Correio Braziliense
postado em 02/04/2020 04:06
Vendas podem cair de 10% a 20% em 2020“Os estoques estão altos e ficará difícil encontrar compradores. As fábricas de veículos continuarão fechadas no mínimo até 30 de abril”
O motorista brasileiro está rodando, com seu veículo, bem menos por causa da crise provocada pela Covid-19 e o consequente distanciamento social. Pelo menos duas referências comprovam isso. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estimou que a queda foi de 50% em relação à primeira semana deste mês de março. A referência parte de indicadores do aplicativo de rotas Waze, amplamente utilizado no País.
Esses dados alinham-se ao do aplicativo de manutenção monitorada em tempo real Vai, da startup brasileira Wings, que faz levantamento do perfil de rodagem a partir de modem e GPS instalados nos carros. A empresa relata impacto de cerca de 50% acarretado, principalmente por uma parcela bem alta de veículos que simplesmente deixou de circular desde o início do mês. A queda só não foi maior em razão de frotistas ainda não terem diminuído o ritmo, em grande parte por prestarem serviços essenciais. A referência é 1º a 27 de março.
Difícil fazer projeções sobre o que acontecerá no mercado de automóveis novos em abril e nos próximos meses. Na primeira quinzena de março as vendas vinham relativamente bem, em torno de 9.000 unidades diárias. Entretanto, ocorreu queda brusca, na segunda quinzena, de aproximadamente 80%. O resultado deve-se, também, às dificuldades de emplacar carros em mercados fundamentais, como os de São Paulo e Rio de Janeiro.
O consultor Francisco Mendes, que acumula grande experiência no setor varejista de veículos novos, conversou comigo sobre cenários de abril até dezembro. Ele disse ter traçado duas hipóteses para 2020, ambas negativas, sobre os números de 2019. Tudo dependerá do tempo da inevitável quarentena para achatar a curva de expansão da doença virótica originada na China, no fim do ano passado.
Se na maior parte do país o isolamento horizontal continuar até 22 de abril, logo após o feriado de Tiradentes, a queda no ano será de até 10% em relação a 2019. Basicamente porque abril será fortemente negativo, refletindo em maio e junho. Os estoques estão altos e ficará difícil encontrar compradores. As fábricas de veículos continuarão fechadas no mínimo até 30 de abril. A produção voltará lentamente, mas não dá para projetar em que ritmo.
O segundo cenário é uma queda de até 20% no ano com consequências ainda mais sérias, inclusive no PIB do país. Mendes afirma que, por dever de ofício, tem de projetar também esta hipótese bastante dolorosa. Neste caso, a maioria das concessionárias estará sem capital de giro no terceiro trimestre.
“Sou economista, mas confesso que a economia muitas vezes não se comporta como ciência exata. Difícil prever o humor dos consumidores. Podem tanto iniciar um processo de otimismo e voltar às compras, quanto manter o pessimismo e adiar o retorno às lojas. Acredito que se o ambiente político em Brasília ajudasse e as reformas econômicas avançassem, seria melhor para todos”, finalizou Mendes.
De fato, há muita incerteza no horizonte. Ocorreu, anteriormente, uma queda no mercado interno de 27%, de 2014 para 2015 e de 20%, de 2015 para 2016. Foram graduais, no entanto. O mergulho brusco assusta muito quando se esperava até 9% de crescimento em 2020.
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