Veículos

Indústria tem maior tombo da história

"Os estoques totais em fábricas e concessionárias passaram de 35 dias para 128 dias (mais de quatro meses) e haverá dificuldade em escoá-los porque deve haver um desbalanceamento do mix de produtos já fabricados"

Correio Braziliense
postado em 14/05/2020 04:07
A situação da indústria automobilística é uma das mais difíceis entre todos os setores da economia brasileira. A paralisação, em abril, de 63 das 65 empresas instaladas aqui (incluindo tratores e máquinas rodoviárias) levou a números incrivelmente baixos: apenas 1.847 veículos leves e pesados produzidos. Um número próximo a fevereiro de 1957 (63 anos atrás) quando o parque produtor mal tinha sido montado e contava apenas com sete fabricantes: Vemag (DKW), FNM, Ford, GM, Mercedes-Benz, Scania e Willys. Havia, ainda, a Romi (Isetta), fora dos números da Anfavea, por não ser filiada.

Enquanto a produção caiu 99%, os emplacamentos de automóveis e comerciais leves (picapes e furgões) novos registraram apenas 55,7 mil unidades ou 77% inferiores a abril de 2019. Os números reais, no entanto, são um pouco melhores em razão das vendas feitas via internet. Como os carros não puderam ser emplacados pelo fechamento de quase todos os Detrans em razão da pandemia de Covid-19, ficaram excluídos das estatísticas, embora possam circular portando apenas a nota fiscal de compra.

Alguns analistas estimam que as vendas reais possam ter sido até 40% maiores ou 70.000 unidades no mês passado. Este fenômeno está acontecendo também em maio. Quando os emplacamentos forem regularizados haverá um crescimento artificial ao computar as vendas represadas.

Os estoques totais em fábricas e concessionárias passaram de 35 dias para 128 dias (mais de quatro meses) e haverá dificuldade em escoá-los porque deve haver um desbalanceamento do mix de produtos já fabricados. Com menos dinheiro no bolso talvez quem comprava as versões de topo, prefira as intermediárias e entre estes alguns talvez optem pelas básicas. 

Nos depressivos anos de 1980, o Monza, um modelo médio, foi por três vezes seguidas o mais vendido no país. A explicação: grande parte dos compradores perdeu poder aquisitivo e se retirou do mercado. Atualmente, com muitas opções de modelos pequenos, inclusive SUVs compactos, os financiamentos e as ofertas, aquele fenômeno não deve se repetir. A procura por seminovos certamente aumentará e versões de entrada atrairiam mais apenas na base da pirâmide de vendas.

A indústria e as concessionárias enfrentam os mesmos problemas de falta de liquidez e prejuízos se acumulam. As concessionárias estão sufocadas e pedem abertura para vendas presenciais com os devidos cuidados de higienização (oficinas estão abertas, com pouca procura). A Anfavea reconhece como necessário o rodízio ampliado na cidade de São Paulo que retira de circulação diária 50% da frota (com algumas exceções). Iniciado no último dia 11, vai até 31 de maio.

Essa decisão da prefeitura da maior cidade do país, que responde por 20% de todas as vendas de carros, apresenta prós e contras. A ideia é estimular a utilização do transporte coletivo, em que existe grande aglomeração de pessoas, mas todas são obrigadas a usar máscaras. São Paulo acumula o maior número de casos e de mortes pela pandemia. A alternativa, segundo a prefeitura, seria o lockdown, isolamento em grau máximo, com consequências ainda maiores nas atividades econômicas.

A Anfavea subiu o tom em relação à crise política que assola o Brasil, relacionando-a à disparada da cotação do dólar frente ao real. Isso vai impactar os preços dos veículos, pois, na média, 40% dos custos são dolarizados e em alguns modelos recentes até mais.
 
 

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