Viva Melhor

Conheça a história da chef que desacelerou a carreira por uma vida melhor

postado em 21/11/2012 11:23
Clichês de uma vida feliz: uma boa casa, família por perto, relacionamento amoroso estável, amigos fiéis, saúde em dia. No outro extremo, um telefone que não para de tocar, relatórios, salário atrasado, prazos a cumprir. Metade do dia no paraíso e, outra metade, no inferno. A conta é muito simples. Se um adulto dorme cerca de 8 horas por dia, as 16 horas restantes são divididas entre o trabalho e o tempo livre. Se 50% desse tempo ativo são permeados de irritação e mal-estar, o desequilíbrio afetará diretamente a qualidade de vida de uma pessoa. Isso considerando a média de 43,1 horas trabalhadas semanalmente por pessoa, de acordo com a pesquisa A contratação, a demissão e a carreira dos executivos brasileiros, realizada pelo Instituto Catho com mais de 46 mil participantes.

Para a pedagoga empresarial e educadora em desenvolvimento humano Bernadette Vilhena, a relação de interdependência entre qualidade de vida e um trabalho satisfatório é clara. ;Da mesma forma que, quando se tem um problema pessoal, o emprego pode ser afetado, um trabalho estressante afeta a vida como um todo. As pessoas passam boa parte da vida fechadas em escritórios, dedicadas a um ofício. Se não estão felizes lá, não estarão bem como um todo;, aponta.

Se por um lado essa qualidade de vida no trabalho depende da competência da empresa em oferecer um ambiente saudável, por outro, a ocupação deve estar alinhada a objetivos e sonhos de cada pessoa. ;Se o estresse é gerado pela escolha, e não pelo ambiente de trabalho, é hora de repensar a profissão, em busca de uma vida melhor. É importante se identificar com o que você faz; do contrário, o trabalho, na empresa x ou y, será um martírio;, alerta.

E não importa a idade nem o grau de êxito alcançado na carreira, que traz insatisfação. É sempre um bom momento para se reinventar. A chef Mara Alcamim, por exemplo, é conhecida em Brasília por comandar o restaurante Universal Dinner e ser uma das chefs mais premiadas da capital. Quando fechou três dos quatro estabelecimentos que possuía simultaneamente ; o Zuu, o Quitinete e uma indústria de alimentos ; o burburinho correu solto pela cidade. Os negócios eram bem frequentados, estavam sempre cheios. Eram 250 funcionários sob seu comando. Mesmo assim, ela fechou quase todos os seus negócios.

;No começo de 2011, eu acordei um dia e vi que minha vida estava simplesmente fugindo do controle. Eu tinha virado um personagem e, quanto mais me aproximava desse personagem, menos fazia o que eu gostava;, analisa. Com a administração de tantos negócios, a paixão pela cozinha se tornou uma massante rotina de resolver problemas. ;Chegava em casa à noite sem energia para fazer nada. 2009 foi o ano em que mais me afastei do fogão. Aí resolvi dar um tempo de tudo. Pensei: E agora? Comovou fazer? Me vi como se estivesse trocando um pneu de um carro em movimento.;

Em três meses Mara fechou dois de seus restaurante e a indústria de alimentos. Procurou um especialista em medicina chinesa, mudou sua alimentação, seu tempo de sono, sua rotina. ;Tudo isso mudou minha forma de ver a vida. Percebi que estava no caminho certo, por mais doloroso que fosse. Tive que ter força de vontade, buscar o lado espiritual, para o qual também não tinha tempo... rezei muito. Eu tirei a vaidade da minha vida, a vaidade de ter um monte de empresas. Resolvi ter outra postura;, relata. Hoje, Mara vive com calma. Cortou o álcool, o glúten, o excesso de açúcar, passou a fazer caminhadas, cursos e aulas de francês. ;Hoje não tenho mais lancha ou carro conversível, mas o número de problemas diminuiu;, comemora.

;Sempre é tempo de tentar. Não importa a história ou a bagagem adquirida. Ser feliz profissionalmente é essencial nessa busca pelo bem-estar e pela harmonia;, completa Bernadette.

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