Pequim ; A comida é um episódio à parte em uma viagem à China. Os extremos do bom e do ruim são uma realidade e, com frequência, o ocidental fica meio perdido ao se deparar com ingredientes bastante exóticos. Mas sempre há a opção do noodle, embora não se deva desprezar os hotpots e alguns pratos típicos. Muito popular e antigo ; vestígios arqueológicos evidenciam o consumo em cerca de 200 anos a.C., o hotpot é sempre uma aventura.
Ele consiste, basicamente, em uma salmoura ou um caldo feito com carnes, especiarias e legumes que vêm à mesa fervendo e no qual se mergulha uma variedade sem fim de ingredientes. O caldo pode ser muito apimentado, e essa é uma tradição, mas há opções também sem pimenta em alguns restaurantes. Aliás, para quem tem problemas com pimenta é questão de sobrevivência aprender a expressão ;méiyou hújião;, que significa ;sem pimenta;.
Alguns hot pots são servidos com espetinhos para serem mergulhados no caldo, outros têm buffet para os clientes escolherem. Em todos, você pode encontrar coisas como esôfago e sangue de pato, sapo-boi, pulmão de porco, todo tipo de cartilagem e até larvas. É uma quantidade de iguarias digna de Indiana Jones. Mas vale a experiência, que também pode ser uma descoberta.
No campo dos noodles, a empreitada é mais segura. Feitos com caldinhos leves nos quais se cozinha o macarrão de arroz ou trigo, folhas, verduras e carnes, o noodle sempre salva a hora da refeição quando se trata de comida asiática.
Outra peculiaridade da China é a temperatura da bebida. A medicina tradicional diz que líquidos gelados podem desequilibrar o corpo, especialmente o feminino. Resultado: boa parte da água disponível nos restaurantes é morna e a cerveja nem sempre vem gelada. Se você quiser algo frio, tem que ser enfático no uso do ;bing;, que quer dizer gelado.
Uma experiência imperdível está nos restaurantes tradicionais nos quais são servidos rodízios com pratos típicos. Aí, é preciso ter estômago, lembrar que muita coisa na culinária chinesa é frita, a combinação agridoce é uma constante e boa parte será não identificada, por mais que haja foto no cardápio. E se não tiver, o jeito é encarar a aventura.
Em busca de caminhos
A juventude chinesa na casa dos 20 anos é fruto da política do filho único implantada em 1979 para conter o crescimento populacional. Em 2015, as regras foram aliviadas e hoje é permitido ter dois filhos. No entanto, com o crescimento econômico e os bolsões capitalistas, criar uma família tem um preço e muitos jovens não querem ter filhos. ;Você trabalha a vida inteira e só consegue comprar um banheiro;, repara a estudante Qianyi Fei, 21 anos. ;Eu não quero ter filhos, já tenho um gato.;
A pressão sobre as meninas começa cedo na China. ;Aqui, com 30 anos, já sou considerada velha para ter filhos;, conta a jornalista Bai Hao, que, por enquanto, também não quer filhos. A revolução comunista pregava que todos são iguais e a ideia de um feminismo chinês seria uma consequência disso, mas ainda há vários costumes e tradições com peso forte nessa sociedade. A política do filho único ajudou a aumentar a exigência de que todos tenham filhos logo, porque, para muitas famílias, o nome pode não ter continuidade. Mas há também uma certa herança machista. As estudantes Qianyi Fei, Luo Wenying, 23, e Zhu Jie, 23, ambas filhas únicas, acreditam que os meninos são privilegiados e mimados. Para elas, isso tem um reflexo, inclusive no desempenho escolar. ;Eles estudam menos porque são mimados;, garante Qianyi.
Mas há outro problema, mais complexo para as estudantes: quando se tem um filho homem, é preciso, ao longo da vida, comprar um apartamento para ele. A posse do imóvel é praticamente uma exigência para o casamento. Nas grandes cidades, muitas jovens estão enfrentando essa tradição e admitindo casar sem o imóvel, mas a pressão familiar é sempre uma realidade. Zhu Jie, 23 anos e mestranda em língua portuguesa, conta que não vai condicionar o próprio casamento à aquisição do imóvel e pode até ajudar na compra. ;Mas é verdade que existe essa exigência;, diz.
Qianyi Fei, Luo Wenying e Zhu Jie escolheram estudar letras na universidade e fazem parte de uma elite crescente com acesso ao ensino universitário. A China está focada na inserção em mercados em desenvolvimento e a quantidade de estudantes dedicados ao português é grande. As três falam o idioma e, para facilitar a interação com os ocidentais, se apresentam com nomes em português, escolhidos durante um sorteio nos primeiros dias de aula. É um costume entre os estudantes de língua na China, especialmente aqueles que lidam com estrangeiros.
Qianyi, Luo e Zhu foram selecionadas pelo Ministério do Comércio da República Popular da China para acompanhar o grupo de 26 jornalistas de língua portuguesa, originários do Brasil, Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique convidados para um seminário focado em aulas sobre a cultura e a história do país e em interação com jornalistas dos veículos oficiais chineses, como o Diário do Povo, a Rádio Internacional da China, a revista China Hoje e a agência de notícias Xinhua.