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História e cultura rodeiam o Castelo do Mar no Líbano

Numa pequena ilha do Mediterrâneo, uma edificação medieval é ligada ao continente por uma estreita passagem. A 20 quilômetros de Beirute, foi erguida por Cruzados no século 13

Bertha Maakaroun - Especial para o Correio
postado em 26/08/2018 10:00
Castelo do Mar, Líbano

De um tradicional ponto de encontro do souk da velha cidade, homens sorvem o café turco e puxam tranquilamente o narguillé em meio ao alarido das vendas e ao chamado da fé que ecoa dos minaretes da Grande Mesquita. Ao longe da agitação das ruas e das passagens apinhadas, a fortaleza se abre ao Mediterrâneo em forte contraste com as instalações portuárias modernas. Chama-se Castelo do Mar, foi erigida por Cruzados no século 13, que aportaram à chamada ;Terra Santa;, cenário de combates de sua igualmente ;santa; guerra. Estamos no litoral Sul do Líbano, na portuária e milenar Sidon ; para fenícios, Saidoon, uma de suas principais cidades-estado; em árabe, Sayda, localizada a 20 quilômetros de Beirute.

Embora a edificação do Castelo do Mar seja medieval, ela se levanta sobre uma pequena ilha conectada ao continente por uma estreita passagem e foi possivelmente erigida sobre as ruínas de um templo fenício dedicado ao deus Melkart, posteriormente adaptado por gregos e romanos que identificavam-no a Hércules. Diz a lenda que a produção de corantes roxos, extraídos do molusco Murex trunculus, pela qual também se notabilizou a cidade-estado fenícia, teria sido legada aos fenícios por Melkart e a sua amante, a ninfa Tyrus. A cor púrpura associada à realeza foi muito usada no Egito Antigo e no Império Romano, paga por reis e imperadores a peso de ouro, decorrente da onerosa e exclusiva forma de produção.

Batizados de ;príncipes dos mares;, os fenícios dominaram a arte da construção de navios e o comércio no Mediterrâneo, estabelecendo colônias pela costa mediterrânea, entre as quais Cartago, no Norte da África. Na costa libanesa, Biblos (em árabe), Jbai e Tiro (também chamada Tyre ou Sour) são as mais importantes. Na atividade mercante, promoveram um intercâmbio comercial, cultural e religioso expresso na sofisticação e no sincretismo cultural dos povos do Mediterrâneo, Ásia e Oriente. Foram responsáveis pela difusão do alfabeto por volta de 800 a.C., em substituição à escrita cuneiforme, do qual derivam os alfabetos latino, árabe, grego e hebraico.

Os bazares, na entrada do castelo, são ricamente decorados
Saidoon ou Sayda no Antigo Testamento Sayda recebe o nome de ;o filho primogênito de Canaã;, sendo ela e seus moradores citados 38 vezes em sentido bastante abrangente, por vezes associada a Tiro, sugerindo ser Sidon ampla referência à Fenícia. Esteve na Antiguidade sob o domínio assírio, babilônio, persa, sob a influência do império construído por Alexandre da Macedônia, de selêucidas na Síria, dos Ptolomaicos no Egito e dos romanos. A partir de 667, foi incorporada pelo Império Umaída, muçulmano. No século 11, um missionário persa descreveu: ;As muralhas, muito bem construídas, têm quatro porões. Os bazares são tão esplendidamente decorados que um estranho pode imaginar que o sultão esteja sendo esperado. São tais os pomares, que pode se imaginar que cada um foi planejado para a visita de um rei;.

Sayda foi capturada em 1110 por Balduíno de Bolonha, um dos líderes da Primeira Cruzada. Permaneceu sob o domínio cristão até 1187, quando se rendeu a Saladino, que marchou sobre a costa após a conquista de Jerusalém. A guerra ;santa; promoveu um vaivém entre cristãos e muçulmanos pelo domínio de Sayda, só interrompido pelos mamelucos em 1291.Por quase 400 anos sob a dominação Otomana, Sayda voltou a florescer a partir de 1517. Em 1920, a cidade foi incorporada ao Mandato Francês, nos anos 1950, foi terminal de um gasoduto árabe e, desde 1991, após a Guerra Civil libanesa de 1975, Sayda se ergue, nas diversas possibilidades abertas pela origem da palavra: em grego, como phoinix, um ;pássaro maravilhoso; ou como phoinos, ;na cor púrpura;, sem que jamais lhe caiba um fim.

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