postado em 21/11/2019 04:08
[FOTO1]Grand Prix deveria ser a plataforma que lançaria Steve McQueen ao megaestrelato, mas, por outras questões, seu papel foi entregue a James Garner. A familiaridade de SM com a pistas ; corria de motos e carros ; fazia dele uma escolha natural. O sucesso do filme de Frankenheimer o deixou com um travo na boca, que se desfez parcialmente quando protagonizou As 24 horas de Le Mans. McQueen já era, então, o king of the cool, o cara que em 1968 fora Bullitt e promovera pelas ladeiras de São Francisco a histórica perseguição, no volante de um Mustang, ao Dodge Charger (dirigido pelo dublê e amigo pessoal Bill Hickman) dos bandidões.
Le Mans, de 1971, é a história de um americano que, na corrida do ano anterior, se envolvera num grave acidente, e busca sobretudo provar que não causara a morte de outro piloto. Seu grande rival é o alemão da Ferrari, vivido por Sigfried Rauch. O elenco é um desfile de atores de segunda linha, com pouca história de protagonismo, escolhidos a dedo para que McQueen brilhasse sozinho. Aliás, o próprio diretor do filme jamais figurou entre aqueles que têm a filmografia contada em verso e prosa. Ao contrário, tem uma carreira construída, sobretudo, na TV, e deixou que o king of the cool praticamente dirigisse o trabalho.
Mas o filme ganha com uma montagem vibrante, embalado pela batuta de ninguém menos que Michel Legrand ; em Grand Prix, outro compositor formidável assinara a música, Maurice Jarre. As cenas depois da largada, do Porsche 917 de McQueen e da Ferrari 512S Coda Lunga, de Rauch, engolindo a Mulsanne, são épicas. Poucas vezes, se viu, no cinema, uma integração tão bela entre imagem e som, com os cortes seguindo a partitura nota a nota.
É claro que a história tem um novo de grave acidente, e é claro que envolve o personagem de McQueen. As 24 horas de Le Mans é um filme maniqueísta, infantil, de diálogos péssimos ; mas, e daí? É aventura em estado puro. Qual louco por carro nunca sonhou em empurrar o pé no V12 flat do 917, ainda que seja um carro ultradesconfortável, sobretudo para a proposta de endurance? Quem não se arrepia com o V12 Colombo da Ferrari passando na reta? E quem não se emocionaria em ver dois desses modelos de perto? (FG)