No cenário contemporâneo, a presença dos celulares invade praticamente todos os espaços da vida diária. Entre reuniões, conversas e até momentos de lazer, eles dividem espaço com as relações pessoais. Surge então um hábito preocupante chamado “phubbing”. O termo deriva das palavras em inglês phone (telefone) e snubbing (desprezar). Esse comportamento consiste em ignorar alguém para se concentrar no celular. Essa conduta chama cada vez mais a atenção de especialistas, pois afeta diretamente o bem-estar e a qualidade dos relacionamentos afetivos.
Nos últimos anos, pesquisadores desvendaram que o phubbing compromete muito mais do que a comunicação diária. Na verdade, ele pode provocar sentimentos de rejeição, reduzir a satisfação conjugal e até aumentar atritos. Durante um jantar a dois, por exemplo, o simples gesto de conferir uma notificação pode mudar o clima. Isso gera desconforto imediato e instala uma sensação de exclusão. Gradualmente, tais momentos minam o vínculo emocional entre os parceiros, tornando a relação mais frágil.
O que o phubbing provoca nos relacionamentos?
Embora algumas pessoas o considerem um hábito inofensivo, o phubbing pode desencadear reações emocionais profundas. Pesquisas recentes com casais indicam que, em dias marcados por episódios de phubbing, as pessoas se sentem menos satisfeitas com a relação. Além disso, o humor cai, surgem sentimentos de raiva ou frustração e o clima do casal piora. Se o phubbing ocorre de forma constante, acaba se tornando um padrão prejudicial no convívio do casal.
Neste contexto, a teoria da equidade auxilia na compreensão do fenômeno. Relacionamentos saudáveis se baseiam em trocas de atenção e interesse mútuo. No entanto, quando um parceiro foca exageradamente no próprio dispositivo, isso comunica um investimento desigual. Consequentemente, o outro se sente em segundo plano. A longo prazo, essa dinâmica fomenta o surgimento de ressentimento e distanciamento afetivo.

Por que algumas pessoas sofrem mais?
Nem todos reagem igualmente ao fato de serem ignorados em função do celular. Pesquisas apontam que fatores como o tipo de apego influenciam diretamente na intensidade das reações. Indivíduos com ansiedade de apego, por exemplo, sentem medo do abandono e buscam segurança constante. Essas pessoas costumam vivenciar o phubbing com muita intensidade. Para elas, o ato adquire o peso de uma rejeição pessoal, o que provoca queda da autoestima, tristeza e até comportamentos de retaliação, como ignorar de volta.
Pessoas com apego evitante, porém, costumam minimizar a insatisfação gerada pelo phubbing. Entretanto, mesmo esses indivíduos por vezes respondem ao incômodo usando o próprio celular, buscando validação em outros espaços digitais. Além disso, o traço de narcisismo também pesa nesse processo. Pessoas com rivalidade narcisista — geralmente marcadas pela busca de status e reconhecimento — reagem mais intensamente quando deixam de ser centro das atenções. Já aquelas com o perfil de admiração narcisista tendem a confrontar de forma mais direta quando percebem que foram preteridas em favor do celular.
Como lidar quando há phubbing no relacionamento?
Enfrentar o phubbing exige estratégias que incentivem o diálogo e a definição de limites claros no uso dos aparelhos eletrônicos. Algumas práticas práticas incluem:
- Definir zonas livres de celular: Durante refeições ou antes de dormir, evite o uso de celulares. Reserve esses momentos para a convivência sem interrupções tecnológicas.
- Explicar a necessidade de uso: Caso o uso seja inevitável, comunique o motivo ao parceiro. Retorne rapidamente à interação para evitar desconfortos.
- Reconhecer os próprios gatilhos: Reflita sobre o motivo pelo qual o celular do parceiro incomoda. Essa compreensão ajuda a evitar reações impulsivas.
- Buscar estratégias conjuntas: Converse abertamente sobre as necessidades de cada um. Defina juntos limites saudáveis para o uso da tecnologia e fortaleça o compromisso afetivo.
Frequentemente, a resposta mais comum ao phubbing é a retaliação. Ou seja, o parceiro ignora e pega também o celular. Esse ciclo prejudicial afasta ainda mais o casal. Como resultado, a interação cai para um nível superficial e distante, o que compromete o vínculo emocional diariamente.

Pode ser evitado?
Mesmo que a presença dos smartphones pareça inevitável, pequenas escolhas reduzem o impacto negativo do phubbing. Atos simples, como manter contato visual ou guardar o celular durante uma conversa, fortalecem os laços emocionais. Além disso, conversar sobre o efeito do phubbing previne ressentimentos. Dessa forma, os parceiros promovem um ambiente de respeito mútuo e cuidam melhor do relacionamento.
No cenário atual, reconhecer o impacto do phubbing ajuda a preservar relações de qualidade. Valorize a presença do outro e reduza as distrações tecnológicas. Assim, você constrói uma convivência baseada na reciprocidade, respeito e conexão genuína. Em um mundo onde o celular parece uma extensão do corpo, escolha estar presente. Faça desse gesto diário uma forma de cuidar do seu relacionamento e de investir nos laços que realmente importam.










