Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 07/02/2018 20:00
Três estados nordestinos, Maranhão, Piauí e Ceará, se unem numa rota que leva turistas por caminhos encantadores de paisagens deslumbrantes, guiados por um povo hospitaleiro, alegre e carinhoso. Conheça as três portas de entrada para muitos passeios, curta o pôr do sol, experimente as delícias da culinária local e volte sempre que sentir saudades.
Há três séculos, a história de um casal, um fazendeiro e um boi passa por gerações no Nordeste brasileiro. Grávida, mãe Catirina sentiu um forte desejo de comer língua de boi. O marido dela, Pai Francisco, decidiu atender o pedido da mulher e cortou a língua de um dos animais do rebanho onde ele trabalhava. Após alguns dias, o boi adoeceu por causa do ferimento e o patrão descobriu o que tinha acontecido. Tomado pela raiva, ele ameaçou todos de morte.
Desesperado, Pai Francisco chamou os índios da região, que fizeram um ritual e conseguiram curar o bicho favorito do fazendeiro. O homem ficou tão feliz que decidiu fazer uma festança na região, que hoje é conhecida como o festival do Bumba Meu Boi. Essa lenda é uma das muitas que percorre as ruas de São Luís, no Maranhão, um dos primeiros destinos daqueles que querem percorrer a Rota das Emoções. O roteiro, composto por mais dois estados, Piauí e Ceará, tem muitos outros contos, paisagens e sentimentos para transmitir.
A Rota das Emoções é um projeto de roteirização dos três estados elaborado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em conjunto com o Ministério do Turismo (MTur). Iniciado em 2005, o roteiro compreende locais paradisíacos do Nordeste brasileiro como o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, Parque Nacional de Jericoacoara e o Delta do Parnaíba. Quem decidir se aventurar no roteiro encontrará diversidade em ecoturismo, praias, gastronomia, artesanato, esportes e uma grande riqueza cultural. A ligação de todos esses itens permite que os turistas consigam diferenciar a diversidade das tradições de cada região. No total, são cerca de mil quilômetros a serem percorridos.
A expedição pelos três estados nordestinos pode ser iniciada por São Luiz, no Maranhão, ou por Fortaleza, no Ceará. Nos últimos quatro anos, a Rota das Emoções recebeu mais de 70 mil pessoas. O tempo médio para visitar os 15 municípios incluídos no cronograma pode levar de oito a 15 dias. O investimento para os turistas fica entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, sem contabilizar os gastos com a passagem aérea. O indicado é procurar agências de turismo que ofereçam o pacote com todos os passeios incluídos (Leia Serviço).
De história e lençóis
Quem começar a Rota das Emoções pelo Maranhão desembarcará em São Luís. A cidade conta com mais de seis mil construções no centro histórico tombado patrimônio da humanidade. A capital é a única no Brasil fundada por franceses. No entanto, foi colonizada por portugueses e sofreu uma invasão holandesa. A cidade tem mais de 405 anos, desde a chegada dos franceses. O nome foi inspirado no rei francês Luiz IV. A região tem clima quente e úmido e terra fértil, um dos fatores que atraiu a colonização estrangeira.
Uma curiosidade sobre o estado é como o reggae se tornou um dos principais estilos musicais. As rádios locais só conseguiam transmitir sinais vindos do Caribe, que era famoso pelo ritmo. No entanto, como os nativos maranhenses captavam os sons, a dança foi desenvolvida a partir dos passos do forró. Por isso, quem vai ao Maranhão dança um reggae mais caliente, com passos mais envolventes do que o tradicional.
Os frutos do mar se destacam na gastronomia e um dos pratos mais famosos é o arroz de cuxá. Para o preparo, é utilizado azedinha, uma erva, camarão seco e farinha de mandioca. A receita sofreu misturas portuguesa e africana e está à disposição nos principais restaurantes. Peixes como robalo e pescada-amarela estão entre os carros-chefes.
Ao sair de São Luís, o primeiro ponto de parada para a Rota das Emoções é o município de Barreirinhas. Contemplado pelo Rio Preguiças, tem pouco mais de 60 mil habitantes e é outro ponto de entrada para os Lençóis Maranhenses. Por isso, o número de pousadas, comércios e turistas é elevado. A antiga vila de pescadores passou a ser procurada, principalmente, pelo público europeu. A população e o comércio local se adaptaram ao ritmo turístico da região. As lojas de artesanato e alguns estabelecimentos abrem à tarde, momento em que muitas pessoas voltam dos passeios pela região.
O artesanato de Barreirinhas é famoso por utilizar a fibra de buriti, que é retirada da palmeira para produzir bolsas, colares, chapéus e outros itens que podem ser encontrados por toda a cidade, além da feira do artesão, que fica próxima ao Rio Preguiças. Por volta de 18h, os comerciantes abrem as portas e recebem os turistas. Próximo dali, bares e restaurantes funcionam quase que como uma tradição movidos pelo forró e reggae.
A população local vive basicamente da pesca, comércio e turismo. Jairo Souza, 22 anos, nasceu em Barreirinhas e trabalha como guia turístico desde os 15 anos. Ele conta que a movimentação de pessoas cresceu a partir de 2001, quando a estrada de ligação com São Luiz foi construída. Ele também relata que a gravação da novela O Clone, nos Lençóis Maranhenses, atraiu os olhares do público brasileiro. ;Aqui chega gente de todo lugar. Tem muitos de São Paulo, e também muito europeu. Eu amo o lugar que nasci, é com as histórias daqui que faço meu serviço;, afirma. Para Jairo, a maior riqueza de Barreirinhas está no céu. ;Quando está de noite e a lua tá cheia, é como se tivéssemos olhando para o sol. Aqui, as estrelas cadentes não são raras;, exalta.
O próximo destino da Rota das Emoções é a vila de Atins. É preciso atravessar o Rio Preguiças, que desagua na Praia de Atins. O passeio de 50km demora, em média, 3 horas, se o turista optar por todas as paradas. O trajeto normal dura cerca de 1 hora. No caminho é possível apreciar as dunas dos Pequenos Lençóis, na vila de Vassouras. O lugar conquista pela paisagem e pela possibilidade de tomar banho nas águas do rio. Quem parar em Vassouras deve tomar cuidado com os macacos da região, que são famosos por praticar pequenos furtos de óculos de sol e comida. Quem sair pela manhã e quiser fazer uma refeição antes de chegar em Atins, pode ir ao restaurante Cabana do Peixe, na Praia do Caburé. E pode passear de quadricículo. O preço varia de R$ 30 a R$ 60. O principal meio de transporte em Atins são os quadriciclos. A quantidade deles é surpreendente.
A parada em Atins desperta o sentido aventureiro dos turistas. A vila com chão de areia tem cerca de dois mil habitantes, que vivem em casas humildes. Não há sinal para telefones, no entanto, a paisagem natural dispensa o contato com a tecnologia. A população é acolhedora e pacata. Em Atins, quando anoitece, os moradores vão para as portas das casas e iniciam diálogos que duram até a madrugada. A povoado também é um dos pontos de entrada para os Lençóis Maranhenses. Semelhante aos povoados vizinhos, a economia de Atins é focada na pesca. No entanto, os pescadores costumam vender o alimento em Barreirinhas, de acordo com eles, onde a clientela é maior.
Para realizar os passeios, os guias usam os carros 4x4, que possibilitam a locomoção na areia. Dentro de cada automóvel fica uma ferramenta para calibrar os pneus. Os motoristas explicam que, para andar na areia, os carros precisam estar baixos, porém, quando chegam em locais pavimentados, eles precisam parar e encher novamente as câmaras de ar. Esse processo é realizado várias vezes ao dia pelos condutores da região.
Investimento estrangeiro
Além de visitar as belezas maranhenses, o público estrangeiro passou a empreender na região. Pousadas, restaurantes e bares dos ;gringos; são famosos. Há cerca de 15 anos, o designer Peter Noeldner, 47 anos, recebeu a indicação de visitar o Maranhão. Ao chegar, o alemão decidiu realizar o sonho de morar em um país tropical. Comprou uma residência e abriu uma pousada.
Há mais de 10 anos, a pousada Acquamarina, em Atins, atende os mais diversos públicos. Peter conta que depois investiu cerca de R$ 200 mil no terreno. ;Hoje consigo mais de R$ 1 milhão na minha propriedade;, afirma. Na pousada, são mais de 15 quartos disponíveis e a diária custa, em média, R$ 220. O alemão, apaixonado pela cultura brasileira, conta que passa mais de 6 meses por ano no Brasil e o restante do tempo na terra natal. ;É muito gratificante trabalhar no Brasil. Aqui, há menos burocracia e as pessoas são alegres e felizes;, diz. Em Atins, Peter consegue falar português fluente e o estabelecimento dele é conhecido como ;pousada do alemão;.
Lençóis mal dobrados
Fotografias, vídeos e relatos não são suficientes para transmitir a beleza e sensação de visitar os Lençóis Maranhenses. Os guias e a população local contam que o lugar recebeu esse nome porque, se olhado de cima, a paisagem passa a ideia de lençóis mal dobrados. O deserto brasileiro, como também é chamado, fascina aqueles que o visitam. O calor é im placável, porém, o vento refresca constantemente. Ao colocar os pés nas areias dos Lençóis, os visitantes também se surpreendem. O solo é frio e o recomendado é andar descalço. Por conta do lençol freático e do constante vento, o chão não fica aquecido.
Apesar do cenário de deserto, as lagoas formadas a partir das dunas de areia dão um tom paradisíaco. Os guias andam por lá como se estivessem em casa. Conhecem cada lagoa e cada duna, mesmo que elas mudem constantemente de lugar por causa da erosão natural. Os pequenos aglomerados de água são alimentados pela chuva e duram a maior parte do período de estiagem. Cada local desses também tem um nome próprio. A Lagoa Azul é uma das preferidas para visitação. No total, são 155 mil hectares de paisagem e as dunas podem chegar a até 40 metros de altura.
Pela Rota das Emoções, os Lençóis Maranhenses podem ser acessados por três portas de entrada: Barreirinhas, Atins e Santo Amaro. Todo transporte é realizado por veículos 4x4. Os turistas são levados por carros conhecidos como jardineiras, que são automóveis com cadeiras na parte de trás da caçamba. O balanço e o contato com a vegetação proporcionam o sentimento de aventura. O passeio só pode ser realizado com acompanhamento de guias e custa em média R$ 80. Dependendo do ponto de entrada, o trajeto pode demorar de 15 a 30 minutos.
São Luiz
Pestana São Luís Hotel
(98) 2106-0505
Barreirinhas
Pousada Encantes do Nordeste
(11) 3331.3434
(98) 3349.0260
(11) 96890.6060
(98) 98857.4425
Atins
Pousada Jurará
(11) 3331-3434
Onde comer
São Luiz
Restaurante do Senac
(98) 3198-1100
Pizza One
(98) 3248-3132
Barreirinhas
Restaurante Bambaê
(098) 3349-0288
Cabana do Peixe
(98) 98193-6310
Atins
Restaurante Canto do Atins
(98) 98709-7661
Receptivo
Taguatur
(98) 3228-3131
Tropical Adventure
(98) 3349-1987
Natur Turismo e Eco Adventure
(86) 3322-8174