Turismo

Além dos pés na areia: os encantos de Baturité para quem vai ao Ceará

Em Baturité, a serra verdadeira, como denominaram os índios da região, o clima é mais ameno e a paisagem se transforma. Montanhas e abismos levam à Rota Verde do Café

Murilo Fagundes*
postado em 14/07/2018 10:00

Casa grande com uma árvore

;...Oh, quanta saudade
Que eu tenho de lá
Oh, quanta saudade...;


(No Ceará é assim, Fagner)

Quem vai ao Ceará geralmente espera encontrar praia ou sertão. Mas, a 1h30 de carro da capital, a região do Maciço do Baturité, formada pelos municípios de Mulungu, Guaramiranga, Pacoti e Baturité, prova que há muito mais a ser descoberto no estado. Área de proteção ambiental, é numa ilha verde de Mata Atlântica que o café prospera desde o século 19. Com fauna e flora ricas, a região é um paraíso para pesquisadores e amantes da natureza e é onde surge a Rota Verde do Café, formada por museus, sítios referências em produção cafeeira e até um mosteiro. Esses locais buscam, por meio do turismo, desenvolver a sustentabilidade e valorizar a história de um Brasil que nem todos conhecem.

A estrada que leva os visitantes à Rota Verde do Café conta com desvios acentuados. As serras e os abismos começam a aparecer, o número de curvas aumenta, a paisagem vai mudando, e os visitantes já nem parecem mais estar no Ceará. Acostumados com o calor de Fortaleza, enfrentam temperaturas que beiram os 20 graus, oito abaixo da temperatura média da capital.

O nome Baturité é indígena e significa ;serra verdadeira;. O professor e pesquisador da história local de Baturité, Levi Jucá, conta que os índios, ao observarem a grande cadeia montanhosa, a comparava com um serrote. ;Eles acreditavam que aqui era a serra verdadeira, um lugar sagrado;, conta.

O Correio visitou dois sítios famosos pela produção do chamado café de sombra nos últimos séculos: o Sítio Águas Finas, da família Uchôa, e o São Luís, que recebeu a primeira muda do café arábica, na década de 1920.



Para saber mais

Portas abertas

Para o próximo ano, as expectativas do turismo cearense são as melhores. A expansão do hub com a Gol e Air France-KLM realizada desde maio tornam o Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza, próximo de se consolidar a principal porta de chegada de turistas estrangeiros ao Nordeste. O aeroporto, que hoje conta com 48 frequências de destinos nacionais, 14 de destinos internacionais e mais de 80 voos nacionais, somente da GOL e Latam, em 2019, terá 100 voos diários apenas dessas duas companhias. A região espera a chegada de cerca de 70 mil novos turistas estrangeiros por ano. (MF)

Zelo e Tradição

Café da manhã



No Sítio Águas Finas, localizado na pequena Guaramiranga, uma das cidades da Rota Verde do Café, os turistas podem visitar uma plantação de cerca de sete hectares, saborear o fruto, acompanhar o processo de secagem e torragem e, por fim, provar o delicioso e premiado café do produtor Francisco Uchôa, 72 anos, que faz a tradição cafeeira da família prosperar. O solo úmido e fértil, a vegetação, a chuva e a altitude favorecem o plantio na região do Maciço. Mas não só esses fatores são responsáveis pelo sucesso.

;Para o café ser bom, tenho que fazer o dever de casa: colher somente grãos maduros (os vermelhos) e secar o café em terreiros suspensos, para livrá-lo da umidade do solo;, diz Uchôa em um dos momentos da visita guiada. Ele se orgulha quando explica sobre a relação da família com a tradição cafeeira. O café mais famoso da região é o ;típica;, considerado a joia rara do Brasil e tratado por especialistas como o ;lendário típica;.

O sítio Águas Finas existe desde 1939 e era do avô de seu Uchôa, José Castello Uchôa. Para se qualificar, o produtor começou a participar de simpósios e investiu na parte turística quando o local passou a ser um dos pontos da Rota Verde, organizada pelo Sebrae. O produtor, hoje, recebe turistas do mundo inteiro e tem muita paciência para cuidar tanto da plantação quanto da visita. ;Preciso de dois ;p;: paixão e paciência. Busco ser melhor a cada dia;, diz. A produção ocorre de segunda a sábado e, no sítio, é possível comprar pacotes de café moído.(MF)

Casarão suntuoso

Casa grande com árvores ao redor


O Sítio São Luís fica na cidade de Pacoti, região da Serra de Baturité. Para chegar até lá, o visitante precisa tomar cuidado, pois a estrada tem vários caminhos e é fechada pela mata. Mas enfrentar a complexidade das estradas vale a pena, ainda porque geralmente as agências de turismo, já habituadas, escolhem o melhor caminho. Em instantes, a paz do lugar começa a encantar o visitante. O excesso de verde e o silêncio, difíceis de serem percebidos na cidade grande, logo se tornam exuberantes e o que vem à mente é a vontade de agradecer por estar em um lugar tão diferente de tudo.

Ao chegar ao casarão do sítio, a proprietária Cláudia Góes ou uma de suas filhas, Renata e Laura Góes, recebem os turistas. Elas são as responsáveis por administrar o Sítio. No dia em que o Correio esteve por lá, o professor e historiador Levi Jucá também nos recebeu. Em meio ao verde da vegetação que cobre a serra, a uma altitude de 679 metros acima do nível do mar, é possível ver uma construção de majestosas colunas brancas que se fecham em arcos. Na sala de entrada, fotos históricas e registros preenchem as paredes. Nesse local, uma palestra é ministrada e tem o objetivo de contar aos turistas todos os detalhes do lugar histórico que dona Cláudia e família tentam conservar do jeito que foi construído. O interessante é que a família Góes mora no local, ou seja, o casarão não é museu, mas, sim, moradia.

Concebida para romper séculos e atravessar gerações, a Casa do Sítio São Luís é a prova dos tempos áureos do café na Serra de Baturité. Nesse sentido, o historiador Levi revela histórias surpreendentes contextualizadas na tradição do cultivo do café, no Ceará e no Brasil, enquanto os ambientes da Casa são percorridos. ;Casarões como o do Sítio São Luís são a prova viva de uma história que é um capítulo especial no Brasil e no Ceará;, diz ele em um dos momentos do passeio.

No fim da visita, depois da palestra, uma surpresa é preparada especialmente para os visitantes: o café do sítio. Pão e ricota caseiros, geleias, uma receita secular do delicioso bolo de café e a própria bebida que leva os turistas ao local enchem as mesas. ;Não servimos café colonial. Servimos o café do sítio, feito com muito amor;, diz dona Cláudia, que tem a missão de levar para frente, com as filhas, a história da família.

As visitas no Sítio São Luís podem ser realizadas nos sábados e nos domingos, das 10h às 17h, pelos preços de R$ 25 e R$ 35 por pessoa. Com R$ 25, o turista pode saborear o famoso café do sítio e com R$ 10 a mais assiste à palestra sobre a história do local. Grupos com mais de 10 pessoas precisam agendar horário e recebem desconto.

Serviço:

Conheça os seis pontos da Rota Verde do Café:

Museu Ferroviário de Baturité
Baturité (CE)
Mosteiro dos Jesuítas Sítio Olho d;Água, Zona Rural - Baturité (CE).
(85) 33470362
www.mosteirodosjesuitas.com.br
Sítio São Roque
Mulungu (CE)
(85)9.9414.0652, (85) 9.9658.0010, (85) 9.9671.8083 e (85) 9.9994.44.71 / sitiosaoroquece@gmail.com
Facebook: sitiosaoroqueoficial

Sítio Águas Finas
Guaramiranga (CE)
(85) 3272 0240 / 3221 1226/ 988983233
casaraodosuchoa@hotmail.com

Fazenda Floresta
Guaramiranga (CE)
(85) 3325.1337/ 98547.3856

Sítio São Luís
Pacoti (CE)
85 987290099 / 85 986169837 / 85 986810410
sitiosaoluis@gmail.com / ww.facebook.com/sitiosaoluis
www.sitiosaoluiseaserradebaturite.blogspot.com.br

Nosso Sítio
Pacoti (CE)
(85) 3325.1234
contato@chalenossositio.com.br
www.chalenossositio.com.br



* Viagem a convite da Secretaria de Turismo do Ceará

* Estagiário sob supervisão de Taís Braga

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