Turismo

Riquezas centenárias guardadas na cidade manauara

Manaus foi durante muito tempo uma espécie de ilha da fantasia no meio da imensidão verde. Foi a cidade mais rica do país. Hoje, as marcas da pujança estão em antigas construções ao estilo francês

Juliana A. Saad, Especial para o Correio
postado em 12/04/2018 10:00

Manaus foi durante muito tempo uma espécie de ilha da fantasia no meio da imensidão verde. Foi a cidade mais rica do país. Hoje, as marcas da pujança estão em antigas construções ao estilo francês

Perto de completar 350 anos de fundação, em 2019, Manaus foi criada a partir do forte de pedra e barro que os portugueses construíram às margens do Rio Negro. A cidade conheceu uma riqueza inesperada no início do século 20 com o comércio da borracha, sendo considerada a mais rica do país. Ocorreu então uma verdadeira revolução urbana que viu surgir palacetes e casarões ao estilo francês, bondes elétricos, telefones, eletricidade e água encanada. E, sobretudo, o impactante Teatro Amazonas, monumento dedicado à arte, para satisfazer à elite local, nostálgica das soirées europeias.

O moderno porto flutuante garantia a chegada e partida de navios de diferentes países e tamanhos e tudo corria bem sem que se percebesse que os ingleses haviam pirateado sementes de seringueiras e estavam cavando, além dos buracos para as mudas no Sudeste Asiático, o fim dos tempos de fartura e glamour em Manaus, que ganhou seu nome em 1856 em homenagem aos indígenas da etnia Manaós, que lutaram contra o domínio português para não se tornarem escravos.
[SAIBAMAIS]
Dois ou três dias em Manaus garantem uma boa viagem, com visita obrigatória ao imponente Teatro Amazonas, erguido durante anos em etapas sucessivas e decididamente impulsionado por Eduardo Ribeiro, o primeiro governador negro do Brasil. Mas só foi inaugurado em 1896, após sua morte.

Outro lugar de destaque na cidade é o simpático Mercado Municipal Adolpho Lisboa, que permite a descoberta de ingredientes típicos da culinária amazônica e de seu artesanato, inspirado nas tradições indígenas. A algumas dezenas de metros dali estão os mercados da Banana e do Peixe, onde se destacam os coloridos cachos de pupunha, do tucumã e do açaí. Em frente, no Rio Negro, dezenas de barcos compõem um dos cartões-postais de Manaus, com saídas para ver o encontro das águas, a maior atração natural próxima, quando a água escura do Negro e a barrenta do Solimões se encontram, sem se misturar por cerca de 6 quilômetros. (Colaborou Mauro Marcelo Alves)

Guardião da cidade fantasma

Manaus foi durante muito tempo uma espécie de ilha da fantasia no meio da imensidão verde. Foi a cidade mais rica do país. Hoje, as marcas da pujança estão em antigas construções ao estilo francês

Uma das experiências mais intrigantes do passeio pelo Rio Negro é a chegada à cidade fantasma de Airão Velho. Ali, ruínas de antigos casarões com árvores e cipós se unindo às paredes são lembranças dos tempos de riqueza gerada pela borracha até a metade do século 20. Foi o primeiro povoado português às margens do Rio Negro, a partir de 1694. Concentrava toda a produção de borracha do alto Rio Negro e seus afluentes, do Rio Jaú e até de locais mais distantes, como Roraima.

Airão Velho dá a sensação de abandono, mas um homem magro, de seus pouco mais de 70 anos, recebe os passageiros do Jacaré-Açu. É o japonês Shigeru Nakayama, nascido em Furuoka, que vive sozinho há alguns anos, ;guardando; o que resta da outrora próspera cidade. Em 1876, o inglês Henry Wickham levou sementes brasileiras e passou a plantar seringais em colônias no Sudoeste da Ásia.

Airão perdeu seu único negócio e aos poucos foi abandonada, com os habitantes sendo transferidos para a localidade de Itapeaçu, rio abaixo e a 3 horas de barco, que cresceu e ganhou o nome de Novo Airão. O japonês nos leva até sua casa e mostra recortes de jornais e revistas com sua história, que foi tema de documentários em redes de tevês estrangeiras. Fizemos um tour pelas ruínas, algumas revelando o que teriam sido belos casarões de estilo europeu. Pelas trilhas, chegamos ao cemitério, onde cruzes de ferro caídas e lápides de mármore de um ou dois séculos convivem com o mato. Voltamos ao Jacaré-Açu ouvindo a lenda, bem amazônica, de que Airão Velho foi abandonada não apenas pelo declínio da venda da borracha, mas porque seus moradores foram perseguidos por formigas de fogo gigantes. (JAS/MMA)

Comer, beber, navegar e relaxar
Manaus foi durante muito tempo uma espécie de ilha da fantasia no meio da imensidão verde. Foi a cidade mais rica do país. Hoje, as marcas da pujança estão em antigas construções ao estilo francês
Café da manhã, almoço, lanche com aperitivos e tira-gostos, jantares com vinho. O Jacaré-Açu tem 69 pés, mas de sua pequena cozinha saem preparações que encantam pela autenticidade amazônica, com peixes variados e de bom sabor como a matrinchã, o tucunaré, o tambaqui, o jaraqui ou o pirarucu cozidos, fritos ou em caldeirada. Os acompanhamentos são caprichados, principalmente com o uso do tucupi, mandioca, banana pacovã, tapioca, açaí. O cardápio passeia por vários ingredientes amazônicos com um toque contemporâneo de Débora Shornik.

Estrelas do rio
Manaus foi durante muito tempo uma espécie de ilha da fantasia no meio da imensidão verde. Foi a cidade mais rica do país. Hoje, as marcas da pujança estão em antigas construções ao estilo francês
Na volta a Novo Airão, fomos direto à cabana fluvial do projeto que coordena a estrutura sustentável do turismo com boto na Bacia do Rio Negro, onde conhecemos o ciclo de vida e hábitos desses lendários golfinhos amazônicos, de três espécies, sendo que o mais conhecido é o cor-de-rosa, também descrito como o mais inteligente de todas as espécies. Eles chegam com regularidade à beira da cabana para abocanhar peixes. Na hora indicada, alguns apareceram, para alegria de quem estava fotografando.

Vale a pena visitar a Fundação Almerinda Malaquias, que através da Expedição Katerre estimula os trabalhos manuais e atua como centro de educação e formação profissional em marcenaria. É coordenada pelo suíço Jean-Daniel Vallotton, há 20 anos na Amazônia, que, além de ensinar, faz contatos para conseguir recursos que viabilizem a fundação. As peças em marchetaria e pequenas esculturas, à venda ali, são muito bonitas, com uso de madeiras descartadas pelos estaleiros da cidade ou aquelas naturalmente caídas na floresta. (JAS/MMA)

Gavião
Manaus foi durante muito tempo uma espécie de ilha da fantasia no meio da imensidão verde. Foi a cidade mais rica do país. Hoje, as marcas da pujança estão em antigas construções ao estilo francês
O lodge une arquitetura, meio ambiente e responsabilidade social com design sustentável no projeto de Patricia O;Reilly e paisagismo por Clariça Lima. Além disso, é recheado de mobiliário artesanal e peças regionais feitos por artistas e artesãos da Fundação Almerinda Malaquias, apoiada pelo hotel.

O Mirante do Gavião Amazon Lodge (www.mirantedogaviao.com.br), está às margens do Rio Negro, em frente ao Parque Nacional de Anavilhanas, uma região com um dos biomas mais abundantes e preservados da Terra. Apenas sete bangalôs erguidos em madeira de lei que remetem à forma de barcos invertidos. Passarelas de madeira conectam os bangalôs e as instalações do hotel: piscina e o restaurante Camu Camu, com menu que destaca os ingredientes amazônicos e seus peixes, em receitas criativas assinadas pela chef Debora Shornik. Das mesas, é possível ver o vai e vem dos barcos pelo rio e o píer do hotel que, com frequência regular, é também local de partida e chegada das expedições fluviais da Katerre. (JAS/MMA)


Serviço
  • Os barcos da Expedição Katerre fazem trajetos regularesde 3 a 7 noites ou viagens contratadas em qualquer época do ano. Os roteiros mais curtos (3 noites) percorrem as Anavilhanas e os mais extensos (7 noites) sobem o Rio Negro até o Rio Jauaperi, na divisa com o estado de Roraima. Informações: @expedicaokaterre / expedicoes@katerre.com.

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