
As duas acostumaram-se à dupla jornada desde o início da adolescência. Em geral, o trabalho não atrapalha a escola e vice-versa. Mas já houve momentos em que elas perderam aulas e provas por conta de viagens para desfilar em outras cidades ou participar de concursos. “Quando isso acontece, pergunto para as amigas o que perdi, vou aos plantões e a escola remarca as avaliações”, conta Ritielly.
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Ritielly prefere deixar a preocupação para o futuro. “Como a trajetória profissional de modelo é curta, tenho a intenção de ir ainda este ano para outro país desfilar e retomar os estudos depois ou estudar a distância,” conta.
Rotina pesada
Gabriel Nobre Fernandes, 16, não costuma perder aulas, mas dedica muito mais horas da semana para trabalhar. “No ano passado, fiz o curso de aprendizagem em serviços hoteleiros do Senac e, agora, fui contratado pelo mesmo hotel em que fui treinado”, conta o jovem aprendiz , que vai começar o 3º ano e trabalha 4h por dia, de segunda a sexta. “No início, achei que ia ser muito difícil, mas aprendi a administrar o tempo. Sei que não posso sair à noite no meio da semana, por exemplo, e que preciso estudar nas horas livres, mas, por isso mesmo, estou mais maduro e responsável que muita gente da minha idade.” O salário de Gabriel, caso ele não passe em uma universidade pública, já tem destino: pagar a faculdade de engenharia civil.
A pedagoga e orientadora vocacional Laura Ribeiro concorda que o trabalho pode trazer responsabilidade e maturidade, mas lembra que a dupla jornada também tem riscos — como a dedicação excessiva a uma tarefa em detrimento de outra (o que pode gerar repetência, evasão escolar, cansaço…). “No caso de crianças, é ainda pior, pois impor responsabilidade prematura pode impedi-las de desfrutar da infância”, argumenta.
Para ela, se este é o caminho escolhido pelo jovem, planejamento é fundamental. “Fazer escolhas nessa idade é difícil e, por isso, o apoio da família e da escola é imprescindível. Profissionais, como coach, também podem ajudar muito na hora de desenhar horizontes a curto, médio e longo prazo.” Apesar da disciplina exigida, Laura acredita que o mais importante é não esquecer da idade que se tem. “Desfrute das experiências que somente esta fase irá proporcionar.”
Pesquisa
Dissertação de mestrado da psicóloga Andréa Aparecida da Luz, da Universidade de São Paulo, mostra: os adolescentes que dividem seu tempo entre a escola e o trabalho podem apresentar queda no desempenho escolar, perda ou ganho excessivo de peso, sonolência e diminuição da capacidade de manter a atenção. Andréa defende que a legislação deve valorizar mais o aprendizado e diminuir a carga horária do ofício. A Lei nº 10.097/2000 prevê que a jornada diária do jovem aprendiz pode ser de até seis horas.
Dupla jornada com qualidade
Confira, abaixo, as dicas de Rosana Aguiar, mestre em psicologia da Universidade Católica de Brasília, para conciliar da melhor maneira o trabalho com os estudos:
- Discutir se este é, realmente, o desejo do adolescente
- Contar com o suporte, tanto emocional quanto estrutural, da família
- Adquirir consciência a respeito das prioridades
- Desenvolver hábitos de estudo
- Redobrar a atenção às aulas, evitando conversas durante explicações, para otimizar o tempo
- Tirar as dúvidas com os professores e poder contar com a ajuda deles
- Manter hábitos de vida saudáveis