Turismo

Lugar não tão distante, Chile é opção para turistas aventureiros

Não precisa atravessar o oceano para aproveitar as paisagens de folhinhas de calendário, com neve, árvores brancas ou vulcões. O país vizinho tem cenários e estrutura para diversas experiências

Fernando Jordão
postado em 17/10/2018 17:00

Pessoas preparadas para esquiar

Vulcões, árvores e estradas completamente brancas, cobertas por neve e estações de esqui. Todos esses são elementos tão distantes da realidade brasileira que até parecem restritos à imaginação, à ficção ou a viagens longas e caras. Mas, na verdade, eles podem estar mais próximos ; e a um preço razoavelmente menor ; do que se imagina. A menos de cinco horas de viagem (partindo de São Paulo) e com passagens que podem ser encontradas facilmente por valores abaixo de R$ 500 (cada trecho), o Chile, cujo nome significa lugar distante ou mais profundo da terra, desponta como boa opção para quem deseja experimentar esses cenários tão diferentes.

Embora a porta de entrada do país para os brasileiros, a capital Santiago, também tenha estações de esqui, a neve é mais farta ; e as paisagens mais bonitas ; no sul do Chile. Para chegar à região da Araucanía, existem duas opções: a primeira é de ônibus. Feita pela empresa Bio Bio, a viagem até Temuco ; cidade que é a capital da região ; dura cerca de oito horas e custa algo em torno de R$ 120. A segunda alternativa, bem mais rápida e quase ao mesmo custo, é de avião. Como o Chile tem companhias aéreas low cost, a passagem pode ser encontrada por menos de R$ 150 e o tempo de trajeto é reduzido para uma hora e 20 minutos.

Luis Aranera é o Lonco da Comunidade Indígena Benancio Huenchupan


A chegada em Temuco já é bonita por conta do aeroporto que, apesar de muito pequeno ; tem capacidade para apenas quatro aeronaves ;, é deslumbrante. Destaque para a iluminação externa, que muda de cores a todo instante, e para as placas de sinalização em espanhol, inglês e no idioma mapuche, usado pelos nativos. Apesar de Temuco, com seus mais de 300 mil habitantes, ser a capital, o destaque da região é a Reserva Nacional de Malalcahuello, em Curacautín, onde estão localizados, por exemplo, o vulcão Lonquimay e a estação de esqui de Corralco, instalada em sua base.

O caminho até a reserva pode ser feito, mais uma vez, de ônibus (com passagem equivalente a R$ 55) ou em carros alugados. O perigo, nesses casos, é a falta de costume em dirigir na neve. Contratar um motorista particular pode sair por até R$ 1 mil para grupos de oito pessoas (R$ 125 para cada passageiro). O trajeto de pouco mais de 100km é deslumbrante. No auge do inverno ; entre os meses de agosto e setembro ;, a copa das árvores, as montanhas que margeiam a estrada, a própria estrada; absolutamente tudo é coberto por um enorme tapete branco formado pela neve. Não é difícil esbarrar com bonecos de neve, que compõem uma paisagem que parece saída de um cartão-postal natalino do hemisfério norte. Difícil mesmo é acreditar que estamos no mesmo continente do Brasil.

Gente da terra

Diversos trabalhos artesanais indígenas sustentam as comunidades

As placas no idioma Mapuche no Aeroporto de Temuco têm uma razão de ser. Com cerca de 17 milhões de habitantes, o Chile tem uma população indígena estimada em quase 1 milhão de pessoas. Apesar de a maior parte deles viver hoje nos grandes centros urbanos, principalmente em Santiago, a região da Araucanía é tida como o coração do território Mapuche, palavra que significaria algo como ;gente da terra;.

Na região, existem diversas comunidades autossustentáveis que lutam para manter a cultura de seu povo viva. Assim como no Brasil, o principal embate dos indígenas é com os latifundiários que se apropriam de seus territórios. Em janeiro deste ano, inclusive, o papa Francisco, em visita à cidade de Temuco, defendeu a cultura Mapuche e pediu um minuto de silêncio pelos que ainda hoje sofrem com a injustiça e a discriminação e pelos milhares que foram mortos, tanto pelos conquistadores espanhóis, quanto pela ditadura de Augusto Pinochet.

Essas comunidades são comandadas por um líder escolhido espiritualmente e chamado de Lonco. Luis Aranera, de 28 anos, é o Lonco da Comunidade Indígena Benancio Huenchupan, localizada em Curacautín e composta por 32 famílias, que totalizam 120 pessoas. Assim como a maior parte dos jovens, ele deixou a comunidade aos 15 anos para viver próximo a Santiago. Mas acabou voltando aos 18 para, segundo ele, atender a um chamado espiritual.

Mesmo tendo conhecido todo o conforto que as grandes cidades oferecem, Aranera, que carrega a simplicidade de seu povo, diz não querer luxo. ;A felicidade está em ter uma água limpa, uma família. Quando se morre, não se leva nada. Tem gente que dedica a vida a conseguir algo material e, quando chega a hora de desfrutar, morre. A maior riqueza está em aprender a amar e a valorizar o que tem;, diz, com a voz serena e uma sabedoria que contrasta com a pouca idade. Deve mesmo ter vindo de algum ancestral.


* Repórter viajou a convite do Serviço Nacional de Turismo do Chile (Sernatur)

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