Ao longo dos séculos, o jumento firmou sua presença como um animal símbolo do sertão brasileiro, desempenhando papéis essenciais na vida de diversas comunidades rurais. Sua domesticação remonta a aproximadamente 7 mil anos atrás, fruto da estreita relação entre humanos e equinos. No Brasil, os jumentos sempre estiveram ligados a atividades produtivas, principalmente nas pequenas propriedades e regiões de difícil acesso.
No entanto, o início da década de 2020 marcou uma significativa retração no número desses animais no país. De acordo com dados de entidades especializadas, o rebanho de asininos – categoria que inclui os jumentos – apresenta queda acentuada, apontando para um risco real de desaparecimento dessa espécie em território nacional nos próximos anos.
Quais fatores impulsionam a redução do número de jumentos no Brasil?
Entre os principais motivos que agravam a diminuição da população de jumentos está o crescimento da procura internacional pela pele desse animal. O produto, utilizado na fabricação do ejiao – espécie de remédio gelatinoso de tradição chinesa –, impulsionou a exportação e o abate de jumentos em vários países. Conforme relatórios de organizações dedicadas à proteção animal, a demanda global aumentou rapidamente, pressionando os estoques naturais em regiões como o Nordeste brasileiro.
Outro elemento agravante é a ausência de políticas públicas sólidas para a preservação e reprodução dos jumentos no Brasil. Não há fazendas de reprodução especializadas nessa espécie, nem incentivos consistentes à criação sustentável, tornando a atividade de manejo normalmente desregulamentada e pouco atenta ao bem-estar animal. Pesquisas recentes também demonstram altos índices de maus-tratos, abandono e desnutrição, além do transporte inadequado com riscos à saúde pública devido à possibilidade de disseminação de doenças transmissíveis.

O comércio da pele prejudica apenas o jumento ou traz outros impactos?
Especialistas alertam que a pressão sobre os jumentos não se limita ao risco de extinção da espécie. A diminuição abrupta desses animais afeta diretamente pequenos produtores rurais, sobretudo aqueles que dependem do trabalho do jumento em lavouras de cacau, café, feijão ou outras colheitas localizadas em terrenos de difícil acesso para máquinas agrícolas. A ausência desses animais representa uma ameaça à subsistência de famílias inteiras que têm no jumento um apoio fundamental em tarefas cotidianas.
- Função social: O jumento é reconhecido como importante aliado de agricultores familiares.
- Risco sanitário: O transporte desregulamentado pode facilitar a transmissão de zoonoses.
- Bem-estar animal: O modo de abate muitas vezes não respeita condições mínimas de cuidado.
Além disso, a baixa taxa reprodutiva do jumento contribui para o agravamento da situação. A gestação dura cerca de 12 meses e o tempo de maturação para o abate é elevado, o que dificulta a reposição da população em ritmo compatível com a demanda imposta pelo comércio internacional.

Quais são as possíveis soluções para proteger a espécie?
A preocupação quanto ao futuro dos jumentos motivou a realização de workshops e debates entre veterinários, pesquisadores, órgãos públicos e entidades internacionais. Iniciativas para regulamentar o manejo e barrar o abate dos jumentos para exportação têm sido discutidas em diferentes esferas legislativas do Brasil. Projetos de lei tramitam tanto na Câmara dos Deputados quanto em parlamentos estaduais, especialmente na Bahia, buscando restringir o comércio de carne e pele dessa espécie.
No cenário internacional, países africanos como Quênia, Nigéria e Tanzânia adotaram medidas restritivas ao abate, servindo de referência para a formulação de políticas de proteção. Ao lado dessas ações, há um movimento crescente em direção ao desenvolvimento de alternativas tecnológicas, como o colágeno sintetizado em laboratório por meio da fermentação de precisão. Pesquisadores destacam que essas soluções podem suprir o mercado farmacêutico sem colocar em risco populações animais já ameaçadas.
- Adoção de legislações proibindo o abate para fins comerciais.
- Promoção de tecnologias de produção de colágeno sem uso de animais.
- Estímulo à criação sustentável e responsável na zona rural.
- Campanhas de conscientização sobre a importância dos jumentos na cultura e economia do sertão.
Enquanto o debate se intensifica, cresce a mobilização da sociedade civil e de entidades de defesa dos direitos animais para evitar que o jumento, tão presente na paisagem sertaneja brasileira, acabe relegado à memória coletiva. Proteger a espécie exige não apenas a criação de normas, mas também a valorização do papel do jumento na vida de milhares de famílias e no equilíbrio do ecossistema regional.










