelo amor de Deus! ;, embora sem interferir em nada na vontade de passear, Cartagena oferece mil prazeres terrenos e marítimos e, no primeiro caso, o melhor mesmo é explorar a cidade fortificada e desfrutar da gastronomia nativa.
Se, durante as caminhadas, der aquela sede suprema, não pense duas vezes: tome uma ;limonada de coco;, num copo alto, servida em mesa estratégica para ver o agito nas ruas. Trata-se de uma bebida refrescante, receita que, dificilmente, o garçom ou o dono do estabelecimento vão revelar. Desconversam, dizem que é segredo da casa, enfim, não revelam nem com reza brava. Aproveite, então, e tente achar, no paladar, os ingredientes além do limão e do coco.
Garrafinha de água para qualquer emergência e dinheiro trocado para a arepa... e lá se vão os visitantes seguindo as pegadas de Gabriel García Márquez, autor também de Do amor e outros demônios, O general em seu labirinto, Crônica de uma morte anunciada, O amor nos tempos do cólera e outros sucessos de público e crítica. Na volta da viagem, sem dúvida alguma, o viajante vai querer ler ou reler algumas dessas obras espetaculares, que contêm em cada página emoção, segredos de família, amores desvairados, vingança, e, claro, o realismo mágico puro e de origem.
A obra Do amor e outros demônios se passa integralmente em Cartagena. É a história da menina Sierva Maria, filha do marquês de Casalduero, que é mordida por um cachorro com raiva e, com perdão do trocadilho, vira o ;cão;. O guia Nicomedes Vergara, o ;Nico;, de 57 anos e com três décadas de experiência na área de turismo, conta que o episódio teve como cenário a praça onde pontifica a estátua do espanhol Pedro de Heredia, fundador de Cartagena em 1; de junho de 1533. A cidade é a capital do Departamento de Bolívar.
Vale a pena observar cada detalhe da cidade, com ruas estreitas e casas muito coloridas. É fundamental conferir bem de perto as aldravas de ferro nas portas, em forma de cavalos-marinhos, golfinhos, tartarugas, lagartos e outros animais, num convite ao visitante para bater na porta. Bacana demais também é conferir o número de cravos nas portas: quanto maior o número dessas peças, maior o número de escravos do proprietário, explica o guia.
> Serviço
Tour Gabriel García Márquez
- Guia de turismo: Nicomedes Vergara
- Telefones: 315 710 8700 e 315 788 7817
- E-mail: nivermel@hotmail.com