postado em 23/10/2019 04:30
[FOTO1]Após Dole, a região do Jura oferece vários atrativos inusuais e até pouco conhecidos dos franceses, mas que valem muito conhecer. Como a impressionante construção em semicírculo do século 18 em Arc-et-Senans, a Saline Royale (salineroyale.com), mandada construir por Louis XV para processar o sal recebido de minas próximas. Abandonada no fim do século 19, foi reformada e causa forte impressão por sua monumentalidade. Realiza exposições, festivais, concertos e shows em sua vasta área interna, que é patrimônio mundial da Unesco.
A história do sal na região está presente também na pitoresca Salins-les-Bains, que exibe outro patrimônio da Unesco, La Grande Saline, hoje um museu com uma imensa galeria subterrânea onde é possível ver e admirar o processo de produção do sal em séculos passados através da evaporação em recipientes de 17 metros de comprimento. A pequena cidade é, desde sempre, famosa pelos banhos termais de águas salgadas e tem também um cassino, Le Sensso, para quem deseja arriscar a sorte. Numa pracinha simpática, o Grand Hôtel des Bains (hotel-des-bains.fr) é uma das opções de hospedagem, com bar e restaurante ao lado.
Se o sal é presença constante na memória da região, os embutidos e presuntos têm também sua importância histórica, não só pela qualidade, mas sobretudo pela curiosa presença do tuyé, tipo de cabana em forma de pirâmide onde, no centro, madeiras aromáticas ardem e defumam lentamente os produtos pendurados nas laterais e no alto. Visitamos o mais tradicional deles, Le Tuyé du Papy Gaby (tuye-papygaby.com), em Gilley, com uma cabana de 18 metros de altura repleta de linguiças (a de sabor local mais conceituada e conhecida nacionalmente é a Saucisse de Morteau), presuntos, salames e várias outras tentações do tipo. Pode-se comer lá e, claro, enfiar algumas na mala.
Outros produtos conhecidos da região são o kirsch de Fougerolles, destilado de cereja, e o historicamente famoso absinto, obtido a partir da planta de mesmo nome das montanhas do Jura e fabricado principalmente na cidade de Pontarlier ; interditado em 1915 e só plenamente autorizado em 2011 na França, era chamado de fée verte (fada verde) e dizia-se que provocava a loucura por causa da thuyone, molécula presente na planta tida como alucinógena.
Uma norma atual da União Europeia determina um máximo de 35 mg de thuyone por litro da bebida (os antigos absintos tinham entre 200 e 300 mg). Misturado à água, lembra o pastis. Alguns dos mais famosos no mercado são os das destilarias da família Guy, Pernod e Libertine.
E os vinhos do Jura são um capítulo à parte na França. Chamado de vin jaune (vinho amarelo), é feito com a uva Savagnin através de um curioso processo pelo qual, após o fim da fermentação, é literalmente ;abandonado; em barricas nas antiquíssimas caves da região por um período de 6 anos e 3 meses, sem que o enólogo ou qualquer outra pessoa possam tocar nelas. Isso é lei.
Nesse tempo, desenvolve-se, dentro das barricas, uma fina camada de leveduras acima do líquido, que o protege da oxidação total. E vai ganhando uma incrível complexidade, com aromas e sabores em que se sobressaem a lembrança de nozes e amêndoas. É seco ao extremo, inquietante, em nada parecido com outros vinhos, a não ser o jerez espanhol, primo distante.
Os vinhedos de Château-Chalon produzem os mais reputados, que duram mais de 100 anos na garrafa (há também os vinhos classificados como Arbois, L;Étoile e Côtes du Jura). Outros vinhos comuns, brancos e tintos, espumantes e destilados também são elaborados na região, inclusive o singular Macvin du Jura, tipo de licor de vinho criado no século 14. (JAS/MMA)