Turismo

Não tem idade para se jogar na felicidade

A sensação de vencer o desafio é única, não importa a idade. Com roteiros cuidadosamente preparados e seguros, os mais maduros podem usufruir de atividades que exigem muita coragem

Adriana Botelho*
postado em 21/11/2018 17:00

;Um pouco de aventura liberta
a alma cativa do algoz cotidiano.;


Clarice Lispector


A sensação de vencer o desafio é única, não importa a idade. Com roteiros cuidadosamente preparados e seguros, os mais maduros podem usufruir de atividades que exigem muita coragem

Pular de paraquedas, bungee jump, praticar motociclismo, descer em tirolesa são exemplos de atividades geralmente identificadas com pessoas cheias de energia, com espírito aventureiro e jovens. Quem acredita que essas aventuras podem ser um risco para aqueles que passaram dos 60 anos de idade, está enganado. A professora de educação física da Universidade de Brasília Marisete Safons afirma que a evolução dessa atividade entre os mais velhos se deu com o tempo. ;Hoje, a mesma população que nasceu na década de 30 e 40 e praticava alguma modalidade de aventura, hoje continua, e há aqueles que resolveram experimentar pela primeira vez;, explica.

A idade não é impedimento para grande parte da população que se aventura em atividades que são pura adrenalina ou simplesmente faz o que sente vontade de fazer. Para muitos, o auge da vida é estar em plena condição física e usufruir de atividades que proporcionam um desempenho saudável para o corpo e para a alma.

Segundo Marisete, desde que a pessoa tenha um bom preparo físico, essas aventuras são bem-vindas e recomendadas na vida desses vovôs e vovós radicais. ;Esses esportes trazem uma série de benefícios à saúde desse público, não só à saúde física, mas à saúde mental e social também pois acabam ampliando as relações sociais entre os mais velhos e os mais novos;, garante a especialista. A verdade é que, atualmente, existem muitos idosos que dão aula de coragem para os jovens quando o assunto é esporte de aventura.

No entanto, devem ser tomadas precauções antes de qualquer atitude radical. Estar atento ao condicionamento físico e ter uma liberação médica são itens indispensáveis antes da aventura para que não haja surpresa no caminho. ;É importante refletir sobre a adrenalina que essas atividades provocam e isso faz com que essas pessoas se sintam mais vivas e capazes de realizar coisas que elas desejaram quando jovem e não puderam fazer;, completa Safons.

Viver as emoções

Dona Dadá, 77 anos, não esquece a sensação do primeiro salto:


Dona Dadá e José Estebam, ambos com 77 anos e mais de 52 anos de casamento, colecionam muitas viagens repletas de aventuras. ;Se depender de mim, o que eu puder fazer, eu faço;, diz Dadá. O gosto pela prática de atividades radicais é antigo. ;Desde criança, gostei de esportes. Para mim está no sangue.; Os dois fazem uma dupla perfeita: ela aproveita a adrenalina de seus saltos e José faz os registros. ;Meu marido gosta muito de fotografar e filmar e eu aproveito e sinto o momento;, brinca. ;Eu só acompanho e tiro as fotos, enquanto ela curte e fica feliz, eu também fico feliz;, completa o marido.
A sensação de vencer o desafio é única, não importa a idade. Com roteiros cuidadosamente preparados e seguros, os mais maduros podem usufruir de atividades que exigem muita coragem


;Eu não tenho medo de alturas;, explica Dadá, que viajou até Boituva, em São Paulo, para pular de paraquedas, em 2016. ;Eu me senti felicíssima, o vento no rosto faz você vibrar por dentro, é um momento difícil de explicar;, conclui. A tirolesa é uma das atividades que também está na lista de Dona Dadá. ;Sou apaixonada pelas tirolesas do Parque dos Sonhos e de Poços de Caldas, já andei nesses lugares umas cinco vezes e pretendo voltar novamente no final deste ano;, explica. ;Na minha época, praticar esses esportes era mais difícil, hoje estamos aproveitando mais porque é mais acessível;, justifica.
A sensação de vencer o desafio é única, não importa a idade. Com roteiros cuidadosamente preparados e seguros, os mais maduros podem usufruir de atividades que exigem muita coragem

Segundo o instrutor da escola de paraquedismo Skydive Cerrado, em Anápolis (GO), Paulo Júnior, os idosos são mais calmos que muitos jovens quando o assunto é pular de paraquedas. ;Minha opinião é que eles já viveram tantas emoções que, no momento do salto, o estado mental deles está mais sossegado;, afirma.

Amante da altura, quem vê a senhora praticando tais atividades nem imagina que em 1969 ela rompeu os ligamentos do joelho. ;Fui operada, fiquei um ano em cadeira de rodas e fiz dois anos de tratamento. Mas isso não me impediu de fazer nada do que eu goste;, conta. Logo após esse período, Dadá começou na natação ganhando quatro medalhas de ouro, ;rapadura é doce, mas não é mole, não;, destaca, sorridente.

Sem frio na barriga

A sensação de vencer o desafio é única, não importa a idade. Com roteiros cuidadosamente preparados e seguros, os mais maduros podem usufruir de atividades que exigem muita coragem


Fã incondicional de esportes de aventura, o advogado Aroldo Costa, 87 anos, não esconde a disposição de experimentar as diversas modalidades. A primeira vez que foi ao Parque dos Sonhos, no ano passado, ele se sentiu realizado. ;O local é um sonho pra mim, já voltei oito vezes;, conta. O idoso não consegue ficar parado, nem pensa em aposentadoria. Trabalha de segunda a quinta no próprio escritório, para que o fim de semana seja maior. Ele considera que não corre riscos e está sempre disposto a novos desafios. ;A palavra medo não existe no meu dicionário;, garante.

Aroldo, que já foi jogador de futebol, confessa a preferência pela tirolesa voadora. ;É a atividade de que mais gosto;, mas sempre encontra tempo para se movimentar e se sentir bem, principalmente no hotel preferido. ;Pratico cavalgadas, faço a trilha das cachoeiras, onde caminho pelas matas por uma hora, saindo do hotel e chegando ao local das cavalgadas, faço o circuito radical de tirolesas ; tirolesa do pânico, espanto e calafrio;, são mais de 1.600 metros; tirolesa voadora com 1Km de extensão e 120 metros de altura, arvorismo completo a 150 metros;, detalha.

As aventuras, no entanto, têm mais um significado na vida de Aroldo, que é ferrenho defensor da preservação do ambiente. Para ele, a prática do turismo de aventura deve ser feita com responsabilidade. ;A sensação que tenho é de estar em outro mundo, olhando para baixo, onde percebo que a natureza deve ser tratada com mais amor e carinho por todos nós;, ressalta. (AB)

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