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Guerreiros da terra, conheça esculturas repletas de história na China

Em tamanho natural, esculturas de seis mil combatentes do império chinês, com seus armamentos, cavalos e carruagens guardam a tumba do imperador Qin Shi Huangdi

Bertha Maakaroun - Especial para o Correio
postado em 03/09/2018 17:05
Guerreiros de Terracota Xiuan, na China, representados em argila

Seis mil guerreiros em formação militar quadrada empunham, ao lado de cavalos e carruagens de combate, espadas, lanças, arcos e flechas. As cabeças elevadas cada qual em seu penteado se perdem pelo labirinto de trincheiras, localizadas a 1,5 quilômetro da tumba do primeiro imperador Qin Shi Huangdi (259 a.C ; 210 a.C), responsável há 2.200 anos pela unificação de sete estados ; Qi, Chu, Yan, Han, Zhao, Wei e Qin ;, colocando fim ao Período de Reinos Combatentes (476 a.C ; 221 a.C) e fundando o império da China ou o Império do Meio como se autodeclararam.

Em terracota e tamanho natural, a infantaria do monumental exército está perfilada num retângulo de 14.260m; e integra apenas uma das trincheiras dessa complexa necrópole, que apenas veio à luz em 1974, quando agricultores da Província de Shaanxi escavavam um poço. O assombro do mundo foi crescente, à medida que as evidências de novas trincheiras surgiam ; como as de número dois e três, ainda em escavação, onde se reúnem respectivamente cavalaria e o centro de comando, com 70 oficiais de alta patente.

São três trincheiras que somam mais de 20 mil m²
As três trincheiras, que somam mais de 20 mil m;, são a representação em argila do poderoso exército da Dinastia Qin ; também conhecida por Dinastia Chin, da qual a China herdou seu nome ; à espera da ordem de combate. Um dos mais grandiosos do país, integram o mausoléu de Qin, encravado ao sopé da montanha Li, no distrito Lintong do município de Xi;an, desenhado também para espelhar o plano urbano da capital do império.

Por acreditar na imortalidade da alma, todos os imperadores chineses tinham particular cuidado na construção de suas tumbas, considerada tarefa tão importante quanto a administração dos reinos. Desde que foi aclamado rei quando tinha 13 anos, o jovem Zheng, que só assumiu o título de Shi Huangdi (augusto ou o primeiro imperador) após derrotar os reinos rivais e unificar a China, iniciou a construção do próprio mausoléu. Com as vitórias militares, a obra ganhou magnitude monumental: foram 38 anos, ao longo dos quais, 700 mil trabalhadores e delinquentes nela se empenharam, contingente superior por exemplo àquele registrado na edificação da Pirâmide Keops, no Egito.

As estruturas, em Terracota, foram encontradas em Shaanxi
O mausoléu de Qin constitui um luxuoso reino subterrâneo, que acolhe o imperador em seu palácio, cercado por joias e tesouros, protegido por seu exército. Junto a ele, em seu caixão, todas as concubinas que não tiveram filhos foram mortas e enterradas. Para manter em segredo os detalhes e a localização, também aqueles que participaram da construção dessa tumba encontraram a eternidade em seus corredores.

As escavações revelaram imagens de animais e carruagens
Zheng, mais tarde, Shi Huangdi, da dinastia Qin, foi um estrategista militar e político, que legou à China obras magníficas, como o início da Grande Muralha, mas, sobretudo e mais importante, um território unificado, colocando fim a séculos de combates sangrentos entre sete reinos vassalos que se distribuíam desordenadamente e de forma entrelaçada. Eram tão violentas e longas as guerras pela hegemonia da região que, segundo registros históricos, em 260 a.C, na famosa Batalha Changping entre Qin e Zhao, a tropa deste, por falta de cereais e armas, foi forçada a se render a Qin. Quatrocentos mil soldados derrotados foram enterrados vivos, o que pode ser constatado nas ruínas desta batalha, onde se empilham os ossos. Um filósofo da época assim descreveu essa assombrosa guerra e seu desfecho, milênios depois, ainda tão atual: ;Lutam pela terra e terminam com a terra coberta de mortos; lutam por cidades e terminam com as cidades cheias de cadáveres. As carruagens, cavalos, soldados e armas que perdem em cada batalha, não os recuperam nem com 10 anos de cultivo;.

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