Discutida recentemente devido ao diagnóstico do cantor Robbie Williams, a síndrome de Tourette está em evidência tanto no cenário artístico quanto na medicina. Esse transtorno do neurodesenvolvimento tem início geralmente na infância e afeta cerca de 1% das crianças em idade escolar no Brasil e no mundo. A condição chama a atenção por apresentar combinações de tiques motores e vocais, como piscar repetidamente, emitir sons involuntários ou até limpar a garganta frequentemente.
Aumento da visibilidade de Tourette entre celebridades, como Robbie Williams, desperta interesse sobre sintomas, tratamentos e impacto social. A doença, nomeada em homenagem ao médico francês Georges Gilles de la Tourette, ganhou espaço na mídia porque, apesar de não ser rara, ainda sofre estigma. Outro exemplo marcante é o do goleiro Tim Howard, considerado referência no futebol internacional e também diagnosticado com a síndrome.

O que caracteriza a síndrome de Tourette?
Síndrome de Tourette se manifesta por tiques motores e vocais que surgem antes dos 18 anos, geralmente entre os cinco e os sete anos de idade. Os tiques aparecem de forma súbita e intermitente, podendo variar em intensidade e frequência ao longo do tempo. Movimentos involuntários como piscar, fazer caretas, balançar os ombros e emitir sons sem intenção própria são sintomas típicos.
Um aspecto importante é a chamada “urgência premonitória”, uma sensação desagradável nos músculos antes da execução do tique. Crianças e adultos relatam que conseguem suprimir os tiques por períodos curtos, mas isso gera desconforto e exaustão. Frequentemente, ocorre piora dos tiques em situações de estresse, ansiedade ou cansaço, enquanto em momentos de concentração eles tendem a diminuir.
No passado, muitos associavam erroneamente o transtorno à coprolalia – emissão de palavras impróprias –, mas esse sintoma só está presente em uma minoria dos pacientes. Assim, a maioria das pessoas com Tourette apresenta manifestações leves e tem vidas social e profissionalmente ativas, especialmente quando conta com suporte social e compreensão familiar.

Quais são as causas e como ocorre o diagnóstico?
Apesar dos avanços na compreensão da síndrome de Tourette, as causas exatas permanecem desconhecidas. Estudos sugerem uma combinação de fatores genéticos e ambientais, com histórico familiar positivo em muitos casos. Além disso, situações pré-natais, como complicações durante a gestação ou nascimento prematuro, aumentam o risco.
O diagnóstico depende principalmente da análise clínica, já que não existe um exame laboratorial específico. Profissionais de saúde avaliam o histórico do paciente e a presença de tiques motores e vocais por pelo menos um ano, descartando outras doenças que provoquem sintomas semelhantes. Muitos pacientes, principalmente adultos, não procuram atendimento devido à natureza branda dos sintomas ou à falta de informação.
- Critérios para diagnóstico incluem:
- Múltiplos tiques motores e pelo menos um vocal
- Início antes dos 18 anos
- Sintomas persistentes por mais de um ano
- Ausência de explicação por outras condições médicas ou uso de substâncias
Síndrome de Tourette: existe tratamento eficaz?
Apesar de não ter cura, a síndrome pode ser controlada em grande parte dos casos. A abordagem inicial envolve educação familiar e intervenções psicológicas, como o treinamento de reversão de hábito, que ajuda o paciente a identificar e modificar padrões de comportamento associados aos tiques. Suporte escolar e orientação à comunidade escolar também são estratégias recomendadas.
Medicamentos costumam ser reservados para casos mais graves, quando os tiques interferem nas atividades do dia a dia. Antipsicóticos, como risperidona e aripiprazol, e agentes alfa-adrenérgicos são opções para controle dos sintomas, sempre com orientação médica. Em situações de maior complexidade, tratamentos experimentais como a estimulação cerebral profunda surgem como alternativa, especialmente em adultos com sintomas persistentes.
- Primeiro passo: esclarecimento e orientação para paciente e familiares
- Segundo passo: terapias comportamentais (habit reversal e relaxamento)
- Terceiro passo: medicações apenas quando estritamente necessário
Quais são os principais desafios sociais enfrentados?
Pessoas diagnosticadas com Tourette frequentemente enfrentam dificuldades de aceitação no ambiente escolar, profissional ou social. Bullying, falta de informação e estigmatização ainda trazem prejuízo significativo à qualidade de vida, ressaltando a importância da conscientização. Muitos conseguem viver sem grandes limitações, mas episódios de preconceito podem afetar autoestima e bem-estar emocional.
Robbie Williams, ao compartilhar seu diagnóstico, ajudou a trazer à tona debates sobre neurodiversidade e respeito às diferenças. Assim como ele, outras figuras conhecidas, entre elas o escritor Samuel Johnson, também teriam apresentado sinais da síndrome ao longo da história. A educação, o reconhecimento precoce e o suporte coletivo permanecem ferramentas essenciais para garantir que portadores da doença tenham oportunidades iguais e possam exercer plenamente seus talentos.








