A recente investigação sobre a morte de centenas de cavalos em diversos estados do Brasil levantou um alerta sobre os riscos da crotalária para a saúde animal. O tema ganhou destaque em reportagens nacionais e atraiu o olhar de órgãos reguladores, principalmente após a confirmação da presença de substâncias tóxicas dessa planta em rações produzidas por uma fábrica do Centro-Oeste. A situação acendeu o debate sobre a composição de alimentos fornecidos aos animais e os impactos inesperados de elementos aparentemente inofensivos presentes no ciclo agrícola.
A crotalária, por ser utilizada em práticas agrícolas como adubação verde e controle biológico de pragas, é uma planta comum em muitas regiões brasileiras. Entretanto, poucos conhecem os detalhes de seus riscos e de como suas propriedades químicas podem ser perigosas, principalmente se não houver o devido controle durante a produção de insumos usados na pecuária.

O que é a crotalária e por que representa perigo à saúde?
De origem tropical, a planta pertence à família Fabaceae e pode apresentar diversas espécies, entre elas a Crotalaria spectabilis. A planta é conhecida por seu rápido crescimento e capacidade de fixar nitrogênio no solo, sendo plantada frequentemente em rotação de culturas. No entanto, ela contém alcaloides pirrolizidínicos, especialmente a monocrotalina, substâncias tóxicas capazes de causar graves intoxicações em animais e até seres humanos quando ingeridas em determinadas quantidades.
No caso dos cavalos afetados, a ingestão acidental desses compostos por meio da ração contaminada resultou em quadros fatais de intoxicação. Essa substância compromete principalmente o fígado, levando à falência hepática, além de provocar lesões circulatórias e neurológicas. O consumo contínuo, mesmo que em pequenas doses, pode ser suficiente para desencadear sintomas severos em diferentes espécies.
Como o alcaloide pirrolizidínico da crotalária afeta animais?
A toxicidade causada pelos alcaloides presentes na crotalária ocorre porque esses compostos são, em grande parte, metabolizados no fígado. Uma vez processados, transformam-se em produtos altamente reativos que danificam células hepáticas e causam lesões irreversíveis. Os cavalos, por exemplo, apresentam sintomas como apatia, emagrecimento rápido, problemas neurológicos e dificuldades respiratórias após a ingestão de ração contaminada.
- Lesões hepáticas: A principal consequência, levando à insuficiência do órgão.
- Distúrbios circulatórios: Alterações nos vasos sanguíneos e no funcionamento do coração.
- Impactos neurológicos: Tremores e dificuldades motoras são relatadas em quadros mais graves.
Embora ruminantes possam apresentar maior resistência a pequenas doses, devido ao metabolismo diferenciado, equinos, cães, gatos e até seres humanos podem sofrer intoxicação moderada ou grave após exposição a esses alcaloides.
Quais medidas podem evitar contaminação em rações?
O controle de qualidade nas fábricas de ração é fundamental para evitar casos de contaminação como os registrados em 2024 e 2025. Práticas agrícolas seguras e a separação rigorosa de sementes de crotalária durante colheitas minimizam o risco de entrada dessas plantas nas linhas de produção de alimentos para animais.
- Inspeção na origem: Ações de rastreabilidade e análise de matéria-prima devem ser mantidas durante toda a cadeia produtiva.
- Testes laboratoriais: Análises químicas das rações para identificar traços de alcaloides perigosos.
- Educação dos produtores: Treinamentos e orientações sobre práticas de manejo agrícola e identificação de plantas tóxicas nas regiões de cultivo.
Além disso, o monitoramento contínuo dos estoques de matéria-prima e das etapas de processamento se mostra imprescindível em grandes indústrias de nutrição animal, a fim de evitar que casos semelhantes ocorram novamente.

O contato com crotalária pode ser perigoso ao ser humano?
Os riscos envolvidos no contato da crotalária não se restringem aos animais. Quando sementes ou partes contaminadas são acidentalmente misturadas com grãos destinados ao consumo humano, existe a possibilidade de intoxicação alimentar. Embora casos sejam raros, sintomas como dores abdominais, problemas no fígado e alterações neurológicas podem surgir em situações de exposição prolongada ou ingestão de grandes quantidades.
Autoridades sanitárias recomendam atenção especial em regiões onde a crotalária é cultivada para adubação verde, especialmente durante colheitas mecanizadas que podem misturar inadvertidamente partes da planta com culturas comerciais. Assim, a vigilância e conscientização acerca dos riscos químicos dessa leguminosa permanecem como fatores essenciais para a saúde coletiva e animal no país.










