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Liaoning, no Nordeste do país, também conhecida como Manchúria, teve a sua Cidade Imperial e guarda um patrimônio precioso para a história da China

Nahima Maciel
postado em 25/09/2019 04:13

Prédios de cidade chinesa cercada por água

Pequim ; A cinco horas de trem-bala de Pequim, a província de Liaoning é inusitada para uma visita à China, mas guarda um patrimônio que faz valer o passeio. Também conhecida como Manchúria, essa região no Nordeste do país tem uma história recente bastante conhecida. Ocupada pelos japoneses no início do século 20, serviu de refúgio para o último imperador, Puyi, que contava restaurar a dinastia Qing com a ajuda daqueles que sempre foram os grandes inimigos da China.

Shenyang, a capital, foi cidade imperial antes que os Ming transferissem essa função para Pequim e, por isso, é repleta de construções históricas e guarda, inclusive, uma cidade imperial em formato bem menor do que a Cidade Proibida, mas tão exuberante quanto. A região também é conhecida como o Cinturão da Ferrugem, por conta das indústrias e do alto grau de poluição. Mesmo assim, o turismo natural é um dos trunfos de Liaoning, que abriga uma seção da Grande Muralha, a única que passa pela água, a fronteira com a Coreia do Norte e uma caverna com um rio subterrâneo que se estende por 5,800 metros.


SHENYANG


Não há cidades pequenas na China. As menores contam, em média, com 3 milhões de habitantes. Nessa escala, Shenyang, capital da província de Liaoning e localizada no extremo nordeste da região, é considerada uma cidade grande. São mais de 8 milhões de habitantes em um território considerado como emergente e estratégico para a indústria chinesa, com portos e rotas de distribuição e comércio para o exterior, especialmente Japão e Coreia. É um dos bolsões capitalistas que mais se desenvolvem na China hoje e um perfeito exemplo do ;socialismo com características chinesas; idealizado por Deng Xiaoping para impulsionar o crescimento do país.

Templo chinês vermelho com jardim à frente
A 700km de Pequim, a cidade também foi sede do futebol nas Olimpíadas de 2008 e recebeu jogos da seleção brasileira. O ponto turístico mais conhecido de Shenyang é o Palácio Imperial Mudken, construído no início do século 17 pelos imperadores da dinastia Qing e hoje incluído na lista de patrimônios históricos da Unesco. Cerca de 300 edifícios, alguns menores, outros maiores, e 20 pátios internos formam a estrutura desse palácio, outrora habitado pelo imperador Qialong e suas 40 mulheres, uma história que ajuda a construir as lendas em torno do monumento.

Como em outros palácios, há pouca coisa para ver no interior dos prédios que formam o complexo. Assim como na Cidade Proibida, as coleções de pinturas, porcelanas, móveis e objetos ficam expostas em um prédio à parte. A coleção é dividida em duas fases: artefatos utilizados na corte e objetos da dinastia Qing. O Palácio Imperial de Shenyang e a Cidade Proibida são as duas estruturas imperiais mais bem preservadas do país.


No total, três gerações de imperadores viveram no local e diz a lenda que as 40 esposas dividiam um único edifício. Para os 40 filhos ficava reservado o pavilhão verde. A cor era importante, já que o vermelho significava fogo, e as crianças tinham medo das labaredas. Em um dos pavilhões, um aparato de sacrifício dá uma ideia da importância das simbologias: um porco recebia água quente pelos ouvidos e, se ele balançasse a cabeça, significava que as oferendas da família real tinham sido aceitas.

Origens guardadas

Templo chinês com pessoas na praça em frente

Inaugurado no mesmo ano de fundação da República Popular da China, esse museu abriga uma coleção notável de objetos importantes para a compreender as origens da província de Liaoning, mas também da China. Originalmente, funcionava no centro histórico de Shenyang, mas desde 2004 está instalado em um distrito periférico, em um prédio de arquitetura contemporânea cujas 12 salas abrigam a coleção permanente, que é dividida em 17 categorias e conta com pinturas, cerâmicas, esculturas, peças em bronze, moedas e caligrafia.

Uma das histórias mais interessantes desse museu está relacionada ao último imperador, Puyi, destituído pela revolução de 1911 e encarcerado em 1949, quando Mao Tsé Tung instaurou a República Popular da China. Puyi foi, durante décadas, considerado um traidor por ter se associado aos japoneses quando invadiram e tomaram a Manchúria, localizada na província de Liaoning. Ao fugir da Cidade Proibida, levou centenas de peças, tesouros históricos que contava salvar ou vender ao longo dos anos. Um lote de 20 peças dessa coleção foi parar no Museu da Província de Liaoning.

É lá também que está o Ten-bamboo Studio, o primeiro livro colorido de impressões em madeira da China. Essa técnica de impressão é originariamente chinesa e nasceu há mais de 2.200 anos. Nas salas dedicadas à porcelana, há uma viagem particular: cada cor, cada combinação de desenhos, assim como de formas, representavam uma dinastia e uma hierarquia na sociedade chinesa antiga. Porcelana feitas para o imperador, por exemplo, levavam cerca de três meses para ficarem prontas.

A simbologia era importante na confecção dos desenhos e muitas têm pássaros, um animal importante na cultura chinesa. Regras rígidas pautavam as confecções e cor e design obedeciam aos títulos reais. Algumas peças trazem dragões com cinco dedos, o que significava que pertenciam aos imperadores e só podiam ser usadas por eles. Funcionários podiam usar peças com dragões com quatro dedos e pessoas normais, com três dedos. Fábricas como a Jingdezhen Roayal Kilns abasteciam a dinastia Qing e precisavam seguir à risca as regras. Qianlong gostava de cores específicas e determinava, por exemplo, que a imperatriz e a rainha-mãe tinham direito a uma quantidade limitada de peças. Uma maquete bastante detalhada mostra o processo de confecção da porcelana. (NM)


Palácio Mudken

Onde viveu o imperador Qialon e suas 40 mulheres

300 edifícios
alguns menores, outros maiores e

20 átios internos

formam a estrutura do monumento



* Viajou a convite do Ministério do Comércio da República Popular da China

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