Jornal Correio Braziliense

Turismo

Não tem idade para se jogar na felicidade

A sensação de vencer o desafio é única, não importa a idade. Com roteiros cuidadosamente preparados e seguros, os mais maduros podem usufruir de atividades que exigem muita coragem

;Um pouco de aventura liberta
a alma cativa do algoz cotidiano.;


Clarice Lispector




Pular de paraquedas, bungee jump, praticar motociclismo, descer em tirolesa são exemplos de atividades geralmente identificadas com pessoas cheias de energia, com espírito aventureiro e jovens. Quem acredita que essas aventuras podem ser um risco para aqueles que passaram dos 60 anos de idade, está enganado. A professora de educação física da Universidade de Brasília Marisete Safons afirma que a evolução dessa atividade entre os mais velhos se deu com o tempo. ;Hoje, a mesma população que nasceu na década de 30 e 40 e praticava alguma modalidade de aventura, hoje continua, e há aqueles que resolveram experimentar pela primeira vez;, explica.

A idade não é impedimento para grande parte da população que se aventura em atividades que são pura adrenalina ou simplesmente faz o que sente vontade de fazer. Para muitos, o auge da vida é estar em plena condição física e usufruir de atividades que proporcionam um desempenho saudável para o corpo e para a alma.

Segundo Marisete, desde que a pessoa tenha um bom preparo físico, essas aventuras são bem-vindas e recomendadas na vida desses vovôs e vovós radicais. ;Esses esportes trazem uma série de benefícios à saúde desse público, não só à saúde física, mas à saúde mental e social também pois acabam ampliando as relações sociais entre os mais velhos e os mais novos;, garante a especialista. A verdade é que, atualmente, existem muitos idosos que dão aula de coragem para os jovens quando o assunto é esporte de aventura.

No entanto, devem ser tomadas precauções antes de qualquer atitude radical. Estar atento ao condicionamento físico e ter uma liberação médica são itens indispensáveis antes da aventura para que não haja surpresa no caminho. ;É importante refletir sobre a adrenalina que essas atividades provocam e isso faz com que essas pessoas se sintam mais vivas e capazes de realizar coisas que elas desejaram quando jovem e não puderam fazer;, completa Safons.

Viver as emoções


Dona Dadá e José Estebam, ambos com 77 anos e mais de 52 anos de casamento, colecionam muitas viagens repletas de aventuras. ;Se depender de mim, o que eu puder fazer, eu faço;, diz Dadá. O gosto pela prática de atividades radicais é antigo. ;Desde criança, gostei de esportes. Para mim está no sangue.; Os dois fazem uma dupla perfeita: ela aproveita a adrenalina de seus saltos e José faz os registros. ;Meu marido gosta muito de fotografar e filmar e eu aproveito e sinto o momento;, brinca. ;Eu só acompanho e tiro as fotos, enquanto ela curte e fica feliz, eu também fico feliz;, completa o marido.


;Eu não tenho medo de alturas;, explica Dadá, que viajou até Boituva, em São Paulo, para pular de paraquedas, em 2016. ;Eu me senti felicíssima, o vento no rosto faz você vibrar por dentro, é um momento difícil de explicar;, conclui. A tirolesa é uma das atividades que também está na lista de Dona Dadá. ;Sou apaixonada pelas tirolesas do Parque dos Sonhos e de Poços de Caldas, já andei nesses lugares umas cinco vezes e pretendo voltar novamente no final deste ano;, explica. ;Na minha época, praticar esses esportes era mais difícil, hoje estamos aproveitando mais porque é mais acessível;, justifica.


Segundo o instrutor da escola de paraquedismo Skydive Cerrado, em Anápolis (GO), Paulo Júnior, os idosos são mais calmos que muitos jovens quando o assunto é pular de paraquedas. ;Minha opinião é que eles já viveram tantas emoções que, no momento do salto, o estado mental deles está mais sossegado;, afirma.

Amante da altura, quem vê a senhora praticando tais atividades nem imagina que em 1969 ela rompeu os ligamentos do joelho. ;Fui operada, fiquei um ano em cadeira de rodas e fiz dois anos de tratamento. Mas isso não me impediu de fazer nada do que eu goste;, conta. Logo após esse período, Dadá começou na natação ganhando quatro medalhas de ouro, ;rapadura é doce, mas não é mole, não;, destaca, sorridente.

Sem frio na barriga


Fã incondicional de esportes de aventura, o advogado Aroldo Costa, 87 anos, não esconde a disposição de experimentar as diversas modalidades. A primeira vez que foi ao Parque dos Sonhos, no ano passado, ele se sentiu realizado. ;O local é um sonho pra mim, já voltei oito vezes;, conta. O idoso não consegue ficar parado, nem pensa em aposentadoria. Trabalha de segunda a quinta no próprio escritório, para que o fim de semana seja maior. Ele considera que não corre riscos e está sempre disposto a novos desafios. ;A palavra medo não existe no meu dicionário;, garante.

Aroldo, que já foi jogador de futebol, confessa a preferência pela tirolesa voadora. ;É a atividade de que mais gosto;, mas sempre encontra tempo para se movimentar e se sentir bem, principalmente no hotel preferido. ;Pratico cavalgadas, faço a trilha das cachoeiras, onde caminho pelas matas por uma hora, saindo do hotel e chegando ao local das cavalgadas, faço o circuito radical de tirolesas ; tirolesa do pânico, espanto e calafrio;, são mais de 1.600 metros; tirolesa voadora com 1Km de extensão e 120 metros de altura, arvorismo completo a 150 metros;, detalha.

As aventuras, no entanto, têm mais um significado na vida de Aroldo, que é ferrenho defensor da preservação do ambiente. Para ele, a prática do turismo de aventura deve ser feita com responsabilidade. ;A sensação que tenho é de estar em outro mundo, olhando para baixo, onde percebo que a natureza deve ser tratada com mais amor e carinho por todos nós;, ressalta. (AB)