No sul da Espanha, entre as cidades de El Ejido e Almeria, uma vasta área coberta por estufas tornou-se um destaque mundial pela produção de alimentos em larga escala. Este fenômeno, conhecido como “Mar de Plástico”, ocupa atualmente cerca de 32 mil hectares. Ele impulsiona a agricultura intensiva em uma das regiões mais áridas do continente europeu. Ademais, a presença marcante deste complexo agrícola pode ser notada até mesmo do espaço. Ela é visível do alto devido à extensão e ao brilho dos plásticos que recobrem as estufas.
Com uma média anual de apenas 54 dias de chuva, a região demonstrou uma impressionante capacidade de adaptação e inovação agrícola. A produção anual ultrapassa quatro milhões de toneladas de alimentos. Ela inclui pimentão, tomate, pepino, melancia e melão, e cerca de 60% de toda essa produção destina-se ao mercado externo, especialmente países da Europa como Alemanha, Reino Unido e França. Assim, ete polo agrícola responde por uma fatia significativa da economia local, movimentando aproximadamente US$ 5,1 bilhões por ano e oferecendo cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos.

Como o “Mar de Plástico” transformou a agricultura em Almeria?
O desenvolvimento do “Mar de Plástico” em Almeria está diretamente ligado a fatores históricos e tecnológicos. Na década de 1950, diante dos desafios ambientais e da escassez hídrica, iniciativas governamentais permitiram avanços com a exploração de aquíferos subterrâneos e importação de tecnologia, como sistemas de bombeamento de água e a adoção de estufas feitas com plástico resistente aos ventos locais. Além disso, o clima ensolarado, combinado à disponibilidade de água subterrânea, criou condições ideais para o cultivo protegido.
A vocação exportadora e a tradição agrícola local já existiam desde o século 19. Porém, foi a inovação no uso de estufas e o emprego do plástico que consolidaram Almeria como referência em agricultura intensiva. Atualmente, mais de 12 mil propriedades agrícolas compõem o cenário do “Mar de Plástico”, sendo que a maior parte da produção utiliza tecnologia de irrigação por gotejamento, reduzindo o consumo de água e viabilizando colheitas contínuas ao longo do ano.
Quais desafios ambientais e sociais o “Mar de Plástico” enfrenta em 2025?
O crescimento acelerado da produção agrícola intensiva na região de Almeria trouxe importantes repercussões ambientais e sociais. A utilização maciça de água proveniente de aquíferos subterrâneos resultou em preocupações com o esgotamento desses recursos hídricos. O aquífero de Níjar, por exemplo, apresenta níveis de exploração superiores à sua capacidade de regeneração há mais de duas décadas. A irrigação eficiente com gotejamento permitiu algum controle, contudo, a demanda continua alta devido ao grande volume de produção.
Outro sério desafio está relacionado ao acúmulo de resíduos plásticos provenientes das estufas. Anualmente, cerca de 30 mil toneladas de plástico são descartadas, causando impactos nos ecossistemas locais, especialmente pelo aumento dos microplásticos nos cursos d’água e ambientes marinhos próximos. Embora haja esforços de reciclagem, parte do material foge ao controle e ainda contribui para a degradação ambiental.
Como as condições de trabalho influenciam a economia local?
O setor agrícola do “Mar de Plástico” também é alvo de debates devido às condições vivenciadas pelos trabalhadores, grande parte migrantes, sobretudo oriundos do Norte da África. Estudos e levantamentos apontam que cerca de 60% da força laboral é composta por estrangeiros, e denúncias frequentes indicam a existência de trabalho informal, salários reduzidos e acesso limitado à moradia digna. Muitos trabalhadores residem em habitações improvisadas, sem infraestrutura básica, próximos às áreas produtivas.
Essa realidade social impacta não só a qualidade de vida dos trabalhadores, mas também a distribuição da riqueza gerada pela atividade agrícola. A cidade de El Ejido exemplifica esse paradoxo ao apresentar, simultaneamente, baixos índices de desemprego e elevados índices de desigualdade de renda. Organizações dos direitos humanos e instituições ambientais defendem melhorias tanto nas condições de trabalho quanto na gestão ambiental como requisitos para garantir uma produção sustentável e socialmente justa.

Quais ações buscam tornar o “Mar de Plástico” mais sustentável?
Diante das pressões ambientais e sociais, produtoras e associações locais têm investido em alternativas visando à sustentabilidade da produção. O uso de fontes diversificadas de água, como dessalinização e captação de águas pluviais, busca amenizar a dependência dos aquíferos subterrâneos. Tecnologias de irrigação mais eficientes e a tentativa de ampliar o reaproveitamento dos plásticos também fazem parte dos esforços para minimizar impactos negativos no ecossistema.
- Implementação de programas de reciclagem dos plásticos
- Promoção de inspeções trabalhistas para melhorar condições de trabalho
- Iniciativas governamentais para construção de moradias acessíveis
- Parcerias com universidades e instituições de pesquisa para monitoramento ambiental
O “Mar de Plástico” representa um caso emblemático de transformação regional a partir de soluções tecnológicas em ambientes adversos, mas os desafios estruturais e ambientais seguem exigindo atenção constante. A região de Almeria segue como importante fornecedor de alimentos para a Europa, enquanto a busca por equilíbrio entre produtividade, justiça social e conservação dos recursos naturais permanece no centro das discussões em 2025.










