Turismo

Em busca de caminhos

postado em 25/09/2019 04:13
Juventude chinesa prefere investir na profissão do que formar uma família: busca por mercados em desenvolvimento

A juventude chinesa na casa dos 20 anos é fruto da política do filho único implantada em 1979 para conter o crescimento populacional. Em 2015, as regras foram aliviadas e hoje é permitido ter dois filhos. No entanto, com o crescimento econômico e os bolsões capitalistas, criar uma família tem um preço e muitos jovens não querem ter filhos. ;Você trabalha a vida inteira e só consegue comprar um banheiro;, repara a estudante Qianyi Fei, 21 anos. ;Eu não quero ter filhos, já tenho um gato.;


A pressão sobre as meninas começa cedo na China. ;Aqui, com 30 anos, já sou considerada velha para ter filhos;, conta a jornalista Bai Hao, que, por enquanto, também não quer filhos. A revolução comunista pregava que todos são iguais e a ideia de um feminismo chinês seria uma consequência disso, mas ainda há vários costumes e tradições com peso forte nessa sociedade. A política do filho único ajudou a aumentar a exigência de que todos tenham filhos logo, porque, para muitas famílias, o nome pode não ter continuidade. Mas há também uma certa herança machista. As estudantes Qianyi Fei, Luo Wenying, 23, e Zhu Jie, 23, ambas filhas únicas, acreditam que os meninos são privilegiados e mimados. Para elas, isso tem um reflexo, inclusive no desempenho escolar. ;Eles estudam menos porque são mimados;, garante Qianyi.


Mas há outro problema, mais complexo para as estudantes: quando se tem um filho homem, é preciso, ao longo da vida, comprar um apartamento para ele. A posse do imóvel é praticamente uma exigência para o casamento. Nas grandes cidades, muitas jovens estão enfrentando essa tradição e admitindo casar sem o imóvel, mas a pressão familiar é sempre uma realidade. Zhu Jie, 23 anos e mestranda em língua portuguesa, conta que não vai condicionar o próprio casamento à aquisição do imóvel e pode até ajudar na compra. ;Mas é verdade que existe essa exigência;, diz.


Qianyi Fei, Luo Wenying e Zhu Jie escolheram estudar letras na universidade e fazem parte de uma elite crescente com acesso ao ensino universitário. A China está focada na inserção em mercados em desenvolvimento e a quantidade de estudantes dedicados ao português é grande. As três falam o idioma e, para facilitar a interação com os ocidentais, se apresentam com nomes em português, escolhidos durante um sorteio nos primeiros dias de aula. É um costume entre os estudantes de língua na China, especialmente aqueles que lidam com estrangeiros.

Qianyi, Luo e Zhu foram selecionadas pelo Ministério do Comércio da República Popular da China para acompanhar o grupo de 26 jornalistas de língua portuguesa, originários do Brasil, Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique convidados para um seminário focado em aulas sobre a cultura e a história do país e em interação com jornalistas dos veículos oficiais chineses, como o Diário do Povo, a Rádio Internacional da China, a revista China Hoje e a agência de notícias Xinhua.



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