Um evento ocorrido recentemente na Paróquia Santos Anjos, no bairro do Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, colocou em discussão questões sensíveis relacionadas à escolha de nomes, liberdade religiosa e respeito à identidade individual durante cerimônias religiosas. Tudo aconteceu durante um batismo, quando familiares notaram que o sacerdote evitava pronunciar o nome da criança, referindo-se a ela apenas como “criança” em diversos momentos do ritual.
Segundo relatos, os pais da menina Yaminah, David Fernandes e Marcelle Turan, seguiram todas as orientações fornecidas pela paróquia, incluindo a apresentação prévia de documentos e participação no curso preparatório exigido. Familiares e amigos presentes se surpreenderam com a postura adotada pelo sacerdote durante a celebração, especialmente quando, em um dos pontos centrais do ritual, o nome da menina não foi pronunciado conforme esperado.
Por que o nome da criança importa em cerimônias religiosas?
A escolha do nome tem profundo significado nas mais diversas tradições culturais e religiosas. Em cerimônias como o batismo, o momento de mencionar o nome da criança costuma ser visto como um dos mais simbólicos, marcando o início formal da participação do indivíduo na comunidade de fé. Para muitas famílias, essa celebração representa não apenas um rito espiritual, mas também uma reafirmação das raízes, da ancestralidade e da história familiar.
Nesse contexto, recusar ou hesitar em utilizar o nome escolhido pode ser interpretado como um gesto de desrespeito à identidade da criança e às escolhas dos responsáveis, potencializando sentimentos de exclusão ou discriminação. Por isso, o caso ocorrido na Zona Sul do Rio de Janeiro reacendeu o debate sobre práticas litúrgicas e os limites do aconselhamento pastoral.
O que diz o Rito Romano do Batismo e as normas da Igreja?
De acordo com a Arquidiocese do Rio, o batismo realizado na Paróquia Santos Anjos foi realizado conforme prevê o Rito Romano do Batismo de Crianças, tradicional documento que orienta celebrações católicas desse tipo no Brasil desde a segunda edição típica em português. Segundo a nota emitida pela instituição, “o nome da criança é mencionado em momento específico da liturgia”. O órgão também esclareceu que sacerdotes podem oferecer orientações quanto à escolha do nome, geralmente recomendando nomes de inspiração cristã, porém essas indicações têm caráter apenas sugestivo.
- O registro do batizado inclui o nome escolhido pelos pais.
- A lembrança entregue à família também contém o nome da criança.
- Não há impedimento formal para a escolha de nomes não tradicionais.
A recomendação do sacerdote sobre utilização de nomes cristãos, como “Maria”, reflete uma prática comum em paróquias de tradição católica. Contudo, essa orientação não pode ser imposta como condição para a realização do sacramento, de acordo com as normas atuais.
Como a situação dos batizados expõe temas mais amplos na sociedade?
A repercussão do caso envolvendo a menina Yaminah trouxe à tona discussões sobre diversidade cultural, direitos fundamentais e o combate à discriminação. Organizações e movimentos voltados à igualdade racial e à valorização das origens têm defendido que a preservação do nome, sobretudo em famílias de descendência africana, significa o reconhecimento da história e da dignidade de cada indivíduo.
Especialistas em direito da criança e do adolescente destacam que o registro civil e o reconhecimento do nome, inclusive em contextos religiosos, fazem parte do direito à identidade. A recusa em utilizar o nome escolhido pode ser entendida como manifestação de preconceito ou descriminação, especialmente quando esse nome carrega elementos de culturas historicamente minorizadas.
- Garantir o respeito à identidade de cada criança é uma obrigação legal.
- Cerimônias religiosas devem promover integração, não exclusão.
- Observação atenta às liturgias pode evitar conflitos.

Quais as consequências desse episódio para a comunidade religiosa?
A Arquidiocese do Rio reafirmou seu compromisso com o acolhimento e o respeito à diversidade, repudiando qualquer forma de discriminação. A instituição ressaltou ainda a necessidade do diálogo aberto entre líderes religiosos, familiares e comunidade, para que situações como a vivida pela família de Yaminah não se repitam e os direitos fundamentais de cada indivíduo sejam sempre preservados.
Assim, o episódio revela a importância de se refletir sobre como as tradições podem ser atualizadas sem perder o sentido original, equilibrando orientações religiosas e valores contemporâneos, como respeito à identidade e à diversidade.










