Durante a primavera nos Estados Unidos, uma árvore chama atenção por um espetáculo incomum de cores e formas variadas em seus galhos. Trata-se de uma criação do artista Sam Van Aken apelidada de “árvore Frankenstein” ou “Árvore dos 40 frutos”. Esse exemplar raro produz, em uma única temporada, diferentes espécies de frutas como pêssegos, ameixas, damascos, nectarinas, cerejas e até mesmo amêndoas. A explicação para esse fenômeno está na proximidade genética das variedades utilizadas, todas do gênero Prunus, o que possibilita essa união pouco convencional na natureza.
O desenvolvimento dessa árvore singular não ocorreu por meio de engenharia genética avançada, mas sim por meio de uma técnica milenar chamada enxertia. Van Aken aproveitou o conhecimento ancestral para realizar diversas conexões de galhos frutíferos em um mesmo caule, formando uma espécie de mosaico vivo. A iniciativa atrai a atenção tanto pelo resultado visual quanto pela curiosidade científica sobre a viabilidade desse tipo de experimento botânico.

O que é enxertia e como ela funciona?
A enxertia é um método realizado há milênios que tem como principal objetivo unir partes de diferentes plantas para formar um único organismo funcional. Nesse processo, um fragmento de uma planta, chamado de “enxerto”, é inserido em outra, denominada “porta-enxerto” ou “planta receptora”. Se bem sucedida, as duas partes se fundem e passam a compartilhar vasos condutores e nutrientes, permitindo o desenvolvimento conjunto. A técnica é amplamente utilizada na fruticultura para melhorar características como produtividade, resistência a pragas e adaptação ao solo.
Entre as formas mais comuns de executar a enxertia está a borbulhia, que consiste em retirar uma pequena parcela da casca de uma planta doadora, contendo uma gema, e posicioná-la no tronco ou ramo da planta receptora após realizar um corte adequado para expor o câmbio — a camada responsável pelo crescimento horizontal da planta. O êxito do procedimento depende de fatores como a compatibilidade das espécies, o alinhamento correto dos tecidos e o cuidado durante a recuperação, para que as partes se integrem sem infecções ou rejeição.
Árvore dos 40 frutos: como foi possível criar essa variedade?
A criação da “Árvore dos 40 frutos” só pôde ocorrer porque as frutas escolhidas pertencem ao mesmo gênero botânico, compartilhando similaridade genética e estrutura cromossômica. Essa relação permite uma aceitação maior dos enxertos ao longo do tempo. O artista selecionou um pessegueiro como planta base — um porta-enxerto versátil — e, ao longo de vários anos, realizou enxertos progressivos de diferentes variedades de frutíferas do gênero Prunus. O resultado é uma árvore que, além de surpreender por sua aparência, produz frutos distintos numa mesma época do ano.
O processo, porém, exige paciência e dedicação. No caso de Sam Van Aken, o cultivo levou aproximadamente oito anos até que os primeiros frutos pudessem ser colhidos em quantidade significativa. Réplicas desta árvore podem ser encontradas em locais como a Ilha da Liberdade, em Nova York, atraindo visitantes e especialistas interessados nesse exemplo singular de biodiversidade planejada.

Quais os benefícios e limitações do uso da enxertia?
A utilização da enxertia traz inúmeras vantagens para a agricultura e o paisagismo. Entre eles se destacam:
- Melhora genética: Permite combinar características desejáveis de diferentes plantas, como sabor, resistência e produtividade.
- Aceleração da frutificação: As mudas enxertadas frequentemente produzem frutos em menos tempo do que aquelas plantadas a partir de sementes.
- Recuperação de plantas: É possível salvar árvores danificadas ao enxertar novos galhos saudáveis.
- Produção diversificada: Possibilita o cultivo de múltiplas espécies em um espaço reduzido.
Por outro lado, existem limitações. Nem todas as espécies podem ser enxertadas entre si, pois a compatibilidade genética é essencial. Além disso, o tempo para desenvolvimento é considerável e o sucesso depende de habilidade técnica e boas condições ambientais.
Como impacta a biodiversidade e a pesquisa agrícola?
Experiências como a árvore criada por Sam Van Aken revelam o potencial da enxertia não só para a inovação estética, mas também para experimentações que ampliam o conhecimento botânico. O conceito de unir variedades distintas em uma única planta ajuda pesquisadores a investigar interações entre espécies, resistência a doenças e manejo sustentável de pomares. No futuro, essas técnicas podem inspirar avanços em melhoramento genético, preservação de cultivares raros e produção agrícola eficiente.
A árvore multifrutos, além de seu valor artístico e educativo, demonstra como o domínio de técnicas tradicionais, como a enxertia, pode expandir possibilidades para a agricultura moderna e para o paisagismo. O legado de práticas assim reforça a importância da pesquisa e do intercâmbio de conhecimentos entre gerações.










