postado em 02/12/2012 15:14
Para muitos, a juventude é sinônimo de tardes dormindo no sofá, rebeldia, namoros e passeios com amigos. Mas, na prática, boa parte dos adolescentes se desdobra entre a pesada rotina de estudos para o vestibular, a escola, os cursos extracurriculares e a vida social. Em meio a tantas tarefas e pressões ; determinados cursos da Universidade de Brasília chegam a ter concorrência de 90 candidatos por vaga ;, é fácil deixar a qualidade de vida em segundo plano e, antes mesmo dos 20 anos, entrar em um ciclo de estresse, depressão e ansiedade.Para especialistas, o acesso à educação ainda é o item básico para definir a qualidade de vida de crianças e adolescentes, permitindo que elas tenham possibilidades de emprego e de se manter na vida adulta. Ainda assim, uma rotina que envolva cuidados com a saúde e com o bem-estar psicológico ; nisso se inclui a necessidade de tempo para o lazer ; não deve ser ignorada.
Ana Flávia Castro Rodrigues, 17 anos, estuda em um bom colégio, no Lago Sul, e se prepara para participar do vestibular da UnB. Em 15 e 16 de dezembro desse ano, ela fará provas disputando uma vaga no curso de Comunicação Social. De segunda a sexta-feira, se prepara para o exame. Nos fins de semana, se dedica às amigas e a passeios no shopping e idas ao cinema. ;Vivo bem. Diminuí apenas as atividades de lazer. É uma fase passageira. Tenho plena consciência de que devo estudar para alcançar o meu objetivo;, diz a jovem. Mesmo em férias, depois de concluir o terceiro ano do Ensino Médio, mantém a rotina de estudos, de cerca de 10 a 12 horas por dia. As oito horas de sono diárias também lhe parecem essenciais para manter o estresse pré-vestibular sob controle.
Brincar é preciso
Dona Mariaô, 83 anos, e Teo, 11, têm um ponto em comum, apesar dos 72 anos que os separam. Ambos gostam de brincar. E a criança Teodoro Camargo Guimarães, o Teo, exerce seu direito em toda a sua plenitude. Morador da Asa Sul, brinca pouco na rua. Sua diversão se dá entre quatro paredes: quando monta brinquedos de peças como o Lego. Um momento onde a criatividade e a concentração tomam conta de sua mente e acalmam a postura agitada comum às crianças de sua idade. ;Gosto de montar os personagens, construir cenários e planejar ações;, afirma o menino. Ao seu dispor, dois modelos diferentes: uma versão moderna, com peças pequenas e cujo plano de ação é montado no computador, e outra, de peças grandes, mais antigas, com mais de 20 anos. ;Esse pertencia a minha mãe e duas tias. Hoje quem brinca sou eu. Mais tarde será a minha irmã, que tem um ano e dez meses;, conta Teo. Além da brincadeira dentro de casa, ele cultiva outro hábito considerado essencial para a qualidade de vida em todas as idades: amizades.
Teo tem apenas 11, mas coleciona amigos desde os quatro anos, seus companheiros desde os tempos do jardim de infância. E é com eles que outro ponto crucial da qualidade de vida na infância se faz presente em sua vida: as brincadeiras ao ar livre. Antes do início das aulas e do recreio na escola, se divertem com brincadeiras de bicho-pega, futebol e outros jogos típicos de garoto. Para os especialistas, é no equilíbrio entre os tipos de brincadeira (videogames e jogos ao ar livre) e uma rotina de sono e alimentação saudável que mora o bem-estar na infância. Além do amor e da proteção familiar.
Melhor idade plena e feliz
;O cansaço não existe mais;, diz Mariaô Menna Barreto em tom jovial, entre um exercício e outro de musculação. Ela mora com o marido em um apartamento no Sudoeste e todos os dias vai ao comércio local fazer compras para a casa. Às quartas e sextas tem treinos com um personal trainer, com musculação e muitos exercícios aeróbicos. Às terças e às quintas, aulas de hidroginásticas. Dona Mariaô, como é chamada, não trabalha. Um pequeno detalhe desperta a atenção de quem olha para a mulher morena, de cabelos castanhos, ágil, que faz exercícios de equilíbrio e ensaia passos de dança ao se dirigir para a esteira: ela tem 83 anos, 5 filhos, 14 netos e 5 bisnetos. ;Gosto de passear, viajar, visitar os amigos, ir ao salão de beleza, fazer compras. Gosto de viver, de ser feliz;, conta a senhora. Nascida em Icó, no interior do Ceará, Mariaô viveu parte da juventude em Fortaleza, casou-se e mudou-se para Brasília. ;A minha terra é muito bonita, mas gosto daqui, onde criei meus filhos;, afirma.
Para o psicólogo e professor Vicente Faleiros, pessoas como dona Mariaô fazem parte do grupo com uma percepção positiva sobre qualidade de vida. Tem família, amigos, moradia e acesso aos serviços de saúde. Por ser octogenária, vai ao médico para revisões periódicas. Atualmente toma medicamentos para controle da pressão arterial. E segue vivendo a vida. Vaidosa, reclama da sessão de fotos. ;Não quero fazer fotografias. Não estou maquiada;, reclama inicialmente, mas acaba concordando. "Gosto muito de batom;, diz. Para ela, as aulas de musculação e hidroginástica são momentos de prazer e de brincadeiras;.
O adulto e o tempo
O professor Miguel Maiorino, da Faculdade de Administração e Economia da Universidade Metodista de São Paulo, diz que as pessoas na faixa dos 30 aos 50 anos, ao falar sobre qualidade de vida, geralmente se queixam de falta de tempo. Ele explica que as necessidades do mundo atual são muito grandes e a possibilidade de realizações e obrigações, hoje, são maiores que as do passado. O oftalmologista Halmélio Sobral Neto, 52 anos, repensou o que tinha construído e o que deixou para trás até aquele momento e decidiu desacelerar, traçando novos rumos para o futuro. Em 2010, fez uma reengenharia da sua rotina profissional e pessoal. Médico-oficial, pediu aposentadoria do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e continuou atendendo em duas clínicas particulares, mas estabeleceu a meta de ficar apenas com um consultório. Em 2012, alcançou seus objetivos. ;Tenho mais tempo para os meus filhos, para os amigos. Nas tardes de quarta-feira não visto jaleco. Calço as chuteiras e vou jogar futebol;, diz Sobral.